© Getty
"Nós esperávamos, em função do que está acontecendo no mundo, que houvesse alguma mexida na inflação deste ano. Nós vamos acompanhar com calma. O BC (Banco Central) já parou os cortes (de juros) e vamos analisar com calma. Tem muita coisa para acontecer este ano ainda, sobretudo no cenário internacional. Temos de ter cautela agora", disse o ministro. "Nós estamos acompanhando, tomando as medidas necessárias. O BC tem falado a respeito, o dólar teve uma queda significativa nos últimos dias, e a gente espera que esses números (da inflação) convirjam para patamares inferiores."
Puxado pelos reajustes dos preços da gasolina, passagens aéreas e energia elétrica, o IPCA acelerou de uma alta de 0,21%, em junho, para um avanço de 0,38% no mês passado, informou ontem o IBGE.
Como consequência, a taxa acumulada em 12 meses subiu pelo terceiro mês consecutivo, chegando a 4,50% em julho, alcançando, assim, o teto de tolerância da meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2024 - o centro da meta é de 3%.
Haddad acrescentou que novas ações agora do BC em relação aos juros vão afetar não a inflação corrente, mas a de 2026. "Você não vai corrigir a inflação de 2024 aumentando o juro. Você tem de ver a trajetória da inflação ao longo dos meses para saber qual é o remédio adequado para conter um eventual aumento de preços. Inclusive houve boas notícias em relação à cesta básica, preços de alimentos. Nós temos de acompanhar sem ansiedade e tomar as medidas necessárias para o Brasil continuar crescendo, e a renda do trabalhador continuar subindo", defendeu ele.
Mudança de tom
O BC já disse que "não hesitará" em elevar a taxa de juros "para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado". A mensagem apareceu na ata referente à última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que terminou com a manutenção da Selic em 10,5% ao ano.
A mudança de tom levou parte dos agentes de mercado a reconhecer que o comitê deixou uma porta aberta para uma possível elevação do juro à frente, como citaram casas como Bradesco e Itaú Unibanco, enquanto a XP Investimentos avaliou que a chance de alta da Selic "está subindo". Ainda assim, a estimativa predominante no mercado é de manutenção dos juros no atual patamar até o fim do ano.
De acordo com o documento, a avaliação do BC é de que a política monetária se manterá contracionista por tempo suficiente em patamar que não só consolide o processo desinflacionário, como também a ancoragem das expectativas (ou seja, até que as estimativas do mercado fiquem mais próximas das metas oficiais).
Em evento ontem, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que a autarquia "tem votado de forma coesa e unânime, mostrando seu compromisso no atingimento da meta". "Eu tenho confiança de que isso vai ser feito após minha saída", acrescentou ele, que deixa o cargo o fim do ano. A troca de comando tem alimentado no mercado o receio de que, a depender do nome indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o BC possa assumir uma posição mais leniente em relação à inflação.
Campos Neto ressaltou ainda a importância de proteger a credibilidade do BC com decisões técnicas, para além de questões políticas. "O Banco Central tem demonstrado comportamento bastante técnico, tem tentado ficar um pouco distante do ruído político e do dia a dia." (COLABORARAM GIORDANNA NEVES e FRANCISCO CARLOS DE ASSIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
PUB