Rival de Trump, Cruz antecipa escolha de vice; analistas veem desespero

Raro em corridas eleitorais, o movimento do pré-candidato republicano à Casa Branca foi visto como ato de desespero por especialistas

© Reuters

Mundo Republicano 27/04/16 POR Folhapress

Após perder para Donald Trump em cinco Estados por margens que superaram 50 pontos, Ted Cruz anunciou nesta quarta (27) Carly Fiorina, ex-rival e ex-presidente da Hewlett-Packard, como sua vice de chapa.

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Raro em corridas eleitorais, o movimento do pré-candidato republicano à Casa Branca foi visto como ato de desespero por especialistas.

Cruz está 392 delegados atrás do empresário (que tem 954 a seu favor). Só faltam 502 desses representantes locais (20% do total) nas dez prévias que restam.

Sua única esperança de ganhar a nomeação é impedir que Trump supere 50% de apoio partidário. Sem essa maioria na convenção nacional republicana, em julho, o líder nas prévias corre o risco de ser expelido da disputa por conta de uma regra que institui, numa competição tão apertada como a de 2016, a chamada "convenção disputada".

Se nenhum oponente obtiver respaldo de ao menos 1.237 delegados, vota-se de novo, agora com a maioria deles livre para indicar o candidato que preferir. Na primeira rodada, os representantes partidários têm de escolher o candidato com maior votação popular em seus Estados.

Com o anúncio em Indiana -Estado que sela em sua primária, no dia 3, o apoio de 57 delegados-, Cruz aderiu a uma estratégia inédita há 40 anos no Partido Republicano.

Naquele 1976, por coincidência ou não, ocorria a última convenção disputada da legenda. Um dos aspirantes, Ronald Reagan, divulgou que seu vice seria Richard Schweiker, senador pela Pensilvânia.

O "running mate" (companheiro de corrida), contudo, serviu de munição contra ele: era moderado demais para o apetite conservador da base republicana.

Gerald Ford acabou vencendo o duelo de 1976, mas perdeu a eleição geral para o democrata Jimmy Carter. Eleito presidente quatro anos depois, Reagan escolheu Schweiker como seu secretário da Saúde.

CARLY

Única mulher entre os 17 aspirantes à vaga no começo da corrida, Fiorina jogou a toalha em fevereiro. Um mês antes, atacou o oponente Cruz. "Ele faria qualquer coisa para ser eleito".

Desferiu mais golpes: o senador do Texas era "como qualquer outro político" e, para seduzir sua audiência, dizia "uma coisa em Manhattan, outra no Iowa". "Ele promete muito e entrega pouco".

A ex-executiva, no entanto, passou para o seu lado, e há semanas faz campanha em seu nome.

Trump não perdeu a chance de divulgar, no Twitter, as declarações anti-Cruz de Fiorina, feitas em entrevista à CNN no começo do ano. "Concordo [com ela]!", escreveu o empresário.

SUSPENSE

Cruz começou a quarta (27) fazendo suspense: às 16h (17h no horário de Brasília) faria "um grande anúncio". Horas antes, uma liderança republicana entregou o "spoiler" no Twitter.

A essa altura, Fiorina já havia sido flagrada viajando, num voo comercial, para Indiana.

Apresentada com a música country "Where The Stars And Stripes and Eagle Fly", ela criticou o clima de "já ganhou" que a mídia teria adotado ao repercutir as primárias do dia anterior, que coroaram Trump e a democrata Hillary Clinton.

"Tanto um quanto o outro seriam um desastre para essa nação. São dois lados da mesma moeda. Os dois são liberais, sabemos disso".

Fiorina, que entre 1999 e 2005 chefiou a Hewlett-Packard, uma das maiores corporações americanas, disse que o republicano e a democrata, se eleitos, não desafiariam "a elite" e "o sistema", pois fazem parte de ambos.

ETAPA CRUCIAL

A vice -por quem o evangélico Cruz afirmo ter "rezado para encontrar"- é nativa do Texas, reduto eleitoral do senador. "Foi a primeira coisa que gostei nela", disse Cruz, nascido no Canadá.

Ele também destacou suas credenciais conservadoras e seu pioneirismo como presidente mulher da Hewlett-Packard, num ambiente empresarial onde homens prevalecem.

Ela entende, segundo Cruz, que o governo mínimo é a solução para o país, "ao contrário de Trump", que estaria mais filiado às posições de Hillary e Bernie Sanders, os pré-candidatos democratas.

Cruz afirmou que Cara Carleton Sneed Fiorina é "conhecida pelo país todo apenas como Carly". Especialistas, contudo, questionam se ela agregará muito à campanha do senador, já que seu nome não é popular em larga escala.

O senador lembrou que sua nova sócia eleitoral foi alvo de Trump, que em 2015 caçoou de sua aparência física. "Olhem para aquele rosto! Alguém votaria nisso?"

Também percorreu a via sentimentalista, ao trazer à tona que Fiorina já "sentiu a tragédia", quando uma enteada morreu após overdose de drogas.

"Talvez por isso ela não seja intimida por valentões. Ela já enfrentou desafios maiores do que alguém gritando sobre seu rosto", disse, à frente de uma plateia de simpatizantes empunhando bandeiras americanas.

Mais cedo, numa quadra de basquete em Indiana, Cruz desferiu mais golpes no rival. "Trump gosta de cair de paraquedas, como se fosse Mick Jagger aparecendo do nada num estádio de futebol, fazendo sua performance e depois indo embora".

No dia anterior, o empresário fez seu discurso de vitória ao som de "Start Me Up", dos Rolling Stones, a banda de Jagger, depois de triunfar na Pensilvânia e em mais quatro Estados do nordeste americano.

Cruz disse que nem ele nem Trump chegariam aos 1.237 delegados até a linha de chegada: a convenção nacional em Cleveland, daqui a dois meses e meio.

Em três dias, é a segunda manobra que sinaliza o esforço de Cruz para deter Trump.

Na segunda (25), ele e John Kasich divulgaram uma parceria em que o senador abria mão de fazer campanha em Oregon e Novo México, e o governador de Ohio desistia de Indiana. Ajudando um ao outro, tirariam votos de Trump.

O casamento eleitoral, contudo, é considerado frágil por analistas. Kasich inclusive disse, no mesmo dia, que os eleitores deveriam votar nele em Indiana, ainda que estivesse ausente no Estado. Com informações da Folhapress.

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