© Carl Court/Getty Images
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com o esforço de Kiev na invasão da região russa de Kursk pressionando Moscou, mas expondo o leste da Ucrânia a um colapso militar, os rivais viveram uma das maiores trocas de fogo usando drones desde que Vladimir Putin lançou sua invasão em 2022.
PUB
A Rússia disse ter abatido 45 drones durante a madrugada desta quarta (21, noite de terça no Brasil) em cinco regiões do país. A capital, Moscou, foi objeto de um dos maiores ataques na guerra, com 11 aparelhos derrubados.
Três dos quatro aeroportos da cidade ficaram fechados até o começo da manhã por medida de segurança. Ainda que os números não sejam aferíveis, não há relatos de estragos na capital -desde que tais ações começaram, no fim de 2022, as defesas aéreas moscovitas foram reforçadas, e as explosões de abate foram registradas em regiões afastadas do seu centro.
Houve ao menos uma morte em decorrência do ataque, segundo o governo por causa de destroços, justamente em Kursk.
Já Kiev, que costuma dar uma igualmente pouco confiável relação entre ataques e abates, disse ter derrubado 50 de 69 drones em todo o país. Também foram empregados dois mísseis balísticos, que atingiram alvos, e um de cruzeiro, que foi interceptado segundo os militares.
É um ataque grande, ainda que não esteja entre os maiores já feitos neste conflito, mas a intensidade da troca de drones é inédita. A lógica russa é de desgaste de defesas aéreas, enquanto a Ucrânia busca atingir alvos simbólicos ou com valor econômico, como refinarias.
O ataque a Moscou, principalmente, tem um caráter mais psicológico, no momento em que Putin tem de enfrentar forças rivais no próprio solo, algo que não acontecia na Rússia desde que os tanques nazistas cruzaram as fronteiras soviéticas em 1941.
Em Kursk, os ataques ucranianos seguem pontuais, com ao menos uma bateria antiaérea russa destruída segundo os invasores. Mas a ofensiva, iniciada há duas semanas, perdeu por ora o fôlego inicial: os ganhos territoriais estacionaram, restando saber se para uma segunda fase ou por exaustão.
A humilhação militar na região obrigou uma reação de Moscou que, se foi lenta, acabou por estruturada nesta semana. Mais importante para o curso da guerra, a aparente concentração de recursos de primeira linha por Kiev na ação incentivou Moscou a pressionar ainda mais o leste do país.
Nesta quarta, o Ministério da Defesa russo confirmou o controle de Jelane, cidadezinha próxima de Pokrovsk, principal objetivo da atual ofensiva russa por seu um centro logístico e entroncamento ferroviário importante.
O presidente Volodimir Zelenski já disse que a situação é difícil na região, e a evacuação dos cerca de 60 mil moradores da cidade está em curso. Se cair, o território restante da província de Donetsk em mãos de Kiev será cortado em dois, e há o risco de um colapso militar da defesa da Ucrânia por lá.
Com isso, a surpreendente ação em Kursk ganha a roupagem de uma cartada arriscada para Zelenski. A própria narrativa de Kiev é errática: ora a ação visa proteger a região vizinha de Sumi e obrigará uma zona-tampão, ora não há pretensão territoriais, e sim a vontade de forçar os russos a negociar.
A última opção, que foi identificada publicamente por Putin, vai em linha com as tratativas que vinham ganhando corpo nas últimas semanas. Com a ação, contudo, ficará difícil para o Kremlin topar uma negociação -a ideia de que não controla uma fração, ainda que mínima, de seu país é fatal para a imagem construída pelo russo em 25 anos de poder.
A linha-dura dá suas mensagens, também. O ex-presidente Dmitri Medvedev, que ocupa um cargo lateral no Conselho de Segurança do país, disse nesta quarta no Telegram que agora só há espaço para derrota total do vizinho. É um exagero típico, mas que reflete parte da opinião dos grupos dominantes.
Na frente política, Putin recebeu nesta quarta o premiê chinês, Li Qiang, para conversas. Pequim vinha capitaneando as conversas principais sobre um cessar-fogo, apesar de seu posto de principal aliada de Moscou criar resistências no Ocidente.
Já Zelenski receberá pela primeira vez nesta semana Narendra Modi, o premiê indiano que havia visitado Putin no mês passado. A Índia é uma aliada da Rússia, e se absteve de condenar a invasão de 2022. Mas seus laços com o Ocidente e a rivalidade com a China, amparados no seu poderio econômico e militar, lhe dão um status de neutralidade para buscar influir na crise.