© Yan Dobronosov/Global Images Ukraine via Getty Images
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse nesta sexta-feira (17) em entrevista à agência de notícias AFP que os avanços militares russos das últimas semanas que preocupam aliados ocidentais podem ser apenas uma "primeira onda" de uma nova ofensiva.
PUB
Zelenski voltou a pedir por mais armas antiaéreas e disse que "a maior vantagem da Rússia" na guerra é a proibição imposta por países ocidentais de não usar armamento entregue a Kiev para atacar o território russo.
Essa restrição, entretanto, vem sendo suavizada pelos Estados Unidos e Reino Unido. Em entrevista coletiva na capital ucraniana na última quarta-feira (15), o secretário de Estado Antony Blinken disse que não "encoraja ataques fora da Ucrânia", mas que, em última instância, Kiev "tem de tomar decisões por conta própria sobre como vai conduzir esta guerra".
Em resposta, Moscou alertou em um comunicado na sexta que o Ocidente "brinca com fogo" ao permitir esses ataques, e que eles não passariam sem retaliação.
Londres havia dito em abril que Kiev estava livre para usar seus mísseis de longa distância contra a Rússia. Em seguida, Putin anunciou que atacaria alvos militares britânicos em todo o mundo como resposta legítima.
Na entrevista, Zelenski reconheceu que a Ucrânia enfrenta um problema de falta de soldados e da moral das suas tropas, mas disse que vai sustentar as linhas defensivas e conter avanços russos. As forças armadas de Kiev vem recuando e perdendo território nas últimas semanas,
"Podem disparar qualquer arma de seu território contra o nosso. Esta é a maior vantagem que a Rússia tem. Não podemos fazer nada contra seus sistemas, que estão no território da Rússia, com armas ocidentais", disse Zelenski.
Apesar disso, Kiev tem realizado ataques em território russo, principalmente com drones –incluindo um que matou uma mãe e sua filha na região de Belgorod na sexta, de acordo com autoridades locais. No ano passado, drones também atingiram o Kremlin, em Moscou.
Neste sábado (18), a Rússia acusou a Ucrânia de atacar seu território com mísseis franceses e americanos. O Ministério da Defesa afirma ter interceptado quatro deles.
Na entrevista à AFP, Zelenski criticou seus aliados ocidentais, rejeitando o pedido do presidente francês, Emmanuel Macron, de que haja uma trégua durante os Jogos Olímpicos de Paris, que acontecem de 26 de julho a 11 de agosto. Para Zelenski, isso só permitiria que a Rússia reposicionasse suas tropas.
O presidente ucraniano disse que seu país e os aliados "compartilham os mesmos valores", mas têm "diferentes perspectivas" sobre como a guerra pode terminar. "Estamos em uma situação sem sentido em que o Ocidente teme que a Rússia perca a guerra, e não quer que a Ucrânia perca a guerra", afirmou.Zelenski pediu que a China e outros países do chamado Sul Global compareçam à conferência sobre a paz que será realizada na Suíça em junho. O Brasil também foi convidado, mas integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) veem o encontro com ceticismo, uma vez que a Rússia não deve participar.
"Queremos que a guerra termine com uma paz justa para nós", disse Zelenski à AFP. "O Ocidente quer que a guerra termine. Ponto. O quanto antes. E para eles, isso é uma paz justa".