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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Investigação da Polícia Federal aponta que a estrutura da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) foi utilizada de forma clandestina para interferir em investigação sobre Jair Renan Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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Trocas de mensagens obtidas pela PF mostram agentes a serviço da Abin discutindo o monitoramento de pessoas relacionadas a inquérito que apurava suposta atuação de Renan para favorecer empresários em discussões do governo federal.
Nos diálogos, o agente da PF Marcelo Araújo Bormevet e o militar Giancarlo Gomes, ambos cedidos à agência de inteligência à época, citaram monitoramento de Allan Lucena, ex-sócio de Renan, e do advogado Paulo Belmonte.
Bormevet e Giancarlo estão entre os alvos de mandados de prisão preventiva em operação da PF realizada nesta quinta-feira (11) sobre a chamada "Abin paralela".
Em trecho de conversa de março de 2021 destacada no relatório policial, Bormevet afirma que "o endereço dele [Allan Lucena] é aqui perto de casa, vou lá à noite". Em resposta, Giancarlo diz: "Acho que podemos ficar monitorando para ver quando vai ser o próximo evento e aí damos uma passada lá".
A conversa ainda reforçou as suspeitas da PF sobre uso ilegal do software espião FirstMile em ações de monitoramento. Isso porque Giancarlo afirma que a ferramenta estava fazendo falta para acompanhar Lucena. "Colocava para monitorar o dia inteiro e preferencialmente à noite, aí saberíamos os passos dele".
Em outro diálogo destacado no relatório, Bormevet pergunta a Giancarlo quais carros estão em nome de Renan e Ana Cristina Siqueira Valle, mãe do "filho 04" de Bolsonaro. Em seguida, Bormevet afirma "msg do 01".
A PF não chega afirmar que o agente fazia referência a Bolsonaro, que tem "01" como um dos apelidos.
A defesa de Renan disse que não tem nada a declarar sobre o relatório que aponta interferência da Abin na apuração.
A investigação sobre suposta atuação do filho de Bolsonaro para favorecer empresários foi encerrada em 2022 pela Polícia Federal sem nenhum indiciamento.
Em fevereiro de 2024, Renan foi indiciado pela Polícia Civil do Distrito Federal sob suspeita de crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso e lavagem de dinheiro.
No relatório, a PF também afirma que os agentes cedidos à Abin também monitoraram o empresário Luis Felipe Belmonte.
O empresário estava na mira do inquérito da PF contra Renan por ter bancado reforma de escritório de empresa do filho do ex-presidente no período em que teria atuado junto ao Palácio do Planalto para legalizar mineração em terra indígena.
Em diálogo de setembro de 2020, Bormevet afirmou a Giancarlo que era preciso "achar podres" sobre Belmonte. "Matérias normais eu já tenho".
Em seguida, Giancarlo afirmou: "Vamos sequestrar isso sim. Ou achando podres vamos extorquir (sic)."
Na mensagem seguinte registrada pela PF, Bomevet diz que o empresário é "ligado à política, a precatórios e ao garimpo em Rondônia". "É o cara do Aliança em Brasília e no norte do país", afirmou ainda, em referência ao Aliança Pelo Brasil, partido que Bolsonaro tentou retirar do papel antes de se filiar ao PL.
Para a PF, os agentes cedidos à Abin levantaram informações sobre os investigados no inquérito que mirava Renan "que ao tempo da própria investigação não estavam disponíveis".
O uso clandestino da estrutura da Abin buscava "a produção de desinformação para fins pessoais visando obter vantagens políticas e econômicas", diz ainda a PF. "As vantagens políticas seriam advindas das ações clandestinas também seriam realizáveis por interferências diretas e indiretas em investigações que permeavam o nome do então presidente da república", afirma o relatório.
O empresário Belmonte disse à Folha de S.Paulo que não percebeu o monitoramento clandestino à época. "Se eu estava sendo monitorado indevidamente só tenho a lamentar, pois isso não se comporta em um estado de direito". Ele também negou atuação no Planalto para regulamentar o garimpo em terras indígenas.
A PF deflagrou nesta quinta-feira (11) a quarta fase da operação que investiga a chamada "Abin paralela" prendeu agentes que trabalhavam diretamente para Alexandre Ramagem, atual deputado federal, pré-candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro e ligado ao vereador Carlos Bolsonaro (PL), que também é investigado.