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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente dos EUA, Joe Biden, lançou nesta sexta-feira (17) uma iniciativa voltada ao eleitorado negro em uma tentativa de recuperar o apoio dessa parcela da população, fundamental para sua vitória contra Donald Trump em 2020 -mas que agora dá sinais de desconfiança no pleito deste ano.
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Biden visitou o Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americanas na capital, Washington, e fez um discurso dizendo que "a história negra é a história americana". Ele e a vice, Kamala Harris, ainda devem se encontrar com um grupo de universitários de instituições tradicionalmente negras, como a Universidade Howard, e participar de outros eventos de campanha no fim de semana.
Além disso, na última quinta (16), Biden se reuniu com um grupo cujos familiares estiveram envolvidos na decisão da Suprema Corte que acabou com a segregação racial em escolas de todo o país 70 anos atrás, em 17 de maio de 1954. Houve à época grande resistência à decisão, conhecida como Brown vs. Board of Education, principalmente no sul do país, e alguns estudantes negros tiveram que ser escoltados pela polícia até as salas de aula.
A série de eventos voltados ao eleitor negro termina no domingo (19), quando Biden fará um discurso na cerimônia de formatura da universidade Morehouse College, onde se formou o ícone dos direitos civis americano Martin Luther King Jr.
Entretanto, alguns docentes e estudantes da instituição pediram que o convite a Biden fosse retirado devido ao apoio do presidente a Israel na sua guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza. Desde 7 de outubro de 2023, quando 1.200 pessoas foram mortas pelo grupo terrorista, ataques israelenses já mataram mais de 35 mil palestinos em Gaza, e Tel Aviv se prepara para invadir Rafah, cidade lotada de deslocados que vive uma crise humanitária.
A iniciativa de Biden voltada a eleitores negros é motivada por uma preocupação crescente entre estrategistas do Partido Democrata de que setores que sempre apoiaram a sigla, como a população negra, latina e jovem, estão desconfiados e desapontados com o governo Biden.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos mostrou que eleitores democratas estão fortemente divididos a respeito da forma como Biden vem lidando com a guerra no Oriente Médio. Outro levantamento, realizado pelo The New York Times e pelo Siena College, aponta que Trump tem o apoio de 20% dos eleitores negros, muito acima dos 12% que ele obteve em 2020.
Trump também tem feito acenos a esse eleitorado. Em fevereiro, o ex-presidente participou de um evento de campanha na Federação Conservadora Negra, um grupo associado ao Partido Republicano, e disse que o fato de que eç responde a acusações criminais faz com que ele ganhe apoio de eleitores negros.
"Acho que é por isso que os negros estão do meu lado agora. Porque eles veem que o que está acontecendo comigo acontece com eles", disse, em referência à discriminação histórica sofrida por pessoas negras no Judiciário americano.
O ex-presidente tem um histórico de falas e campanhas políticas consideradas racistas, como quando espalhou a teoria da conspiração de que o então presidente Barack Obama era nascido no Quênia, não no Havaí. Em 2017, quando já ocupava a Casa Branca, Trump reagiu aos confrontos entre supremacistas brancos e manifestantes antirracistas em Charlottesville, na Virgínia, dizendo que havia "gente boa em ambos os lados".
Na última quarta-feira (15), Biden deu uma entrevista em um programa de rádio em Atlanta, na Geórgia, cidade majoritariamente negra no sul do país. O presidente atacou Trump, dizendo que o republicano "prejudicou pessoas negras sempre que pode".
"O desemprego entre negros aumentou, taxas de pessoas sem seguro aumentaram durante o governo dele. O projeto dele sobre impostos aumentou a discriminação, com famílias negras tendo que pagar duas vezes mais do que famílias brancas. Também foi um desastre na resposta à pandemia, resultando em pessoas negras mortas e empresas negras falidas", disse Biden no programa.
A campanha democrata tem tentado frisar ações concretas de Biden que teriam favorecido a população negra, como o aumento do acesso a planos de saúde e taxas recordes de emprego.
Pesquisas eleitorais mostram que Trump está na frente de Biden em estados-chave com populações negras expressivas, como Geórgia, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. Assim, o voto negro deve ser, mais uma vez, crucial para uma eventual vitória do democrata nas eleições em novembro deste ano.