STF agrada a Lula e se firma como ator político após ascensão no mensalão

Os ministros entendem as relações que constroem com o Executivo e o Legislativos como importantes para a atuação da corte

© Shutterstock

Política LULA-STF 28/12/23 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - O clima entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era de festa. A oposição ao governo Lula (PT) no Senado se aproximava pela primeira vez da imposição de um revés ao STF (Supremo Tribunal Federal), tribunal que se tornara o principal algoz do bolsonarismo nos últimos anos.

PUB

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no entanto, decidiu adiar a votação.

A oposição pouco protestou. Os defensores da proposta haviam identificado um fato novo, e o otimismo deu lugar à preocupação. Os ministros do Supremo tinham entrado em campo. Ligaram e mandaram mensagens para diversos senadores. Os recados velados foram muitos.

Os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, que têm bom trânsito entre os parlamentares, avisavam que a aprovação de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que proibia decisões individuais na corte contra atos do presidente da República e de chefes do Congresso tinha potencial para mudar o humor do STF com o Senado.

No dia seguinte, 22 de novembro deste ano, porém, Pacheco e bolsonaristas recontaram os votos e decidiram enfrentar o Supremo. Por três votos além dos 49 necessários e graças a uma articulação com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), a matéria foi aprovada.

A derrota -e a reação- do STF deixaram clara a atuação cada vez mais política da corte, que, em tese, deveria apenas dar a palavra final sobre a interpretação dos dispositivos da Constituição.

A movimentação com viés político do Supremo já havia sido explicitada por Gilmar Mendes, o mais antigo membro da corte, no mês anterior. "Se hoje nós temos a eleição do presidente Lula, isso se deveu a uma decisão do Supremo Tribunal Federal", afirmou em entrevista a jornalistas.

Ele se referia ao revés que o STF deu à Operação Lava Jato em 2021, quando anulou as sentenças e devolveu os direitos eleitorais do petista.

À época da reabilitação de Lula, Bolsonaro avançava com ataques contra o tribunal e seus ministros. A decisão do Supremo abriu o caminho para que Lula disputasse a eleição em 2022.

Em junho deste ano, após a derrota de Bolsonaro para Lula, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), comandado por Moraes, declarou o ex-presidente inelegível por oito anos.

Pouco antes de se tornar presidente da corte, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou "nós derrotamos o bolsonarismo" em um evento da UNE (União Nacional dos Estudantes). Mais tarde, disse que lamentava a fala e que se referia ao extremismo, e não a eleitores de Bolsonaro.

Foi este cenário que originou o sentimento de traição e a revolta do Supremo diante do voto de Jaques Wagner a favor da PEC no Senado. Os ministros se irritaram com a omissão do Palácio do Planalto no debate sobre o tema, que facilitou a aprovação da proposta, e cobraram Lula.

O próprio Wagner admitiu em entrevista à imprensa que recebeu um telefonema de Gilmar. "Recebi só uma ligação do ministro Gilmar. Óbvio que ele não estava satisfeito", disse.

Após o voto de Wagner, o presidente Lula decidiu indicar para a PGR (Procuradoria-Geral da República) Paulo Gonet, o que foi visto como um movimento para agradar os ministros insatisfeitos.

Gonet é ex-sócio de Gilmar em uma universidade, e foi apadrinhado na indicação para a PGR tanto pelo decano do STF quanto por Alexandre de Moraes.

Mas outras decisões do Supremo também explicitaram o caráter político da corte e a tentativa de aproximação com o governo federal.

Com as polêmicas deste ano, a reprovação do Supremo subiu de 31%, em dezembro de 2022, para 38%, segundo pesquisa Datafolha feita no início deste mês, enquanto a aprovação caiu de 31% para 27% no mesmo intervalo de um ano.

Ao comentar a pesquisa, em evento no STF, Barroso disse que surpreendente seria se a corte fosse aprovada por todos, porque decide "as questões mais decisivas da sociedade brasileira" e está sempre desagradando a alguém.

O STF, porém, fez uma série de acenos para agradar ao governo neste ano.

Em setembro, ao anular provas oriundas dos acordos de leniência da Odebrecht, o ministro Dias Toffoli fez acenos a Lula, com quem havia se desgastado nos últimos anos, e disse que a prisão do petista foi uma armação e o "verdadeiro ovo da serpente dos ataques à democracia".

Ele tentava se reaproximar do atual presidente da República. Toffoli foi indicado ao Supremo por Lula em 2009, quando era advogado-geral da União, e sempre foi um nome de confiança do PT.

Nos últimos anos, porém, manteve uma relação próxima com o ex-presidente Jair Bolsonaro e a base bolsonarista. Chegou a classificar o golpe militar de 1964 como um "movimento".

O principal desgaste de Toffoli com Lula, porém, aconteceu quando ele impediu que o petista fosse ao velório do irmão enquanto estava preso em Curitiba.

Os ministros também fizeram movimentos para facilitar, no primeiro semestre, a indicação de Cristiano Zanin, que foi advogado de Lula na Lava Jato, ao assento que ficou vago com a aposentadoria de Ricardo Lewandowski.

Assim que Lewandowski se aposentou, Dias Toffoli pediu para mudar da Primeira para a Segunda Turma da corte, retirando os casos da Lava Jato da rota do indicado do petista e evitando constrangimentos, uma vez que Zanin é um crítico declarado da operação.

O ministro Edson Fachin também agiu para criar um ambiente favorável à indicação de Zanin e evitar constrangimentos com a sua escolha. Ele fez isso ao enviar para Toffoli um recurso de Lula contra a Lava Jato.

A relação de ministros com parlamentares e presidentes não chega a ser uma novidade. O Supremo sempre teve integrantes, em maior ou menor grau, próximos do mundo político.

Mas o protagonismo do tribunal na política começou a ganhar corpo a partir do julgamento do mensalão, em 2012, e se consolidou.

Os ministros entendem as relações que constroem com o Executivo e o Legislativos como importantes para a atuação da corte. O próprio Barroso já disse em discurso após assumir a presidência que o tribunal vive um momento de "ascensão política e institucional".

Leia Também: Lula sanciona com vetos lei que agiliza registro de agrotóxicos no Brasil

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

esporte França Há 22 Horas

Acusado de estupro, Mbappé assume relação sexual consentida na Suécia

fama Óbito Há 15 Horas

Revelados 'novos' detalhes sobre a 'causa' da morte de Liam Payne

fama Liam Payne Há 23 Horas

'Liam disse que iria morrer em breve', revela ex-noiva sobre Liam Payne

mundo Reino Unido Há 19 Horas

Descoberta rara: Homem viveu com três pênis sem nunca saber

mundo França Há 15 Horas

Corpo de jovem que estava desaparecida há um ano é encontrado na França

fama Liam Payne 17/10/24

Fãs prestam homenagens a Liam Payne após sua morte em Buenos Aires

fama Demi Lovato Há 22 Horas

Demi Lovato lamenta a morte do ex-namorado, lutador Guilherme 'Bomba'

mundo Austrália Há 23 Horas

Bolas pretas surgem em praias de Sydney e intrigam moradores e turistas

fama Liam Payne Há 18 Horas

Família de Liam Payne quebra silêncio após morte do cantor

brasil São Paulo Há 22 Horas

Jovem pula de carro em movimento após ataque de motorista de aplicativo