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Sob pressão para equilibrar as contas públicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, 26, que o governo realiza um pente-fino nos gastos da União, mas que é necessário saber se o "problema" é "cortar (gastos) ou aumentar a arrecadação". Ainda segundo ele, essa discussão está sendo feita com "muita tranquilidade", sem "levar em conta o nervosismo do mercado".
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A reação no mercado não demorou a aparecer: o dólar, já pressionado por fatores externos, deu um salto ainda no meio da manhã, e não recuou mais. Fechou a R$ 5,51, uma alta de 1,19%, no maior patamar desde 18 de janeiro de 2022. Nem o decreto formalizando o sistema de meta contínua de inflação nem as falas do secretário do Tesouro, Rogério Ceron, de que a equipe econômica tem "apoio total" de Lula, deram alívio. Só neste mês, a moeda acumula valorização de 5,12%.
"Estamos fazendo uma análise de onde tem gasto exagerado, que não deveria ter, onde tem pessoas que não deveriam receber e estão recebendo. E com muita tranquilidade, sem levar em conta o nervosismo do mercado, levando em conta a necessidade de manter uma política de investimento", disse Lula, em entrevista ao portal UOL. Em outro momento, porém, afirmou que o problema é outro: "O problema não é que tem de cortar, o problema é saber se precisa efetivamente cortar, ou se a gente precisa aumentar a arrecadação. Temos de fazer essa discussão".
Ainda na entrevista, Lula voltou a descartar a desvinculação do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência e de baixa renda, da política de valorização do salário mínimo, por não considerar o benefício como gasto. Também negou a intenção de rever a regra que garante reajuste real (acima da inflação) do salário mínimo - e que serve de indexador, por exemplo, para benefícios previdenciários.
"Salário mínimo é o mínimo que uma pessoa precisa para sobreviver. Se acho que vou resolver o problema da economia brasileira apertando o mínimo do mínimo, estou desgraçado. Não vou para o céu, ficaria no purgatório", disse.
Para o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, o governo "vai ter de provar a cada resultado primário e a cada reunião do Copom que está realmente comprometido com as metas fiscais e que o BC é autônomo".
No fim do dia, em entrevista a jornalistas, Lula ironizou a reação do mercado ("devem ter gostado") e disse que o Brasil "vive um bom momento". "Eu sei como faz, mas muito depende da circunstância econômica, do dólar nos EUA. Lamentavelmente, é assim. Mas temos de ter consciência de que o Brasil vive um bom momento", disse ele. "Não olhe a economia brasileira apenas pela macroeconomia que aparece na televisão."
Lula elogia Galípolo, mas diz que ainda não pensa na sucessão do BC
Lula da Silva afirmou que o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, é "um companheiro altamente preparado", mas que ainda não está pensando em quem vai escolher para ocupar o cargo de presidente do BC no lugar de Roberto Campos Neto - cujo mandato se encerra em dezembro. Ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Galípolo é visto até agora no mercado como o candidato mais forte ao posto.
Em entrevista ao portal UOL, Lula mencionou reunião na terça-feira, 25, no Palácio do Planalto, que contou também com a participação de Galípolo, na qual o presidente deu sinal verde para a implantação de uma meta contínua de inflação a partir de 2025 (mais informações na pág. B4). "O Galípolo veio aqui numa reunião em que a gente estava discutindo a meta inflacionária. A novidade foi estabelecer a meta contínua", disse.
Na sequência, Lula citou Galípolo como "companheiro preparado". "O Galípolo é um companheiro altamente preparado, conhece muito o sistema financeiro, mas eu ainda não estou pensando na questão do Banco Central. Chegará o momento em que vou pensar, e vou indicar um nome para presidente do Banco Central."
Na semana passada, Lula chegou a dizer que o novo presidente do BC será uma "pessoa madura" que não priorize apenas o controle da inflação. "Nós temos de pensar também no crescimento." Hoje, a única meta perseguida pelo BC é a da inflação. O receio no mercado é de que o governo passe a ter uma ingerência mais direta na definição dos juros a partir de 2025.
Autonomia
Lula voltou a criticar a autonomia do BC, status concedido por uma lei aprovada no Congresso em 2021 e que pode ser ampliada agora por uma nova proposta sob análise dos parlamentares. "Não preciso de uma lei para dizer que tem autonomia, eu preciso respeitar a função do Banco Central", disse. "A pergunta que faço é a seguinte: o Banco Central tem necessidade de manter a taxa de juros a 10,5% quando a inflação está a 4%?", questionou ele.
Lula prosseguiu: "O Banco Central leva em conta que pessoas estão tendo dificuldade em fazer financiamento? Porque é o seguinte, cara, não é culpa sequer do Banco Central, é culpa da estrutura que foi criada."
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC interrompeu um ciclo de sete cortes consecutivos da taxa básica de juros (iniciado em agosto do ano passado) e manteve a Selic em 10,50% ao ano. O resultado era amplamente esperado pelo mercado, em meio ao impasse do governo na condução da política fiscal e ao aumento das expectativas de inflação.
Mais do que o resultado, porém, a grande expectativa dos agentes econômicos era sobre o placar da decisão, depois do racha no colegiado em maio. Desta vez, houve consenso entre os integrantes do Copom para interromper os cortes.
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