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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro, o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL-RJ) afirma que operação da Polícia Federal desta quinta-feira (25) que mirou Alexandre Ramagem, ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), expõe o que chama de "puro suco do bolsonarismo".
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Ramagem, que é deputado federal e também pré-candidato no pleito carioca, chefiou a agência no período em que o software espião FirstMile teria sido usado para a realização de monitoramentos ilegais. Como mostrou a Folha, ele ainda é acusado de ter se corrompido para evitar que o uso irregular viesse à tona.
"Esse tipo de situação é a cara do bolsonarismo, e o Ramagem vai se mostrando, de acordo com o que foi revelado até aqui, um personagem completamente coerente com essa lógica do uso do Estado para fins políticos", afirma Tarcísio Motta.
"Há sempre uma coisa paralela. É a 'Abin paralela', o gabinete do ódio, a falsificação do cartão de vacina. Tudo isso misturado é o puro suco do bolsonarismo, e a democracia brasileira precisa derrotá-lo. Não se trata de diferença ideológica ou política: é uma prática criminosa de perseguição a opositores", segue.
Procurado pela Folha, Ramagem afirmou, por meio de sua assessoria, que "representou na Polícia Federal" para obter informações sobre as questões abordadas em seu caso.
Tarcísio diz não ver novidade no fato de um bolsonarista cotado a candidato se ver envolvido em investigações, mas defende que, se a candidatura de Ramagem se confirmar, ela deve ser combatida pelos eleitores cariocas.
"Temos que evitar que a Prefeitura do Rio seja usada como máquina dessa lógica que os bolsonaristas representam. Isso não pode chegar à prefeitura", afirma ele, ao falar do possível oponente.
O parlamentar ainda critica outro possível rival, o prefeito do Rio e pré-candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD), dizendo desacreditar que o pessedista possa se manifestar de forma contundente sobre as suspeitas em torno de Ramagem.
"O Eduardo Paes, com seu oportunismo político, fica tentando o tempo inteiro não tomar posição para ganhar votos de todos os lados. Ele pode até tecer um comentário ou outro, mas, para tentar atrair o eleitor do [ex-presidente Jair] Bolsonaro, que pode ficar órfão com mais uma candidatura naufragando, tende a não tomar posição", afirma.
A PF investiga se a Abin sob Bolsonaro utilizou o software espião FirstMile e produziu relatórios sobre ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e políticos adversários do ex-presidente da República.
Entre alvos estariam ministros da mais alta corte do país como Gilmar Mendes e políticos como o atual chefe da Educação Camilo Santana (PT), então governador do Ceará.
As autoridades teriam sido alvos de uma estrutura paralela dentro da Abin, integrada por policiais federais e oficiais de inteligência próximos a Ramagem.