© Facebook / Guillermo Acevedo
Para a maioria das pessoas, sonhar não custa nada. Até mesmo de olhos abertos, conseguimos 'viajar' para aquela praia paradisíaca onde gostaríamos de estar, para um lugar onde está o amor da nossa vida ou até mesmo para junto do nosso maior ídolo.
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Contudo, para 4% da população, o mundo dos sonhos, compreendido como aquele território em que a mente cria histórias com imagens, sons e até mesmo cheiros enquanto dormimos ou até mesmo acordados, é algo desconhecido, pois sofrem de afantasia.
Esse é o caso do médico venezuelano Guillermo Acevedo, que reside em Espanha desde 2013. Em entrevista à BBC, o profissional de saúde afirmou que o seu cérebro "é como um computador com o monitor desligado ou que só armazena arquivos de texto. Não suporta jpg, png ou nenhuma imagem".
Guillermo só descobriu que sofria dessa condição enquanto trabalhava em um hospital psiquiátrico. "Comecei a aprofundar meus conhecimentos em neurologia e doenças mentais e me deparei com um artigo de 2005 de Zeman, que tratava da mente cega", relatou a partir de San Sebastián, cidade onde reside e trabalha há seis anos.
"Esse artigo descreve como as pessoas que têm afantasia pensam e como não conseguem imaginar coisas, ou seja, que não conseguem reproduzir imagens em suas cabeças. E eu pensei: 'Mas há pessoas que fazem isso?'", admitiu, acrescentando que pensava que sonhos e imaginação eram algo "metafórico" e que as pessoas não visualizavam de fato o que estavam contando.
"Se alguém disser para imaginar uma maçã, a pessoa fecha os olhos e visualiza uma maçã porque os neurônios do cérebro que têm a imagem da maçã são ativados, mesmo que não tenha uma maçã à frente. Eu não consigo fazer isso. Sei o que é uma maçã, conheço a forma e as cores, mas não consigo vê-la graficamente quando não a tenho na minha frente", descreveu.
Atualmente, o médico de 35 anos compreende por que, quando era criança e lhe pediam para desenhar a família na escola, tudo era "muito esquemático, tipo boneco de palito, sem qualquer detalhe".
Mesmo durante o sono, Guillermo não consegue sonhar. "Eu achava que não me lembrava dos meus sonhos, mas agora sei que não tenho mesmo sonhos", explicou.
Apesar de sofrer dessa condição, isso não interfere em seu QI. Além de ser médico, possui uma cultura vasta. A incapacidade de imaginar ou sonhar só o afeta mais quando, por exemplo, gostaria de relembrar o passado, pessoas que já se foram ou lugares pelos quais passou. Ou quando precisa preparar uma viagem ou surpresa.
Mas mesmo isso é uma faca de dois gumes. "Eu sofro pouco. Quando deixo de ver a pessoa ao vivo, a dor passa. Só quando vejo uma fotografia é que me lembro. As memórias não me amarram. Eu vivo no agora", concluiu.
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