Governo envia helicópteros e aviões militares para auxiliar no combate ao fogo no pantanal

Os números são 90% maiores que os do ano de 2020, quando o fogo destruiu 26% do bioma, no que é considerado o maior incêndio de sua história

© Getty

Brasil INCÊNDIO-PANTANAL 25/06/24 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - As Forças Armadas disponibilizaram seis helicópteros e dois aviões para auxiliar no combate aos incêndios na região do pantanal, e mais equipamentos são avaliados. Duas bases de apoio foram criadas e 500 combatentes, destacados para as ações.

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Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o bioma está "diante de uma das piores situações já vistas", algo "fora da curva com relação a tudo que já se conhece".

As declarações foram dadas após reunião da sala de situação para enfrentamento dos incêndios, no Palácio do Planalto, nesta segunda-feira (24).

Foi o segundo encontro do grupo. Na próxima quarta-feira (26), deve acontecer mais um, desta vez para que cada uma das pastas apresente suas necessidades orçamentárias, e o governo avalie a possibilidade de abertura de crédito extraordinário para as operações.

"Não sabemos o tamanho dos desdobramentos do fenômeno que temos pela frente, é a maior seca dos últimos 70 anos", afirmou Marina. "O fenômeno é incomparavelmente maior do que a capacidade humana de conter estes processos", completou.

Reportagem da Folha na última sexta-feira (21) mostrou que a falta de apoio aéreo é o principal entrave ao combate aos incêndios no pantanal, segundo brigadistas de diferentes setores que atuam no bioma.

Também participaram do encontro nesta segunda-feira a ministra Simone Tebet (Planejamento), Waldez Goés (Integração e Desenvolvimento Regional) e Laércio Portela (Secretaria de Comunicação). Estiveram presentes ainda representantes dos ministérios da Justiça, Defesa, Indústria e Casa Civil.

Tebet não detalhou qual é o espaço orçamentário que pode ser usado para estas ações, mas afirmou que uma comitiva de ministros deve viajar ao pantanal em breve.

"Não faltarão recursos, claro que com responsabilidade", disse.

O governo já anunciou que vai recompor em R$ 100 milhões o orçamento do Ministério do Meio Ambiente, que foi alvo de cortes tanto pelo Congresso quanto pelo próprio Executivo.

Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, o almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire afirmou que os militares também vão auxiliar com "equipamentos de comando e controle e de comunicação para que as equipes sejam empregadas de uma maneira eficaz".

Os focos de incêndio no pantanal em 2024 são um recorde para o mês de junho. Apenas nos 12 primeiros dias do mês, o bioma registrou 733 focos de incêndio, o número mais alto para toda a série histórica arquivada no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que começa em 1998.

Os números são 90% maiores que os do ano de 2020, quando o fogo destruiu 26% do bioma, no que é considerado o maior incêndio de sua história.

No compilado do ano inteiro, 2023 também supera o antigo recorde, com 3.262 focos de incêndio contra 2.534. Nesta segunda, o estado de Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência, por essa situação.

A seca foi alertada por Marina Silva há semanas. No entanto, como em outros assuntos, a pasta ambiental tem dificuldades para implementar medidas, sobretudo empacada pela ala política do governo e por outras prioridades do presidente Lula (PT).

Em 5 de junho, em evento ao lado do presidente, a ministra previu que o bioma poderia registrar uma tragédia climática tão grave quanto a causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul.

Defendeu também que fossem tomadas medidas extraordinárias para o combate ao fogo e lembrou que a situação da bacia hidrográfica da região era a mais preocupante já registrada pela ANA (Agência Nacional de Águas).

Mesmo assim, uma sala de situação sobre o tema só foi criada no último dia 14.

Em razão da situação alarmante, os servidores ambientais decidiram que as ações de combate ao fogo serão 100% mantidas mesmo durante a greve da categoria, que começou nesta segunda.Os brigadistas que atuam no pantanal têm sofrido com falta de infraestrutura, especialmente de aviões, para realizar as ações.

Sem o deslocamento rápido proporcionado pelos meios aéreos, as equipes precisam viajar de barco ou de carro, em percursos muito mais demorados, o que atrasa o controle do fogo e permite que ele se espalhe por grandes extensões de terra. Um agravante é a seca no rio Paraguai, que dificulta o transporte fluvial dos brigadistas.

Até a última sexta, o governo de Mato Grosso do Sul -estado onde há mais focos, especialmente no entorno de Corumbá (MS)- dispunha de dois aviões para o combate às chamas, capazes de lançar água, além de três helicópteros operados pela Polícia Militar que podem ser solicitados pelos bombeiros.

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) contava com apenas uma aeronave até então, empregada para identificar locais com incêndios.

Esse número, afirmaram à Folha de S.Paulo autoridades envolvidas nas ações, é insuficiente para a crise atual.

Atualmente, cerca de 250 profissionais atuam nos combates a incêndios, entre membros do Ibama, ICMBio (Instituto Chico Mendes) e Marinha, além dos bombeiros estaduais.

O Ibama deve receber mais cerca de 50 brigadistas e a Força Nacional também deve enviar cerca de 60 pessoas para auxiliar nas ações.

O governo também irá diminuir o intervalo entre a contratação de brigadistas, que hoje é de seis meses, para três.

Segundo Marina Silva, o planejamento de enfrentamento aos incêndios começou em outubro do ano passado e, em razão dos alertas de fogo, o governo antecipou as operações, que estavam previstas para agosto deste ano, para abril.

Tebet e Marina reforçaram também que é necessário que os fazendeiros da região parem de usar fogo para realizar desmatamento e enfatizaram que as queimas, mesmo as controladas, estão proibidas tanto em Mato Grosso quanto em Mato Grosso do Sul.

Leia Também: Brigadistas combatem fogo no rio Paraguai para salvar ribeirinhos do pantanal

Leia Também: Área queimada no pantanal em 2024 já é 54% maior do que em ano de destruição recorde

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