Casas Bahia não vai abrir nenhuma loja pelo segundo ano consecutivo

A última vez que isso aconteceu foi em 2022, quando abriu 63 estabelecimentos

© Reuters

Economia CASAS BAHIA-NEGÓCIOS 27/03/24 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - A Casas Bahia, um dos maiores grupos varejistas de eletrônicos e móveis do país, não vai abrir lojas em 2024. Pelo contrário: deve encerrar mais 20 pontos de venda. É o segundo ano consecutivo que a empresa não inaugura uma nova unidade. A última vez que isso aconteceu foi em 2022, quando abriu 63 estabelecimentos.

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Hoje o grupo soma 1.078 lojas, entre as bandeiras Casas Bahia e Ponto. Em 2022, eram 1.133. Além das lojas, o grupo engloba o site Extra.com, a fabricante de móveis Bartira, o banco digital Banqi e a empresa de logística Asaplog.

O enxugamento da varejista é uma das estratégias do plano de reestruturação para fazer a empresa fundada por Samuel Klein em 1952 voltar ao lucro. A tarefa tem sido difícil: entre outubro e dezembro de 2023, a Casas Bahia registrou prejuízo recorde para um trimestre, da ordem de R$ 1 bilhão, seis vezes superior ao prejuízo do mesmo período de 2022.

O ano de 2023 encerrou com perdas de R$ 2,6 bilhões, quase oito vezes maior que as de 2022, que somaram R$ 342 milhões.

"Hoje estamos muito mais animados com o futuro da companhia", afirmou o presidente da Casas Bahia, Renato Franklin, durante teleconferência com analistas e investidores na tarde desta terça-feira (26). "Haverá uma melhoria gradativa a cada trimestre. A empresa está se tornando mais leve, eficiente e rentável para enfrentar qualquer cenário, mesmo com demanda mais reprimida", afirmou.

Como parte do processo de reestruturação, além do fechamento dos 55 pontos de venda, a Casas Bahia encerrou a operação de quatro centros de distribuição (hoje são 29) e demitiu 8.600 funcionários (atualmente são cerca de 30 mil colaboradores).

"É claro que não gostamos de fechar lojas, somos varejo: queremos abrir pontos de venda", disse à reportagem o principal executivo de finanças do grupo (CFO), Elcio Mitsuhiro Ito. "Mas tivemos que enxugar, porque o grupo passou por uma expansão acelerada nos últimos anos, quando o crédito estava fácil e a taxa de juros, baixa. O cenário mudou drasticamente em pouco tempo."

De acordo com o executivo, metade do prejuízo se deve à reestruturação. "A outra metade é porque as medidas que tomamos ainda não surtiram efeito completamente, e o mercado não reage na intensidade que queremos".

Ainda assim, existem avanços, afirma Mitsuhiro, como a renegociação da dívida com os bancos. O total do endividamento do grupo está em R$ 3,9 bilhões -o pagamento de parte desse montante, de R$ 1,5 bilhão, foi alongado para três anos. "Isso representa um voto de confiança na empresa", disse.

A palavra de ordem no grupo é se voltar para as categorias principais -móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Nos pontos de venda, já não é possível encontrar itens como brinquedos, utilidades domésticas ou itens de higiene pessoal. Na reestruturação, 23 categorias foram cortadas das lojas, embora continuem sendo oferecidos no marketplace por meio dos lojistas parceiros, os "sellers".

O alto investimento na digitalização das operações por conta da pandemia é um dos problemas do endividamento da empresa. "Assim como outros varejistas, o grupo privilegiou a conquista de participação de mercado online a qualquer custo e agora a conta veio", diz o consultor André Pimentel, sócio da Performa Partners.

Para Pimentel, embora a Casas Bahia tome iniciativas que façam sentido para salvar a empresa, como o enxugamento dos custos fixos e a concentração em categorias rentáveis, o problema do varejo é estrutural.

"Existe uma crise no consumo, que tem por trás uma crise econômica intermitente, que pode se agravar este ano. O tamanho do mercado brasileiro não comporta o número de players com a mesma proposta. O próprio mercado vai impor a seleção natural", afirma o consultor, que se diz "razoavelmente pessimista" em relação ao futuro da Casas Bahia.

"A reestruturação da companhia deveria ser muito mais dramática", afirma. "É uma companhia que cresceu de maneira desordenada, não tem expertise operacional para lidar com o ecommerce -algo que pouquíssimas varejistas têm, como Mercado Livre-, e precisa tentar sobreviver em meio a um cenário econômico e de consumo bastante desafiador."

Na opinião do consultor Eugênio Foganholo, os números são "trágicos". "Mas o pior é o ânimo dos funcionários neste momento, em que a empresa mais precisa deles para ensaiar uma reação", diz. A relação com outra frente de stakeholders, a dos fornecedores, também não vive o seu melhor momento, diz.

"Já é possível observar ruptura [falta de produto] nas lojas. Alguns fornecedores estão reticentes em fechar negócios, temendo talvez um desfecho como o da Americanas."

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