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NELSON DE SÁPEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) - O encontro da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação) terminou nesta quinta-feira (6) em Pequim com a assinatura de linhas de financiamento e crédito que totalizam US$ 3,74 bilhões (equivalente a R$ 19,68 bilhões) -dado levantado a partir de estimativas da equipe brasileira.
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São acordos e outros atos fechados por BNDES, Banco do Brasil e Ministério da Fazenda com suas contrapartes chinesas e com o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês). A formalização dos documentos da Fazenda e do BNDES com o AIIB será nesta sexta (7).
Aos valores se soma ainda um acordo entre BNDES e o Fundo de Investimento em Cooperação Industrial China-ALC (Claifund, na abreviação em inglês), fechado na quinta, para facilitar o acesso aos US$ 10 bilhões (equivalente a R$ 52,87 bilhões) do fundo chinês para investimentos na América Latina.
A Cosban, criada há 20 anos, no primeiro governo Lula, é chefiada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, e por seu equivalente chinês, Han Zheng. O encontro foi no Grande Salão do Povo, no centro da capital chinesa, e incluiu outros cinco ministros brasileiros. Foi a conclusão de uma sequência de reuniões de suas subcomissões nos últimos meses.
Alckmin declarou no encontro em Pequim, segundo sua assessoria, que na Cosban e em outros âmbitos, como a cúpula do G20 em novembro, no Rio de Janeiro, o Brasil busca "ecoar a mensagem de apoio ao multilateralismo e da necessidade de um mundo mais justo e sustentável".
Já Han declarou que, "em momento de grande instabilidade na arena internacional, com a ocorrência de conflitos armados em várias regiões do planeta, as relações Brasil-China seguem caracterizadas pela previsibilidade e estabilidade".
A reunião chegou a tratar da eventual entrada do Brasil na Iniciativa Cinturão e Rota, um projeto de investimentos chineses em infraestrutura no exterior, mas sem fechar questão e sem menção na divulgação formal.
Entre os atos financeiros assinados nesta quinta, que somados alcançam os US$ 3,74 bilhões, estão por exemplo US$ 690 milhões (equivalente a R$ 3,64 bilhões) para uma linha de crédito em renminbi (nome oficial do yuan) e US$ 800 milhões (equivalente a R$ 4,23 bilhões) para apoiar projetos brasileiros nas áreas de infraestrutura, energia, indústria, mudança do clima e outras, em acordos fechados pelo BNDES com o Banco de Desenvolvimento da China.
Além dos financeiros, houve também atos na área agrícola, como a abertura de mercado para noz-pecã, cuja produção brasileira é concentrada no Rio Grande do Sul. Também foram concluídas, mas para assinatura posterior, as negociações para exportação de uva e gergelim e maior acesso da carne bovina.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que de início temia o adiamento de decisões, saudou o resultado. "A habilitação da noz-pecã é uma notícia especial para os gaúchos", disse ele à Folha, sublinhando também "a conclusão do processo sanitário com relação ao reconhecimento do Rio Grande do Sul e do Paraná como livres de febre aftosa, sem vacinação". Sobre carne, uva e outros, "agora é só definir o dia para anunciar".
Lembrou ainda que "um tema central foi a conversão de pastagens, inclusive com a formalização pelo governo chinês de que quer participar do processo, fomentar a conversão para áreas produtivas, com o viés da sustentabilidade, da preservação ambiental, evitando novos desmatamentos".
Paralelamente, houve anúncios e acordos entre empresas, como uma compra de café pela rede Luckin Coffee, estimada em US$ 500 milhões (equivalente a R$ 2,64 bilhões), mas podendo chegar a US$ 800 milhões (equivalente a R$ 4,23 bilhões), e o investimento de US$ 100 milhões (equivalente a R$ 527 milhões) da Sinovac no Brasil.
Nesta sexta deve ser anunciado ainda, pela GAC, quinta maior montadora chinesa, investimento de cerca de US$ 600 milhões (equivalente a R$ 3,16 bilhões) no Brasil, para instalar linhas de produção e um centro de pesquisa e desenvolvimento.
Também foi assinada declaração visando a construção conjunta de um satélite de grande porte. Segundo o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Clezio De Nardin, "é o primeiro satélite geoestacionário meteorológico do Brasil, um grande avanço tecnológico".
Ele trará "maior proteção para questões associadas à mudança do clima", acrescenta, devendo "monitorar todos os eventos extremos que estão entrando no nosso país, como o que aconteceu agora no Rio Grande do Sul".Nesta sexta, a visita de quatro dias da delegação brasileira, chefiada por Alckmin, se encerra com um encontro com o líder Xi Jinping, também no Grande Salão do Povo.