© Valter Campanato / Agência Brasil
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelerou a 0,31% em janeiro, após marcar 0,40% em dezembro. É o que apontam dados divulgados nesta sexta-feira (26) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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O novo resultado surpreendeu analistas do mercado financeiro, uma vez que ficou bem abaixo da mediana das projeções. Segundo a agência Reuters, a estimativa de economistas era de alta de 0,47% no primeiro mês de 2024.
A taxa de 0,31% é a menor para janeiro em cinco anos -ou seja, desde 2019, período pré-pandemia. À época, a variação havia sido de 0,30%.
Conforme o IBGE, o IPCA-15 também desacelerou no acumulado de 12 meses. Nesse recorte, a alta dos preços atingiu 4,47% até janeiro, após avanço de 4,72% até dezembro.
RESULTADO VAZA ANTES DO HORÁRIO OFICIAL
A divulgação desta sexta ficou marcada por um vazamento de dados no Sidra, o sistema eletrônico de estatísticas do IBGE. A publicação do IPCA-15 foi antecipada em uma hora no endereço. O índice vazou às 8h, antes do horário oficial das 9h.
O IBGE afirmou que um problema técnico adiantou a divulgação. O órgão também disse que está verificando o ocorrido para tomar as devidas providências. O episódio foi percebido por economistas do mercado financeiro que acompanham dados de inflação.
ALIMENTOS ACELERAM, TRANSPORTES RECUAM
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 7 registraram alta de preços no IPCA-15 de janeiro. A principal pressão para cima veio de alimentação e bebidas.
A inflação do grupo acelerou de 0,54% em dezembro para 1,53% neste mês. O segmento teve o maior impacto no índice de janeiro (0,32 ponto percentual).
Os preços do grupo dos transportes, por outro lado, caíram 1,13%, após alta de 0,77% em dezembro. Com o resultado, o segmento contribuiu para frear o IPCA-15. O grupo teve impacto de -0,24 ponto percentual no cálculo de janeiro.Dentro dos transportes, os preços da passagem aérea registraram queda de 15,24%. A redução veio após alta de 9,02% em dezembro. Individualmente, o bilhete de avião exerceu o maior impacto para baixo no IPCA-15 (-0,16 ponto percentual).
Segundo a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, a passagem foi a principal explicação para o índice ter vindo abaixo do previsto. O banco esperava uma redução bem menos intensa nos preços desse subitem (-2%).
Outra queda dentro dos transportes foi verificada nos combustíveis (-0,63%). Houve recuos nos preços do etanol (-2,23%), do óleo diesel (-1,72%) e da gasolina (-0,43%). O gás veicular, por outro lado, teve alta (2,34%).
No grupo alimentação e bebidas, a alimentação no domicílio subiu 2,04% em janeiro. A alta desse subgrupo ficou acima da registrada em dezembro (0,55%).
Segundo o IBGE, os preços dos alimentos consumidos em casa foram pressionados no início de 2024 pela carestia da batata-inglesa (25,95%), do tomate (11,19%), do arroz (5,85%), das frutas (5,45%) e das carnes (0,94%). Já a alimentação fora do domicílio (0,24%) desacelerou em relação a dezembro (0,53%).
Tradicionalmente, a inflação da comida costuma ganhar força neste período devido a condições climáticas desfavoráveis para a agropecuária. Nos últimos meses, o Brasil atravessou episódios extremos como ondas de calor no Sudeste, seca no Norte e tempestades no Sul.
O país vive os reflexos do El Niño, conhecido por afetar a distribuição das chuvas. De acordo com analistas, esse evento tende a pressionar os preços dos alimentos em 2024, após a trégua registrada pelos produtos em 2023.
O economista André Perfeito disse que, apesar da "surpresa benigna" do IPCA-15 abaixo das projeções em janeiro, o resultado traz "certo cuidado". Segundo ele, as quedas dos transportes tendem a ser limitadas pela defasagem da gasolina em relação a cotações internacionais.
Além disso, a carestia dos alimentos pode "refrear" a sensação de inflação mais baixa, apontou Perfeito. A alta dos preços da comida impacta sobretudo os mais pobres. As famílias com renda menor costumam destinar uma fatia maior do orçamento, em termos proporcionais, para a compra dos produtos.
IPCA-15 E IPCA
Por ser divulgado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para os preços no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), também calculado pelo IBGE.
O IPCA é o índice oficial de inflação do Brasil. Serve como referência para o regime de metas do BC (Banco Central).
A coleta dos preços do IPCA-15 ocorre entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação. Neste caso, dezembro e janeiro, respectivamente.
Já a coleta do IPCA se concentra somente no mês de referência do levantamento. Por isso, o resultado de janeiro ainda não está fechado. Será divulgado pelo IBGE no dia 8 de fevereiro.
JUROS E METAS DE INFLAÇÃO
O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) volta a se reunir na próxima semana para definir o patamar da taxa básica de juros (Selic), o instrumento de controle da inflação no país.
O encontro está agendado para terça (30) e quarta (31). Será o primeiro do colegiado em 2024.
Com a trégua da inflação em 2023, o Copom iniciou o ciclo de cortes da Selic em agosto. Desde então, confirmou quatro reduções consecutivas de 0,5 ponto percentual na taxa de juros, que fechou o ano passado em 11,75% ao ano.
O comitê já sinalizou cortes na mesma intensidade em suas próximas reuniões, algo que segue no radar de analistas do mercado.
"O IPCA-15 não deve alterar o plano de voo anunciado pelo Copom, que deve decidir por mais dois cortes de 0,50 ponto na Selic, um na reunião da próxima semana e outro na de março", afirmou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank. O banco prevê que a taxa básica de juros será de 9,25% ao final de 2024.
O centro da meta de inflação perseguida pelo BC é de 3% para o acumulado deste ano. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% a 4,5%.
Na mediana, projeções do mercado apontam que o índice oficial fechará 2024 em 3,86%, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda (22). A previsão está abaixo do teto da meta (4,5%).