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(FOLHAPRESS) - Integrantes do PSB mais alinhados a Arthur Lira (PP-AL) e sua tropa de choque se lançaram numa cruzada para que o partido volte atrás na decisão de abandonar o bloco do presidente da Câmara dos Deputados. A decisão do PSB foi vista pelo líder do centrão e seus correligionários como um ataque patrocinado pelo governo Lula (PT).
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Em conversas com parlamentares, Lira e aliados sinalizaram que haverá retaliação caso a sigla mantenha a decisão de deixar o bloco.
De acordo com relatos, o presidente da Câmara disse a integrantes do PSB que eles estavam sendo usados pelo governo para tentar enfraquecê-lo e que o problema de ações políticas como essa é "o dia seguinte".
Esta quarta-feira (7) será marcada por reuniões para definição do futuro do partido. Pela manhã, dirigentes do partido se reunirão com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR). A deputada pediu que o PSB não tomasse nenhuma decisão sem antes ouvi-la.
Gleisi tenta reativar a articulação para que a legenda integre a federação Brasil da Esperança (que reúne PV e PC do B), hoje com 81 deputados. O ingresso do PSB faria com que o bloco chegasse a 95 deputados, apenas uma cadeira a menos que a bancada do PL. À tarde, haverá uma reunião dos integrantes da agremiação na Câmara.
Dirigentes do partido apostam, porém, na possibilidade de composição com MDB, PSD, Republicanos e Podemos, o segundo maior bloco da Casa. Na semana passada, após informar a intenção de deixar o grupo de Lira, pessebistas se reuniram com o líder do PSD, Antonio Brito, sem que a conversa fosse conclusiva.
Desde então, aliados do presidente da Câmara intensificaram a pressão para que o PSB reveja sua decisão. Fizeram chegar a parlamentares da legenda que achavam o desligamento do grupo um passo equivocado.
Eles afirmaram que, por integrar o bloco, a legenda teve o comando de comissões relevantes (como a de Indústria, Comércio e Serviços, uma das principais da Câmara) e relatorias de projetos considerados importantes -e que, se dependesse só do tamanho de sua bancada, não teriam normalmente.
Outro exemplo citado por aliados de Lira foi o apoio do centrão, em detrimento de uma medida provisória do governo, para a aprovação do projeto da deputada Tabata Amaral (PSB-SP) que cria um programa de incentivo financeiro para a permanência de estudantes de baixa renda no ensino médio. A parlamentar é pré-candidata à Prefeitura de São Paulo.
Como argumento, os parlamentares ligados a Lira também dizem que há uma rotatividade do cargo de líder para contemplar todos os partidos e o PSB foi o primeiro a ocupar o posto (com o deputado Felipe Carreras, de Pernambuco). O gesto é, portanto, visto como uma quebra de acordo.
Nas palavras de um líder, qualquer movimento do partido que não seja o cumprimento desse acordo "sairá mais caro" do que a permanência dele no grupo.
Um aliado próximo do presidente da Câmara afirma que esse movimento também pode trazer prejuízos para o PSB nos estados, botando dúvidas sobre alianças firmadas ou aproximações que vinham sendo costuradas para as eleições municipais.
Segundo esse aliado, uma das alianças sob ameaça é a do Recife, cidade administrada por João Campos (PSB). Apesar disso, os próprios aliados de Lira reconhecem ser difícil qualquer movimento nesse sentido.
Além de telefonemas a deputados do PSB, esse recado foi dado diretamente ao líder da bancada na Casa, Gervásio Maia (PB), em encontro com deputados dos partidos que compõem o bloco na segunda-feira (5). Após a reunião, segundo relatos, Maia ligou para Lira para comunicar que o partido oficializaria o desligamento do grupo.
No mesmo dia, o chefe da Câmara fez, na abertura do ano legislativo, um discurso recheado de recados ao Palácio do Planalto. A saída do PSB contribuiu para aumentar o descontentamento de Lira com o Executivo, segundo pessoas próximas.
O deputado cortou relações com o ministro responsável pela articulação política de Lula, Alexandre Padilha (PT), e trabalha por sua derrubada. Já o governo sustenta Padilha, em atitude vista por integrantes do centrão como uma afronta e uma tentativa de enfraquecer Lira para a disputa sucessória na Câmara.
Há uma semana, ao ser informado por dirigentes do PSB da decisão de ruptura, Lira voltou a afirmar que não tem mais condições de negociar com Padilha.
O PSB tem quase tamanho de nanico na Câmara, apenas 14 das 513 cadeiras, mas sua movimentação tem relevância porque é uma jogada a mais no tabuleiro da sucessão de Lira -que ocorrerá em fevereiro de 2025.
Hoje o presidente da Câmara controla um bloco majoritário, com 162 deputados (já excluído o PSB), mas postulantes à sua vaga se reúnem em um grupo paralelo, liderado por PSD, Republicanos e MDB, que soma 144 cadeiras.
Ou seja, se o PSB aderir a esse agrupamento paralelo, os dois blocos ficam praticamente iguais -com uma diferença de apenas 4 deputados pró-Lira.
Esses blocos refletem, em boa medida, o cenário que pode se materializar no fim do ano e início de 2025, quando esquentará a briga pelo comando da Casa. O presidente da Casa é o segundo na linha sucessória da Presidência da República e tem enorme poder sobre a definição da agenda política nacional.
Por ora, Lira tem sinalizado bancar a candidatura de Elmar Nascimento (União Brasil-BA) para sucedê-lo (o atual presidente já foi reeleito e não pode disputar novamente o cargo).
Elmar foi um dos que telefonaram para parlamentares do PSB para demovê-los da ideia de sair do grupo. Nos bastidores, Carreras, que é próximo a Lira, tem sido apontado como um dos nomes que está atuando para reverter a decisão do PSB.
O bloco paralelo, porém, tem outros três candidatos, todos eles de maior alinhamento com o Palácio do Planalto: Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL).
Lira tem demonstrado a aliados irritação com o que considera uma tentativa do governo federal de interferência na sucessão interna, uma vez que esse movimento acaba fragilizando o seu bloco.
A interlocutores ele diz que sempre trabalhou pela unidade dos partidos que o apoiam e alerta que, caso o grupo se divida, o cenário será prejudicial para todos.
O PSB aderiu ao bloco de Lira justamente no primeiro semestre do ano passado, momento em que Republicanos, PSD e MDB montaram uma aliança paralela em desafio ao presidente da Câmara.
Lira só conseguiu manter a maioria em torno de si com a adesão formal dos centro-esquerdistas PSB e PDT, aliança firmada mediante compromisso do parlamentar de, em linhas gerais, dar tratamento de partido grande a essas siglas menores.
Após Carreras liderar o bloco no primeiro momento, ele foi substituído pelo pedetista André Figueiredo (CE). Hoje, o líder do bloco é Doutor Luizinho (PP-RJ).
Procurado por meio de sua assessoria, o presidente da Câmara não se manifestou.
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