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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar tem queda firme nesta terça-feira (6), em movimento de correção global após a enorme aversão ao risco que marcou a sessão de ontem.
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Às 11h24, a moeda norte-americana recuava 1,35%, cotada a R$ 5,661 na venda.
Já a Bolsa brasileira tinha alta de 0,30%, aos 125.640 pontos, também embalada pelo tom mais duro da ata do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada mais cedo nesta manhã.
Os mercados globais engataram em movimento de recuperação nesta terça, depois de temores de uma recessão nos Estados Unidos tomarem conta dos investidores na véspera.
Bolsas derreteram com a fuga de investimentos considerados de risco, como é o caso de mercados acionários e emergentes. O principal índice do Japão, na segunda-feira, chegou a perder mais de 12% e teve o mecanismo de "circuit breaker" -uma espécie de "disjuntor" que trava negociações em meio a grandes flutuações- acionado ao longo do pregão.
Porém, nesta terça, a Bolsa japonesa se recuperou e fechou em forte alta de 10,23%. A performance se refletiu em outros mercados asiáticos com o índice Kospi, da Coreia do Sul, fechando em alta de 3,3% nesta terça. O índice de ações de Taiwan, que teve sua pior venda da história na segunda-feira, se recuperou e valorizou 3,38%.
Já na China, o índice CSI300, que reúne as maiores companhias em Xangai e Shenzhen, fechou praticamente estável com uma queda de 0,01%. Em Xangai, a Bolsa subiu 0,23%.
Os temores de contração da maior economia do mundo ganharam força na sexta-feira, após a divulgação de dados de mercado de trabalho vierem abaixo do esperado.
O "payroll" (folha de pagamento, em inglês) mostrou que os EUA criaram 114 mil vagas no mês passado, ante expectativa de 175 mil, e a taxa de desemprego cresceu para 4,3%, quando agentes financeiros esperavam manutenção em 4,1%.
Os novos dados acionaram a chamada Regra de Sahm, que vincula o início de uma recessão ao momento em que a média móvel de três meses da taxa de desemprego sobe pelo menos 0,5 ponto percentual acima da mínima de 12 meses. Em agosto do ano passado, o índice estava em 3,8%, o que coloca a taxa atual exatamente no gatilho.
O derretimento no Brasil, porém, foi contido pela disparada do Bradesco na Bolsa e por dados de atividade do setor de serviços dos EUA. Aqui, o dólar fechou em alta de 0,53%, aos R$ 5,739, e a Bolsa perdeu 0,46%, aos 125.269 pontos.
O PMI (índice de gerente de compras, na sigla em inglês) mostrou que o setor se recuperou mais do que o esperado para o mês de julho, a 51,4. A expectativa era de que o índice subiria para 51, após marcar 48,8 em junho, o nível mais baixo desde maio de 2020. Uma leitura acima de 50 indica crescimento da atividade.
Além disso, uma autoridade do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) ajudou a apaziguar os ânimos na véspera. Austan Gooslbee, presidente do Fed de Chicago, disse que, embora os dados de emprego tenham sido mais fracos do que o esperado, não parece haver uma recessão a caminho.
Operadores agora esperam que o banco central norte-americano faça um corte nos juros pela primeira vez em mais de dois anos, na reunião marcada para setembro. As apostas se dividem: 75,5% dos investidores esperam uma queda de 0,5 ponto percentual, enquanto os 24,5% restantes esperam 0,25, segundo a ferramenta CME FedWatch.
Na faixa atual de 5,25% e 5,50% desde julho de 2023, a taxa de referência é a mais alta em mais de duas décadas. Para alguns investidores, a percepção é de que o Fed talvez tenha esperado tempo demais para iniciar o ciclo de afrouxamento.
"O Fed pode ter dormido no ponto. Em especial na figura do presidente Jerome Powell, a autarquia foi mais leniente no começo do ano, momento em que os dados de inflação estavam vindo estranhamente elevados. Nestas últimas semanas, quando os dados começaram a vir de forma mais moderada, o Fed tentou consertar a rota vindo um pouco mais contracionista do que o necessário", diz César Garritano, economista-chefe da SOMMA Investimentos.
Na cena doméstica, o mercado também repercutia a ata do Copom, que reafirmou o compromisso com a convergência da inflação à meta e disse que não hesitará em subir a taxa Selic mais uma vez, caso necessário.
A ata, na visão da equipe de pesquisa macroeconômica do Itaú, transmite que o comitê está atento às perspectivas de inflação e pronto para subir os juros caso o câmbio continue deteriorado.
"Como acreditamos que o real se fortalecerá nas próximas semanas, à medida que os mercados globais se acalmarem, mantemos, por enquanto, a previsão de que a Selic permanecerá em 10,50% ao ano", afirmou a equipe em relatório a clientes.
"Se o câmbio não reagir, um ciclo de alta, começando em setembro, será inevitável."
Na visão do economista-chefe da Azimut Brasil WM, Gino Olivares, a ata reforçou a mensagem mais dura do comunicado que acompanhou a decisão do BC na semana passada e mostra um Copom coeso e comprometido com o objetivo de levar a inflação à meta.
"Num cenário que, por diversos fatores, está ficando cada vez mais incerto, agora temos uma incerteza a menos", pontuou.
No meio corporativo, o Ibovespa se beneficiava do avanço em bloco de grandes bancos. Bradesco tinha forte alta de 3%, ainda embalado pela repercussão positiva do balanço trimestral, e Itaú subia 1,70%, antes de divulgar os dados do último trimestre.
Vale e Petrobras, porém, continham maiores ganhos. A mineradora recuava 0,70%, em meio à desvalorização do minério de ferro na China, e a petroleira perdia 0,50%, com investidores também atentos ao balanço trimestral que será divulgado na quinta-feira.