Rússia e Ucrânia falam juntas em paz pela 1ª vez desde 2022

A China, país que com o Brasil defende de forma mais assertiva que os rivais sentem-se à mesa, foi o mediador público da questão

© <p>Getty Images </p>

Mundo Guerra 24/07/24 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pela primeira vez desde que as negociações para encerrar a Guerra da Ucrânia fracassaram em 2022, os governos de Moscou e de Kiev falaram ao mesmo tempo em retomar o diálogo pela paz. Se o árduo caminho será trilhado enquanto os combates continuam, isso é incerto.

PUB

 

A China, país que com o Brasil defende de forma mais assertiva que os rivais sentem-se à mesa, foi o mediador público da questão durante a visita do chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, ao país.

Ele foi recebido para quase quatro horas de conversas pelo seu par Wang Yi nesta quarta (24). Ao fim da rodada, o chinês disse a jornalistas em Guangzhou que "Kuleba disse novamente que está pronto para engajar o lado russo em um processo de negociação em algum estágio, quando a Rússia estiver pronta para negociar de boa fé".

"Mas", disse Wang, "enfatizou que não vê tal prontidão do lado russo agora". Seria apenas o óbvio, dado que o governo de Volodimir Zelenski promoveu uma conferência unilateral de paz para discutir o fim da guerra em seus termos, no mês passado na Suíça.

A surpresa veio dos comentários imediatos em Moscou. "A mensagem em si pode ser vista em uníssiono com a nossa posição", disse em seu briefing diário o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov.

"Vocês sabem que o lado russo nunca recusou negociar, e sempre se manteve aberto ao processo de negociação. Mas os detalhes são importantes aqui, e ainda não sabemos nada deles", afirmou. Como se vê, ambos os rivais mantiveram uma posição dura, mas piscaram.

Isso não ocorria abertamente desde o início do conflito. Após a invasão russa de fevereiro de 2022, delegações dos dois países se reuniram seis vezes, três em Belarus, três na Turquia -na última ocasião, com a presença do presidente Recep Tayyip Erdogan, ávido em selar sua posição de mediador entre a Otan (aliança militar ocidental) que integra e Putin.

Depois, o mês de abril viu líderes ocidentais e russos conversarem sobre as propostas, cada vez mais consideradas inaceitáveis de lado a lado. Um fator central ocorrera no fim de março, com a retirada das forças russas do cerco a Kiev.

A derrota fortaleceu a posição ucraniana de não negociar, e viu aumentar o fluxo de apoio militar ocidental a Zelenski. Diplomatas russos dizem que a retirada foi necessária para evitar um desastre, mas também era um sinal de que Putin abriria mão de derrubar o presidente rival pelas armas.

Houve alguns contatos. Como a Folha relatou em março e o chanceler russo, Serguei Lavrov, confirmou em uma entrevista na semana passada, um grupo de especialistas em relações internacionais foi formado com russos e americanos.

Sem poder decisório, ao longo de um ano eles debateram questões como a neutralidade da Ucrânia e a eventual troca de terra pela paz -além da Crimeia, anexada em 2014, os russos ocupam boa parte do leste e do sul do vizinho, perfazendo algo como 20% do território ucraniano.

Segundo Lavrov, as discussões não lograram resultado prático. A agência Reuters disse que, por meio de intermediários, Putin fez em fevereiro uma proposta aos EUA, que vê como o real inimigo na guerra, de congelar o conflito, que também não prosperou.

Até aqui, há duas linhas de abordagem pela eventual paz. No mês passado, Putin colocou suas condições na mesa: Kiev precisa abandonar sua pretensão de ingressar na Otan, aceitar se desarmar e entregar as quatro províncias anexadas ilegalmente em setembro de 2022 por Moscou, que não as controla integralmente.

Kiev e o Ocidente recusaram a oferta, feita na véspera da cúpula internacional que reuniu 90 países simpáticos à Ucrânia na Suíça, que acabou sem consenso. Nas últimas semanas, o ucraniano tem dito que haverá uma segunda reunião e que os russos, desta vez, serão convidados. Mas insiste que será para discutir a paz em seus termos.

Há também o fator Donald Trump, o republicano que pode voltar à Casa Branca e já disse que vai impor uma paz imediata, sugerindo o fim do apoio a Kiev. O premiê húngaro, Viktor Orbán, é aliado tanto do americano quanto de Putin, e encontrou-se com ambos, além de Zelenski, enquanto ocupa o papel de presidente temporário da União Europeia.

Ocorre que ele foi desautorizado pelos líderes europeus, que o acusam de ser peão do Kremlin. Aí entrou a China, que por ser a maior aliada de Putin, é vista também como o único país capaz de mediar de forma eficaz as conversas. Isso é rejeitado publicamente no Ocidente, por pressupor que Pequim tem lado, mas no bastidor é diferente.

A viagem de Kuleba foi a do mais alto representante de Kiev à China desde a invasão. A resposta de Peskov sugere um jogo combinado, mas por evidente há um longo caminho para que a disposição mostrada se torne algo concreto.O amargor do conflito, que neste ano tem os russos numa lenta e sangrenta ofensiva, e diferenças enormes de visão de mundo são empecilhos grandes.

O processo é temperado pela eficácia tardia de um tipo específico de sanção econômica contra Moscou, ameaçando de forma secundária bancos chineses que fazem negócios com os russos. Isso tem derrubado o comércio entre os aliados, que no ano passado chegou ao maior nível histórico e é um seguro contra o isolamento econômico imposto pelo Ocidente, até aqui driblado por Putin.

Os chineses usaram a carta comercial. Segundo uma porta-voz da chancelaria, Mao Ning, "a China irá continuar a expandir sua importação de alimentos da Ucrânia". "Apesar de as condições não estarem maduras, estamos dispostos a ter um papel construtivo para trazer um cessar-fogo e a volta das negociações".

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

mundo Cazaquistão Há 21 Horas

Avião com 72 pessoas a bordo cai no Cazaquistão; há sobreviventes

fama Justiça Há 16 Horas

Ex-bailarina do Faustão tem habeas corpus negado e vai passar o fim de ano na prisão

esporte Prisão Há 21 Horas

Por que Robinho não teve direito à 'saidinha' e vai passar Natal preso

fama Festas Há 21 Horas

Cachorro de Anitta some na noite de Natal: 'ainda vai me matar do coração'

fama Televisão Há 20 Horas

SBT desiste de contratar Pablo Marçal e terá Cariúcha em novo Casos de Família

fama Saúde Há 14 Horas

Filho de Faustão fala sobre a saúde do pai após transplantes

fama Música Há 21 Horas

Hit natalino de Mariah Carey entra na 17ª semana em primeiro na Billboard

economia Consumos Há 21 Horas

Saiba como evitar o aumento da conta de luz durante o verão

politica STF Há 21 Horas

Moraes diz que Daniel Silveira mentiu ao usar hospital como álibi e mantém prisão

justica Investigação Há 20 Horas

Duas pessoas morrem e três estão internadas após comerem bolo em Torres (RS)