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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A humorista Bruna Louise, 39, bateu neste julho o recorde de público em um show solo de stand-up em Belo Horizonte, uma das principais cidades para o gênero artístico no Brasil. Primeira mulher brasileira a ter um espetáculo do tipo na Netflix, ela impulsiona a indústria e as mulheres com piadas sobre cotidiano, sexualidade e improvisos com a plateia.
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"Desde criança eu gostava de fazer piada. A minha família só tem mulher, uma família italiana. Era a minha avó xingando, mandando todo mundo tomar no c. a cada cinco minutos. Tinha um astral só entre nós, mulheres, que era de muita comédia", conta a humorista.
Além da mãe, Louise tem duas tias, que só tiveram filhas mulheres. O único casamento duradouro foi da tia lésbica, a quem ela carinhosamente chama de "sapatia". Com elas, a humorista disse que aprendeu a se virar sozinha, correr atrás do que quer e a ser ambiciosa com sua carreira. No momento, prioriza a si mesma acima de qualquer relacionamento.
"É muito difícil para uma mulher que tem uma carreira ter um relacionamento porque o cara se sente em segundo plano, deslocado, intimidado. Quanto maior é o meu apartamento, com menos homem eu transo. Quando eu aluguei a minha cobertura, que tem o pé direito alto, eu falei 'nenhum pau nunca mais vai subir'."
Em três dias e sete sessões, a curitibana se apresentou para 10.750 pessoas no teatro BeFly Minascentro em julho, de acordo com a produção do evento. Nenhum humorista tinha sozinho ultrapassado 10.000 espectadores na cidade até então, de acordo com os produtores. Ela está com a agenda lotada até o dia 22 de dezembro. Vai percorrer 12 estados brasileiros e nove cidades portuguesas.
A humorista Dani Calabresa, que acompanha Louise desde 2015, comemora o sucesso da colega na indústria. "A Bruna tem um humor espontâneo, de cara limpa, que reflete a personalidade dela. Sua evolução foi tipo Uber foguete. É uma profissional bastante completa e certamente está entre os principais comediantes do país."
O produtor Bruno Berg, sócio da produtora das sessões que a levaram ao recorde, acompanha Louise desde 2019. O primeiro show que a BH Comedy Club produziu para ela era de uma sessão para 350 pessoas. Segundo Berg, a indústria do stand-up não está no melhor momento, mas diz que a humorista é uma das que mais crescem no Brasil.
"A Bruna teve um salto enquanto outros mantiveram seus públicos. O humor feminino tem sido alvo de ataques muito fortes na internet. Eu brinco que quanto mais falam mal, mais a Bruna cresce", diz.
Há quem critique o excesso de palavrões em seu vocabulário. Para isso, ela tem duas respostas: "A primeira é 'ah, vai tomar no teu c.'. A segunda é que, cara, se eu tivesse tempo e tecnologia, eu faria uma contagem de palavrões de um vídeo de stand-up de um homem e de um vídeo de stand-up meu. Eu te garanto que eu não falo mais palavrão que homem. É só machismo."
Ela também é criticada por falar muito de sexo, mas insiste que não fala nem menos, nem mais do que qualquer outro homem: "A sexualidade vinda de uma mulher sempre é mais chocante. Agora eu tenho o microfone na mão falando, 'é, o teu pau é mole' e sendo engraçada. Para eles, é um grande pavor."
Mesmo assim, seu público é bem diverso, com homens e mulheres, héteros e LGBTQIA+, jovens e velhos, diz.
A curitibana foi a primeira mulher brasileira a ter um espetáculo de stand-up na Netflix. Para comemorar o lançamento de "Demolição", em 2022, ela projetou uma imagem de si mesma, acompanhada da hashtag #FogoNoPatriarcado, em prédios da rua Consolação, uma das principais de São Paulo.
Louise começou no teatro aos 15 anos. Queria ser atriz, mas sempre foi da turma dos engraçadinhos na escola. Usava o humor para se equiparar aos meninos, zoando antes de ser zoada, e gostava de fazer as pessoas rirem. Dentro da sua cabeça de 13 anos, foi assim que ela conquistou o respeito dos colegas.
"Eu brinco que eu era uma péssima atriz, porque eu fazia drama e as pessoas riam. Um dos meus professores favoritos quando eu estava no ensino médio era o de química. Ele ficava fazendo piada comigo para eu responder rápido com piada. Como se fosse uma briga, mas ele me dava uma zoada para me ouvir zoando de volta", conta.
Com 25 anos, um colega a desafiou a escrever e apresentar um texto de stand-up de dez minutos. Ela levou alguns meses para criar coragem. Começou interpretando duas personagens: uma professora que não gostava de criança e uma funkeira carioca que não tinha um braço. "O stand-up é muito assustador para gente que vem do teatro porque é de uma liberdade imensa e de um abismo. Eu senti essa necessidade de estar quase que escondida num personagem."
Até que, numa quinta-feira, noite de frio e cólica em que se apresentaria num barzinho, a curitibana desistiu de ir ao banheiro trocar de roupa. Adaptou as piadas para se apresentar como ela mesma. Hoje, faz uma comédia que considera mais autoral, contando perrengues e situações cotidianas. Diz que os comediantes encaram o mundo de um jeito diferente, vendo piada nas desgraças da vida, uma maneira de lidar com o cotidiano.
Apresentar-se num palco é enfrentar a frustração a cada nove segundos, tempo médio de intervalo entre piadas, conta Louise. Mas fazer terapia e ter amigos humoristas ajuda a manter a cabeça no lugar. "Independente do que acontece na minha vida, eu tenho que subir no palco e fazer o povo rir. Isso é difícil. Uma coisa muito triste foi o falecimento da minha avó. Eu tinha show no dia. Cheguei no teatro arrasada e saí bem. A plateia me fez bem."
No início da carreira, a humorista era conhecida por sua amizade com a influenciadora Kéfera Buchmann, com quem postava vídeos. As duas acabaram se afastando. Rumores de uma briga entre elas tomaram as redes na época. Nesta segunda-feira (19), Buchmann falou sobre a polêmica durante o programa do YouTube "De frente com Blogueirinha", afirmando que a comediante curitibana insinuou por mensagens que era apaixonada por ela e havia "confundido as coisas".
Em resposta, a humorista disse à reportagem: "quem quiser saber, vou falar no palco". Nesta, quarta-feira (21), ela publicou um vídeo em suas redes durante um show, em que ela comenta o caso: "Eu nunca achei que eu ia virar notícia por causa de fofoca. Saiu em tudo quanto é lugar. Eu já conquistei tanta coisa no meu trabalho, eu tenho tanto orgulho dos meus feitos, e o que que vira notícia? Eu confundindo as coisas. A sociedade ama reforçar a rivalidade entre duas mulheres".
Prestes a fazer 40 anos, Louise acha que ainda tem muito espaço para crescer na carreira. Quer levar o stand-up para cada vez mais gente, acompanhada de outras comediantes mulheres. Ela faz um show chamado "Juntas" todo fim de mês na cidade de São Paulo, em que convida outras mulheres do meio para se apresentarem com ela.
"Tem muita mulher boa hoje, só que os caras têm uma dificuldade de aceitar. Em parte é vaidade minha, mas eu falo que se eu tiver uma grande trajetória, os produtores e contratantes vão parar de torcer o nariz para as mulheres."