© REUTERS / Leah Millis
CHICAGO, EUA (FOLHAPRESS) - Seguindo a deixa de Barack Obama, o ex-presidente Bill Clinton aproveitou seu discurso na convenção democrata nesta quarta-feira (21) para zombar de Donald Trump e apresentar Kamala Harris como "a presidente da esperança".
PUB
Visivelmente envelhecido, Clinton fez um discurso com uma voz rouca, e por vezes foi difícil entendê-lo –mas aproveitou isso para cutucar Donald Trump. "Eu completei 78 anos há dois dias, mas ainda sou mais jovem do que Donald Trump", disse.
O longo discurso, com muitas digressões em relação ao texto antecipado a jornalistas, não foi o dos mais empolgantes do evento até agora. Não chegou nem perto da reação que mulher, Hillary, provocou.
Mas o ex-presidente conseguiu arrancar risadas. Um dos momentos altos foi quando ele abordou as seguidas menções feitas por Trump ao canibal Hannibal Lecter, do filme "O Silêncio dos Inocentes". O republicano tem citado o personagem ao falar que países do mundo estão enviando criminosos e pacientes de instituições psiquiátricas aos EUA, que atravessariam a fronteira ilegalmente.
Ao falar de como outros líderes do mundo enxergam os americanos, Clinton questionou "o que eles vão pensar com todos esses tributos ao 'grande' Hannibal Lecter". "Uma vez Obama me chamou de 'o explicador-no-comando'. Mas eu pensei muito sobre isso, e nem eu sei como explicar", completou.
O ex-presidente também mencionou a preocupação de Trump com o tamanho das multidões em comícios –referência que Obama usou para fazer uma piada de duplo sentido na véspera.
"No debate, Trump disse, na cara dura, que ninguém mais respeita os EUA como quando ele era presidente. Ele é um bom ator, você tem que reconhecer", disse. Mantendo o tom irônico, Clinton emendou: "ele usou como evidência desse respeito os presidentes da Coreia do Norte e da Rússia".
Mas Clinton também aproveitou para fazer um alerta de que, apesar de toda a empolgação da convenção, a vitória está longe de estar garantida.
"Outro dia nosso oponente disse que se as pessoas votarem nele, não terão mais que votar. Parece que ele está brincando, mas eu conheço essas pessoas. Alguns pensam que podem dominar os EUA política, econômica e socialmente fraudando o sistema", afirmou.
"Vimos mais de uma eleição escapar das nossas mãos. Pensamos que isso não poderia acontecer, as pessoas se distraíram com falsos problemas", disse, aludindo à derrota de Hillary para Trump em 2016. "Esse é um negócio duro, brutal."
Ao tom sombrio, ele contrastou Kamala. "Quando ela era estudante, trabalhou no McDonald's. Ela cumprimentava cada pessoa com um sorriso largo e dizia 'como posse te ajudar?'. Agora, no topo do poder, ela ainda está perguntando 'como posse te ajudar?".
"Não tem um dia que passe apesar de eu estar há mais de 20 anos fora da Casa Branca que eu não agradeça a Deus pela chance que eu tive de servir como presidente. Uma das razões que eu amo tanto esse trabalho é que, mesmo nos dias mais difíceis, se você tentar o suficiente, há sempre algo bom que você pode fazer por alguém", afirmou, provocando um dos principais momentos de aplauso do público.
Clinton afirmou que encara a eleição como um momento em que, a cada quatro anos, eleitores tomam a decisão de quem querem contratar como presidente. "Na prática, o povo americano diz: 'aqui estão nossos problemas; resolva-os. Aqui estão nossas oportunidades; aproveite-as. Aqui estão nossos medos; alivie-os. Aqui estão nossos sonhos; ajude-nos a realizá-los'", disse.
"Eu sei qual candidato eu prefiro para o nosso país. Kamala Harris vai resolver nossos problemas, aproveitar as oportunidades, aliviar nossos medos e garantir que todo americano possa correr atrás dos seus sonhos", completou.
"Orça de um homem que já foi chamado de o presidente da esperança por essa convenção: nós precisamos que Kamala seja a presidente da alegria."
Clinton também fez uma homenagem a Joe Biden, comparando o presidente e George Washington.
"Talvez o maior teste para qualquer pessoa no poder seja se ela está disposta a renunciar a ele. George Washington sabia disso, e isso valorizou o seu legado. O mesmo vale agora para Joe Biden. É um contaste com o que acontece no outro partido", disse.
"Senhor presidente, obrigado por sua coragem, compaixão e elegância; por seu serviço e sacrifício. Você não apenas manteve a fé –você está espalhando a fé."
Outro destaque da noite foi a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi, 84, uma das principais lideranças do Partido Democrata e apontada como articuladora da desistência de Joe Biden na disputa à Casa Branca. Em seu discurso, agradeceu ao presidente e enalteceu o atual governo.
"Milhões de empregos. Infraestrutura mais robusta. Homenagens aos nossos veteranos. Ação climática ousada. Diminuição dos custos de medicamentos prescritos. Tudo graças à visão patriótica do presidente Biden sobre uma América mais justa", disse ela. "E Kamala está pronta para nos levar a novos patamares."
Pelosi afirmou que os americanos precisam rejeitar a autocracia, em referência a Trump, embora não o tenha mencionado nominalmente. Também citou o 6 de Janeiro, quando uma turba incentivada pelo líder republicano invadiu o Capitólio, em 2021, numa tentativa de impedir a certificação da vitória de Biden. E emendou críticas ao empresário.
"Nunca antes um presidente dos Estados Unidos atacou tão descaradamente a base da nossa democracia, abraçou tão alegremente a violência política e traiu tão deliberadamente o seu juramento de posse", disse, sob aplausos. "E nós demonstramos, para a América e para o mundo, que a democracia prevaleceu."
Figura icônica do Partido Democrata, Pelosi comandou a bancada da legenda na Câmara por duas décadas. Os anos de trabalho, disse, fizeram com que ela conhecesse bem Tim Walz, o candidato à vice na chapa de Kamala e que também tem currículo extenso na Casa. "Tive a honra de servir com Tim por 12 anos no Congresso. Ele uniu democratas, republicanos e independentes para transformar um distrito vermelho em azul", disse. Atual governador de Minnesota, Walz foi deputado de 2007 a 2019.
O governador Josh Shapiro, da Pensilvânia, estado que será decisivo em novembro, também discursou na convenção. Shapiro era um dos nomes mais cotados para completar a chapa de Kamala, mas foi preterido quando a democrata escolheu Walz.
"Donald Trump se cobre com o manto da liberdade", disse Shapiro, "mas não é liberdade dizer a crianças que livros elas devem ler, a mulheres o que fazer com seus corpos, e não é liberdade dizer: você pode votar, mas é ele que decide o vencedor", afirmou, em ataques a Trump.
Leia Também: Quem são os bilionários que financiam as eleições dos Estados Unidos?