Troca de comando do BC será grande teste sobre rumo da economia, diz S&P Global

A declaração ocorreu em conversa com a reportagem, após o executivo ser questionado sobre a possibilidade de uma volta "ao passado", com medidas que deterioraram as contas públicas, como a interferência em decisões de juros do BC, e que levaram a uma sequência de cortes na nota de crédito soberano do Brasil.

© Getty

Economia AGÊNCIA-S&P 13/06/24 POR Folhapress

STÉFANIE RIGAMONTISÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A mudança de presidência do Banco Central e a forma como a autarquia pautará suas decisões com um indicado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao comando será um grande teste para os rumos da economia do Brasil. A avaliação é de Manuel Orozco, analista de Brasil da S&P Global.

PUB

A declaração ocorreu em conversa com a reportagem, após o executivo ser questionado sobre a possibilidade de uma volta "ao passado", com medidas que deterioraram as contas públicas, como a interferência em decisões de juros do BC, e que levaram a uma sequência de cortes na nota de crédito soberano do Brasil.

Orozco afirma que a autonomia do BC foi uma das reformas dos últimos anos que ajudaram a dar consistência ao crescimento econômico do Brasil e que contribuíram para a última melhora na classificação do país.

No fim do ano passado, a S&P Global Ratings elevou a nota de crédito do Brasil de BB- para BB. A melhora na classificação aconteceu logo após a aprovação da reforma tributária.

Orozco e uma equipe de diretores da S&P estiveram em São Paulo nesta quarta-feira (12) para um evento com investidores brasileiros. À reportagem, o analista afirmou que as condições que levaram à melhora na nota do país permanecem.

Ele disse acreditar que os ruídos que têm feito com que as expectativas do mercado para a inflação estejam desancoradas são de curto prazo. Mas alertou que vários ruídos seguidos podem comprometer não apenas as projeções mas a própria economia do país por um período maior.

"Primeiro é PEC Kamikaze [no governo passado], depois a PEC da Transição, dúvidas sobre o novo arcabouço fiscal, mudança de meta fiscal, piora do déficit... Daqui a pouco não vai ser mais só algo momentâneo", diz o analista.Orozco afirma que a política monetária atualmente é um dos pontos positivos do país, apesar do patamar alto da taxa básica de juros. Segundo ele, é importante manter os parâmetros técnicos nas decisões, mesmo após a saída de Roberto Campos Neto da presidência do BC, em dezembro deste ano.

Alguns fatores têm elevado as taxas dos contratos de juros futuros, assim como o prêmio de risco cobrado pelos investidores para tomar títulos de dívida de longo prazo do governo brasileiro. O dólar também tem subido a cada sessão e atingiu o patamar dos R$ 5,40.

Um dos fatores que têm provocado essa reação do mercado é a certeza de que os juros nos Estados Unidos permanecerão altos por mais tempo. Nesta quarta-feira, o Federal Reserve, banco central americano, indicou apenas um corte de juros em 2024, sendo que no começo do ano o mercado esperava ao menos três cortes.

Mas a economia doméstica também tem pesado no humor dos investidores. O racha na decisão de juros do último Copom (Comitê de Política Monetária) entre diretores indicados pelo atual governo e os indicados pela gestão anterior também fez com que investidores duvidassem se o BC permanecerá ferrenho na luta contra a inflação após a saída de Campos Neto.

Além disso, a mudança de meta de resultado primário, de superávit para déficit zero em 2025, também trouxe dúvidas sobre a sustentabilidade do novo arcabouço fiscal. O fato de o governo focar o ajuste das contas públicas no aumento da arrecadação desperta temor no mercado.

Orozco diz que uma organização definitiva das contas públicas é o que falta para o Brasil voltar a alcançar o grau de investimento (faltam dois níveis para o país atingir esse patamar).

O país chegou a esse nível pela última vez em abril 2008, durante o segundo mandato de Lula, mas perdeu em setembro de 2015, em meio a uma deterioração fiscal durante o governo de Dilma Rousseff (PT).Questionado sobre qual a diferença das condições em 2008 e agora que nos distancia do grau de investimento, Orozco menciona a dívida pública líquida, que está em 61,2% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto naquela época estava em 35%.

Para Gregg Lemos-Stein, diretor de análise da S&P que também participou da conversa, a deterioração fiscal é uma questão observada nas principais economias do mundo, algo que se agrava com o patamar elevado dos juros."Esse é um desafio que precisa ser enfrentado globalmente. Com a perspectiva de juros altos por mais tempo, o custo da dívida também aumenta. É um dos riscos emergentes no mundo", diz.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

mundo Lido di Camaiore Há 13 Horas

Brasileira atropela sete pessoas e mata duas jovens turistas na Itália

fama Educação Há 12 Horas

Colégio nega matrícula para filhos de Cristiano Ronaldo em Portugal

mundo TikTok Há 12 Horas

Tendência viral no TikTok leva crianças ao hospital com queimaduras grave

politica ALEXANDRE-MORAES Há 11 Horas

Parlamentares dos EUA querem cancelar vistos de Moraes e de outros ministros do STF

fama Gal Costa Há 13 Horas

Viúva e filho de Gal Costa chegam a acordo sobre herança e venda de casa

fama Família Cazarré Há 13 Horas

Com filha internada, Letícia Cazarré reflete sobre a luta de Guilhermina

mundo EUA Há 12 Horas

Menino de 12 anos salva pai durante ataque de urso de 90kg

justica Ceará Há 14 Horas

Idosas são presas por mandar matar irmã e cunhado em disputa de herança

brasil Rebouças Há 14 Horas

Aluna de 10 anos passa mal em escola no Paraná e morre após ser socorrida

lifestyle Doenças oncológicas Há 13 Horas

Sintomas de câncer da laringe que consegue identificar enquanto fala