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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) receberá, nesta quinta (23), uma delegação de autoridades e empresários suecos que irá discutir, entre outros temas, o negócio casado de aviões militares entre os dois países.
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O plano costurado ao longo de meses de conversas entre a FAB (Força Aérea Brasileira), a Embraer e a Saab prevê que o país nórdico compre até quatro unidades do avião de transporte KC-390, produzido pela brasileira, enquanto Brasília faz um aditivo à sua encomenda já em curso do caça Gripen, da sueca.
Não é tão simples como parece, claro, e não se trata de uma troca em valores nominais. O aditivo ao contrato assinado em 2014 pelo Brasil coma Saab, garantido por um financiamento do governo sueco, permite até 25% a mais num segundo lote de caças sob as mesmas regras de aquisição.
Isso daria hoje algo em torno de R$ 4,5 bilhões a mais na compra de R$ 18 bilhões, adicionando segundo os negociadores 14 aviões à frota de 36 já acertada, conforme a Folha de S.Paulo revelou em setembro. Não é dinheiro a ser desembolsado de uma vez agora, mas o custo político do anúncio é evidente em tempos de debate sobre austeridade fiscal.
Já a venda do KC-390, avião que vem ganhando aos poucos mercado na Europa, tendo sido vendido já para cinco países do continente, onde mira rivalizar o espaço do antigo C-130 Hércules como modelo padrão da Otan [aliança militar ocidental].
Os valores variam de negócio a negócio, mas a Holanda previu um desembolso mínimo de R$ 5,3 bilhões na sua encomenda de cinco aviões. Já a Hungria pagou o equivalente a R$ 1,5 bilhão por duas unidades.
O caso poderia ter sido fechado no mês passado, quando o ministro José Múcio (Defesa) e o comandante da FAB, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, embarcaram para reuniões em Estocolmo. Só que era o dia 7 de outubro, e as notícias do massacre do Hamas e do início da nova guerra em Israel fizeram a dupla dar meia-volta no ar, para cuidar da repatriação dos brasileiros na área de conflito.
Houve uma videoconferência posterior, mas os avanços não configuraram um batimento de martelo. Isso também não deverá ocorrer com Lula, e envolvidos dos dois lados acreditam que a decisão final fique para o ano que vem. Em favor dela, há o fato de que Saab e Embraer já têm um acordo para facilitar a entrada do KC-390 no mercado europeu.
Alguns otimistas lembram, contudo, que Lula já tomou decisões intempestivas antes na área. Então presidente em segundo mandato, anunciou a compra de caças de seu colega francês, Nicolas Sarkozy, após um jantar em Brasília em 2009.
O episódio, contudo, é lembrado também pelo pitoresco, já que a decisão foi redigida às pressas na madrugada, após o descontraído encontro regado a caipirinha. A FAB já tinha o Gripen como seu favorito na então competição FX-2, que envolvia o Rafale francês e o F/A-18 americano.
O Brasil de fato havia fechado um mega-acordo militar com Paris, mas focado em submarinos e helicópteros. Sarkozy tentou contrabandear os aviões na última hora, prometendo baixar seu preço e acesso irrestrito à sua tecnologia. Convenceu Lula, mas acabou podado por uma irada Aeronáutica depois.
O Gripen viria a ser escolhido em 2013 por Dilma Rousseff (PT), que preferia fechar negócio com os EUA mas acabara de ser espionada no escândalo da Agência de Segurança Nacional americana.
O encontro desta quinta será mais formal, no Palácio do Planalto. Devem participar dele o presidente da Saab, Micael Johansson, e o mais importante executivo da Suécia, Marcus Wallenberg, que dirige o grupo Investor AB, controlador ou participante de quase todas as grandes empresas do país –inclusive a fabricante do Gripen.
Também deverão estar presentes o ministro da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e Comércio Exterior da Suécia, Johan Forssell, e outras autoridades. Eles participam nesta quarta (22) de um fórum empresarial em São Paulo, rumando depois a Brasília.