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WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Em meio à crescente pressão para que abandone a candidatura à Casa Branca, o presidente Joe Biden partiu para o confronto contra o seu próprio partido nesta segunda-feira (8) na tentativa de dar um basta nas especulações sobre sua substituição na chapa democrata.
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Trata-se de uma semana crucial para o presidente, com a retomada das atividades do Congresso, após dias em recesso, a recepção de aliados estratégicos para a cúpula da Otan em Washington, e eventos de campanha.
Biden partiu para o ataque enviando uma carta a congressistas democratas pela manhã, em que defende ser a melhor pessoa para derrotar Donald Trump, repetindo discurso feito nos últimos dias. Pouco depois, ele participou do programa "Morning Joe", da MSNBC, um canal visto como simpático ao presidente. Falando de surpresa por telefone, ele desafiou os colegas contrários à sua candidatura.
"Estou ficando tão frustrado com as elites do partido", afirmou. "Qualquer um desses caras que acha que eu não deveria concorrer, concorra contra mim. Anuncie sua candidatura à Presidência, me desafie na convenção", disse Biden, em referência ao encontro marcado para agosto em que democratas vão oficializar seu candidato na disputa pela Casa Branca.
A entrevista não havia sido anunciada com antecedência pela Casa Branca, como é praxe. Depois, Biden participou de uma conversa por telefone com o comitê nacional de finanças de sua campanha, na qual reforçou a doadores que ele permanece na corrida e que é o melhor nome contra os republicanos.
Na agenda do presidente esta semana, estão previstos ainda um evento com sindicalistas em Washington na quarta, uma coletiva de imprensa na quinta -algo que ele fez pouquíssimas vezes em seu mandato- e uma viagem para Detroit, no estado-pêndulo de Michigan, na sexta.
Os gestos acontecem um dia após a notícia de que cinco deputados do alto escalão do partido do presidente afirmaram que ele deveria desistir do pleito em um telefonema organizado pelo líder da minoria democrata na Câmara, Hakeem Jeffries.
Com a volta de congressistas a Washington nesta segunda, a campanha de Biden teme novas defecções entre sua própria base. "É hora de encerrar isso", afirmou Biden na carta de duas páginas, em referência às dúvidas e ao que chamou de especulação. "Nós temos um trabalho. Derrotar Donald Trump."
O presidente, no entanto, não aborda explicitamente na carta o principal problema de sua campanha: sua capacidade física e cognitiva de ser candidato e presidente novamente, após a performance desastrosa do debate realizado no final de junho reforçar os temores de eleitores em relação à sua idade -81 anos.
"Tive extensas conversas com a liderança do partido, autoridades eleitas, membros da base, e, mais importante, eleitores democratas nos últimos dez dias. Ouvi as preocupações das pessoas -seus medos e inquietações de boa fé sobre o que está em jogo nesta eleição. Não sou cego a elas. Acreditem, eu sei melhor do que ninguém a responsabilidade e o peso que o indicado do nosso partido carrega. Eu carreguei isso em 2020, quando o destino da nossa nação estava em jogo," escreve o presidente no texto.
"Também sei que essas preocupações vêm de um lugar de respeito genuíno pelo meu tempo de serviço público e pelo meu histórico como presidente", segue Biden. "Posso responder a tudo isso dizendo clara e inequivocamente: não estaria concorrendo novamente se não acreditasse absolutamente que sou a melhor pessoa para vencer Donald Trump em 2024."
O presidente argumenta que foi escolhido como candidato pelas primárias do partido, processo no qual recebeu 14 milhões de votos, ou 87% do total. "Os eleitores do Partido Democrata votaram. Eles me escolheram para ser o nomeado do partido. Nós dizemos agora que este processo não importou? Que os eleitores não têm participação?", questiona. "Como podemos defender a democracia na nossa nação se a ignorarmos em nosso próprio partido?"
Em um tom confrontativo, o democrata diz que a decisão sobre quem é o candidato da chapa cabe a esses eleitores, não a "imprensa, analistas, grandes doadores, ou qualquer grupo de indivíduos seletos, não importa o quão bem-intencionados".
Biden segue o texto fazendo uma longa defesa de seus três anos e meio de governo, citando avanços na economia, em contraste com ameaças que atribui a um retorno do republicano à Casa Branca, sobretudo à democracia e ao direito ao aborto, repetindo a estratégia que sua campanha tem adotado até agora.
"Qualquer enfraquecimento da determinação ou falta de clareza sobre a tarefa à frente só ajuda Trump e nos prejudica. É hora de nos unirmos, avançar como um partido unificado e derrotar Donald Trump", conclui o presidente.