Ahmad perdeu 103 familiares na guerra: "Quem vai me chamar de pai?"

Ahmad al-Ghuferi conta à BBC que os seus sonhos foram destruídos em Gaza desde que a guerra com Israel começou. Mais de dois meses e meio depois de a sua família mais próxima ter morrido, continuam a ser retirados corpos dos escombros.

© AFP via Getty Images

Mundo Israel/Palestina 27/02/24 POR Notícias ao Minuto

Em menos de cinco meses de conflito no Oriente Médio, Ahmad al-Ghuferi enfrentou a dolorosa perda de mais de uma centena de familiares, incluindo sua esposa e filha que residiam em Gaza.

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A narrativa desse homem, que escapou - até o momento - da morte devido ao fato de estar trabalhando em uma construção em Tel Aviv quando a guerra começou em 7 de outubro do ano passado, foi compartilhada pela BBC. Ahmad, impossibilitado de retornar a Gaza devido ao conflito, revelou em entrevista à publicação britânica que a última vez que conversou com sua esposa foi em 8 de dezembro, por meio de uma chamada telefônica.

"Ela sabia que ia morrer", recorda, acrescentando: "Ela pediu perdão por qualquer coisa ruim que pudesse ter feito. Eu disse a ela que não havia necessidade de me dizer aquilo. E foi a única chamada que fizemos".

Na fatídica noite, a esposa e as filhas - Tala, Lana e Najla - estavam na casa de um tio quando uma bomba atingiu o local, marcando o momento em que desligaram o telefone pela última vez. Com o passar do tempo, Ahmad também perdeu quatro irmãos, além de dezenas de tias e tios. O total de perdas chegou a 103 familiares.

Ahmad compartilhou com a BBC a lembrança de que sua filha mais nova, Najla, teria completado dois anos na semana passada. "Sinto que ainda estou em um sonho. Ainda não consigo acreditar no que aconteceu conosco", expressou.

Ele também revelou ter apagado muitas fotografias das filhas de seu telefone e computador para evitar ser surpreendido emocionalmente.

Sobre o destino de sua família, Ahmad obteve informações por meio de testemunhos de sobreviventes, seja da própria família ou de vizinhos. Segundo um parente que conseguiu sobreviver, no início do ataque em 8 de dezembro, algumas pessoas fugiram do abrigo, enquanto outras permaneceram - e aqueles que permaneceram acabaram por falecer, incluindo sua esposa e filhas. "Eles atingiam uma casa a cada dez minutos", explicou.

Mais de dois meses e meio após o ataque que vitimou sua família mais próxima, ainda há corpos nos escombros, e a família tem buscado angariar recursos para contratar alguém que os remova do local.

"Hoje foram retirados quatro corpos", relatou Ahmad, observando que alguns corpos foram retirados em pedaços. "Eles estiveram debaixo dos escombros por 75 dias", acrescentou.

Quanto a um eventual retorno, Ahmad não tem certeza se o fará e questiona: "Meus sonhos foram destruídos em Gaza. Quem vai me chamar de pai? Quem vai me chamar de querido? Minha esposa costumava me dizer que eu era toda a sua vida. Quem vai me dizer isso agora?"  

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