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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar de ter começado o dia em queda firme, o dólar virou e fechou a sessão em alta de 0,35%, cotado a R$ 5,460, atingindo seu o maior valor nominal do atual governo Lula.
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Mais cedo, a moeda americana havia chegado a R$ 5,385 na mínima do dia, em meio ao otimismo com a decisão unânime do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a Selic (taxa básica de juros) em 10,5% ao ano. Mas críticas do presidente da República ao colegiado do Banco Central e uma piora no ambiente externo fizeram a divisa subir.
Com o valor de fechamento desta quinta, o dólar marca seu maior patamar nominal desde 22 de julho de 2022, quando era cotado a R$ 5,499.
Na Bolsa, houve um movimento parecido: o Ibovespa começou o dia em forte alta e ultrapassou os 121.500 pontos na máxima, mas desacelerou e voltou ao patamar dos 120 mil. No fim, fechou em alta de 0,15%, aos 120.445 pontos.
Um cenário influenciado principalmente por declarações de Lula, que afirmou que a decisão do Copom atendeu a especuladores.
"A decisão do Banco Central foi investir no sistema financeiro, nos especuladores que ganham dinheiro com os juros. E nós queremos investir na produção", disse Lula, em entrevista à rádio Verdinha, de Fortaleza (CE).
O petista também questionou a independência da autarquia. "O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom ou do Banco Central. O [ex-presidente do BC Henrique] Meirelles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz de hoje. Só que o Meirelles eu tinha o poder de tirar, como o Fernando Henrique Cardoso tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos", disse Lula.
A decisão do Copom sobre a Selic, tomada de forma unânime, veio em linha com o esperado pelo mercado, que temia uma nova divisão entre os diretores sobre a política de juros. Em maio, as autoridades indicadas por Lula divergiram do restante do comitê, acendendo alertas sobre possíveis interferências políticas na instituição.
No início desta semana, críticas de Lula ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, aumentaram ainda mais a tensão. Mas decisão unânime havia feito com que as tensões diminuíssem.
"Depois dos ruídos causados na última reunião, dessa vez o colegiado chegou num consenso. Os nove diretores votaram de forma igual, e isso foi muito importante para reforçar que as decisões foram tomadas de forma técnica", afirma Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a própria equipe econômica do governo avaliou que a decisão foi acertada e crucial para evitar uma deterioração nas condições de mercado do país.
No cenário internacional, os rendimentos dos títulos de dez anos do Tesouro americano, os chamados "treasuries", registraram alta nesta quinta, o que favorece a valorização do dólar e penaliza ativos de renda variável. Os índices americanos S&P 500 e Nasdaq, por exemplo, caminhavam para registrar uma sessão de queda.
Nesse cenário, o mercado teve uma abertura bastante positiva, mas o movimento minguou.
Em comunicado sobre a decisão de juros, o Copom afirmou que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por elevação das projeções de inflação demandam maior cautela.
O comitê afirmou também que se manterá "vigilante" e que "eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".
Para Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, uma decisão equilibrada era fundamental para evitar efeitos negativos na economia.
"Caso tivesse sido mais hawkish [duro], o Copom poderia tornar o ambiente ainda mais propenso a acidentes nessa transição turbulenta. Assim como as reformas econômicas são as possíveis, não as desejadas, entendemos que o Copom teve êxito em entregar a melhor decisão possível", diz Cunha.
Já Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, destaca que o comunicado indicou que a Selic deve ser mantida em 10,5% nas próximas reuniões.
"O Copom mostrou que cortes no curo prazo não estão no radar. Não quer dizer que vai parar para sempre, mas com esse cenário alternativo, a barra está muito alta tanto para subir como para reduzir os juros.", disse Carvalho.
Apesar do otimismo com o Copom, logo pela manhã ficou claro que o alívio nas cotações seria limitado, com a alta da moeda americana no exterior e as preocupações sobre o cenário fiscal brasileiro ainda sendo citados por profissionais de mercado.
"A saída de dólares do país segue forte e isso reflete na cotação da moeda e no volume de negociação do nosso mercado, que tem encolhido neste ano. Os investidores estrangeiros estão movendo seus recursos de risco para outros países emergentes que demonstram melhores perspectivas do que o Brasil", afirma Anderson Silva, sócio da GT Capital.