Ucrânia arrisca enxugar gelo, e Putin acena aos EUA

Uma avaliação mais realista do quadro revela que, passados os anúncios bombásticos de lado a lado, as peças podem acabar a rodada no mesmo lugar. Ou seja, com a Rússia avançando lentamente, enquanto a Ucrânia enxuga gelo no campo de batalha com mais agressividade assimétrica.

© GAVRIIL GRIGOROV/POOL/AFP via Getty Images

Mundo EUA-UCRÂNIA 14/06/24 POR Folhapress

IGOR GIELOWSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O tabuleiro diplomático da Guerra da Ucrânia sofreu um movimento brusco nesta semana, uma das mais agitadas desde que foram para o ralo as negociações iniciais de paz entre os invasores russos e Kiev, em 2022.

PUB

Uma avaliação mais realista do quadro revela que, passados os anúncios bombásticos de lado a lado, as peças podem acabar a rodada no mesmo lugar. Ou seja, com a Rússia avançando lentamente, enquanto a Ucrânia enxuga gelo no campo de batalha com mais agressividade assimétrica.O lance mais importante foi a adoção pelos Estados Unidos de sanções mais amplas contra o sistema financeiro russo, fechando o mercado primário de dólar e euro no país. O objetivo é punir chineses e outros que façam negócios com Moscou.

Até aqui, a Rússia conseguiu driblar esses mecanismos. Logo, o impacto real da ação da quarta (12) ainda terá de ser avaliado.

Na quinta (13), veio o pacote mais vistoso de apoio aos ucranianos, do ponto de vista midiático. Os EUA assinaram um pacto de cooperação militar de dez anos que, no papel, coloca o país europeu no nível de Israel em termos de parceria.

Diferentemente da relação entre Washington e Tel Aviv, não há no documento a previsão de financiamento anual. Tudo terá de ser aprovado ponto a ponto pelo Congresso, e os seis meses perdidos para Kiev neste ano com a carnificina entre republicanos e democratas em torno do apoio militar à Ucrânia sugerem dificuldades.

Elas crescem à medida que se aproxima a eleição presidencial americana de novembro. Para piorar, se Donald Trump derrotar Joe Biden, é provável que a cláusula que permite a cessação do acerto militar com um aviso prévio de seis meses será avocada pelo republicano, como ele fez em 2018 com o acordo nuclear iraniano.

O outro anúncio, de US$ 50 bilhões em ajuda a ser financiada pela apropriação dos juros que as reservas congeladas de Putin renderem, também esbarra na realidade. Já nesta sexta a aliança militar Otan disse que não poderia se comprometer com um cronograma de envio de armas.

O motivo é a incerteza acerca do mecanismo. EUA prometem tirar metade da bolada do bolso, enquanto outros países do G7 entrariam com o restante, mas há dúvidas internacionais acerca da legalidade daquilo que o Kremlin chama de roubo.

Politicamente, há ônus também. Como Putin mesmo disse nesta sexta, a partir de agora todo país que tem reservas na Europa deve temer por elas caso caia em desgraça com os EUA e seus aliados.

Esse tipo de fala ressoa no chamado Sul Global, termo impreciso para países que evitam alinhar-se automaticamente a Washington ou a Pequim, os polos da geopolítica do século 21.

Sem surpresa, integrantes do grupo como o Brasil e a Turquia, além de obviamente a China aliada de Putin, não estarão entre as cerca de 90 nações que se reúnem à beira do lago próximo de Obbürgen, na Suíça, neste sábado (15) e domingo (16). O Itamaraty apenas enviará sua embaixadora local como observadora.

O evento se vende como uma conferência de paz, mas não convidou um dos beligerantes, a Rússia. Seu apelo foi limitado: Biden não irá, enviando sua vice, e cerca de 70 países declinaram do convite. A Índia, estrela do tal Sul Global anunciada com pompa por Volodimir Zelenski, não terá seu premiê presente.Nesse sentido, é inócuo no propósito, e servirá para Kiev galvanizar o apoio com o qual já conta. Para o presidente ucraniano, será uma oportunidade de repassar os dez pontos que apresentou no fim de 2022 como condições para a paz, na realidade uma lista de exigências inexequível aos olhos russos.

Putin aproveitou para fazer o mesmo nesta sexta. Pela primeira vez desenhou sua proposta para o fim da guerra, como forma de responder à falta de convite suíça e aos anúncios da semana.

Como seria previsível, ela foi rejeitada por Kiev pois prevê neutralidade formal e a entrega de mais de 20% de seu território. Ao fazer uma oferta inaceitável, o russo envia uma sinalização aos EUA acerca de sua disposição de conversar, embora pouco deva mudar na prática agora.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

mundo Cazaquistão Há 19 Horas

Avião com 72 pessoas a bordo cai no Cazaquistão; há sobreviventes

fama Justiça Há 15 Horas

Ex-bailarina do Faustão tem habeas corpus negado e vai passar o fim de ano na prisão

esporte Prisão Há 20 Horas

Por que Robinho não teve direito à 'saidinha' e vai passar Natal preso

fama Festas Há 19 Horas

Cachorro de Anitta some na noite de Natal: 'ainda vai me matar do coração'

fama Saúde Há 13 Horas

Filho de Faustão fala sobre a saúde do pai após transplantes

fama Televisão Há 18 Horas

SBT desiste de contratar Pablo Marçal e terá Cariúcha em novo Casos de Família

fama Música Há 20 Horas

Hit natalino de Mariah Carey entra na 17ª semana em primeiro na Billboard

economia Consumos Há 19 Horas

Saiba como evitar o aumento da conta de luz durante o verão

politica STF Há 19 Horas

Moraes diz que Daniel Silveira mentiu ao usar hospital como álibi e mantém prisão

justica Investigação Há 18 Horas

Duas pessoas morrem e três estão internadas após comerem bolo em Torres (RS)