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MOSSORÓ, RN (FOLHAPRESS) - Nas ruas que antes eram movimentadas na comunidade Barrinha, na zona rural de Mossoró, no Rio Grande do Norte, havia pouca gente fora de casa na tarde desta quinta-feira (15). Um costume antigo do morador local, de se sentar na calçada, foi abalado após a fuga de dois presos da penitenciária federal vizinha à comunidade onde vivem cerca de 650 famílias.
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O aposentado Elpídio da Silva, 60, era um dos poucos que se arriscavam na rua.
"Após essa fuga os moradores da Barrinha estão em alerta, sem sossego e apavorados. A gente passa o dia vendo polícia para lá e para cá. É bom porque dá mais segurança, mas quando eles vão embora a aflição volta. Foi uma coisa inédita que aconteceu no país e tem apavorado muita a comunidade", disse.
Genilson Epifânio, 35, tem um mercadinho na comunidade há três anos e diz que está fechando o comércio mais cedo desde a fuga dos detentos.
"A gente fica um pouco inseguro, porque é um órgão de segurança máxima, mas aconteceu uma situação dessa", diz. "A gente é obrigado a fechar mais cedo e se recolher mais cedo, porque fica naquela de não saber se eles [fugitivos] foram embora ou ainda estão por aqui. É um sentimento muito ruim para toda a comunidade."
A fuga foi a primeira registrada no sistema penitenciário federal desde sua implantação, em 2006. A gestão dessas unidades é de responsabilidade do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, atualmente chefiado por Ricardo Lewandowski.
Quem também está trancando o cadeado de casa mais cedo é a dona de casa Antônia Vanda da Costa, 27. Ela afirma que não consegue mais deixar a porta de casa aberta para "correr um vento", como costumava fazer.
"A gente está apreensiva com tanta polícia e helicóptero rondando nossa comunidade. Todo mundo está temendo sair de casa, a qualquer hora do dia", diz.
O temor, ela prossegue, aumentou com os boatos de que os criminosos foram vistos no bairro. "Aí que a gente se tranca cedo. Meu portão agora fica fechado direto."
A Polícia Militar disse nesta quinta-feira que foi registrado um arrombamento a uma casa no sítio Rancho da Caça, também próximo à penitenciária federal. De acordo com a PM, o caso ocorreu durante a madrugada e os invasores levaram roupas e mantimentos.
As buscas então foram intensificadas na região, e a gestão da governadora Fátima Bezerra (PT) disponibilizou homens e helicóptero para a operação. O secretário de Segurança Pública do RN, coronel Francisco Araújo, disse, contudo, que após uma análise mais detalhada foi descartada a possibilidade de que os fugitivos fossem os responsáveis pelo furto.
Os presos que fugiram foram identificados como Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, 34, chamado de Deisinho. Segundo as investigações, eles são ligados ao Comando Vermelho.
A comerciante Josefa Almeida, 35, conta que com muito esforço conseguiu abrir um comércio de produtos agrícolas na região, mas diz que a mudança de rotina a preocupa.
"Meu coração está o tempo todo aflito, com medo de que possa acontecer alguma coisa com a gente, principalmente quando chega um carro ou uma pessoa diferente. Tem sido bem difícil", afirma.
A aposentada Maria das Dores da Silva, 79, conhecida como dona Dorinha, diz nunca ter visto tanta polícia na comunidade. "Ninguém esperava uma coisa dessas. Aqui é muito tranquilo."
Ela conta que também passou a deixar o portão trancado o dia inteiro. "Principalmente porque aqui em frente de casa é uma rodovia estadual, pode ser que eles apareçam e entrem de vez numa casa, façam uma besteira com a pessoa, a gente perde a vida, perde tudo."
A casa de dona Dorinha fica às margens da RN-015, estrada que dá acesso à penitenciária federal.
Agentes penitenciários montaram barreiras policiais para fiscalizar veículos que circulam na região. Até o final da tarde desta quinta, porém, não havia pistas do paradeiro dos fugitivos.