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CAROLINA LINHARESSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar de esperar o crescimento obtido por Pablo Marçal (PRTB) no Datafolha, a campanha de Ricardo Nunes (MDB) amargou más notícias com a oscilação negativa do prefeito na pesquisa e agora aposta na briga entre o influenciador e a família Bolsonaro, que envolveu ações de convencimento nos bastidores.
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Marçal subiu sete pontos e está empatado na liderança. Ele marcou 21%, no mesmo patamar de Guilherme Boulos (PSOL), que oscilou de 22% para 23%, e de Nunes, que foi de 23% para 19%. A margem de erro é de três pontos.A relação Nunes-Bolsonaro, no entanto, segue titubeante, apesar de ser apontada como tábua de salvação do MDB no momento. Por um lado, a campanha do prefeito quer manter a orientação atual, de exaltar as entregas da gestão em vez de pintar Nunes com as cores do bolsonarismo.
Do outro lado, a família Bolsonaro se move de acordo com as próprias conveniências, já deu sinais de que pode pressionar o prefeito com acenos ao adversário, não demonstra unidade (Eduardo apoia Nunes, enquanto Carlos declarou preferência por Marina Helena, do Novo) e parece não mais deter o controle sobre seu próprio público.
Entre bolsonaristas, Marçal tem 46% na pesquisa Datafolha contra 26% de Nunes. Há duas semanas, o emedebista estava à frente, com 37% a 25%.
Em entrevista à TV Record nesta sexta-feira (23), Marçal afirmou, em referência a Bolsonaro, que "a direita não tem dono". Ele também pediu perdão ao eleitor pela sua postura. "Quero te pedir perdão porque, para chegar onde eu cheguei agora, liderando as pesquisas hoje, eu tive que chamar atenção de um jeito que talvez não te agradou."
A preocupação da campanha do MDB é recuperar esse eleitor bolsonarista para voltar ao topo da pesquisa. Para tanto, conta com a recente ofensiva de Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos contra Marçal, registrada em uma série de declarações públicas, vídeos e comentários de rede social com críticas ao influenciador e endosso ao emedebista.
A aposta da campanha do MDB é a de que a pesquisa atual captou o momento de alta de Marçal, com a série de "lacrações" em debates, mas uma próxima rodada já mostraria a queda do influenciador após o embate com os Bolsonaros.
Para a equipe do empresário, porém, a liderança veio para ficar e haverá debandada de apoiadores de Nunes em direção ao autodenominado ex-coach.Aliados de Bolsonaro cobram que Nunes, em resposta ao gesto do ex-presidente, lhe dê mais espaço na campanha e se comprometa com a agenda que move o público conservador, posicionando-se em temas como aborto, drogas, liberdade de expressão e outros.
Estrategistas do prefeito, no entanto, rejeitam uma virada na campanha e não estão dispostos a ir além do próprio conservadorismo de Nunes, que é católico. Também pretendem seguir com o mote de que ele é um bom prefeito e se ancorar na aprovação da sua gestão.
Está previsto que Nunes tenha eventos com Bolsonaro nas próximas semanas e que o ex-presidente grave uma propaganda para a campanha do prefeito, mas eram ações já planejadas pela campanha antes do boom de Marçal.
Houve, contudo, uma ação de bastidor para que Bolsonaro e Eduardo, que na semana passada deram declarações críticas a Nunes e elogiosas a Marçal, trocassem de lado totalmente em um intervalo de menos de uma semana.
Em primeiro lugar, como mostrou a Folha de S. Paulo, a campanha do MDB buscou se aproximar da família Bolsonaro por meio de diversos interlocutores, inclusive o próprio prefeito e seu candidato a vice, o coronel Ricardo Mello Araújo (PL), que foi indicado pelo ex-presidente.
O movimento contou sobretudo com a ação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do marqueteiro da campanha Duda Lima. Tarcísio tem sido o principal cabo eleitoral de Nunes e cobrou de Bolsonaro sua palavra de que iria apoiar o prefeito.
Eduardo, que demonstrava uma série de ressalvas a Nunes, teve a oportunidade de entrevistá-lo, em ação que foi pensada pela campanha e gravada.
Em trechos já divulgados por ambos, o prefeito esclarece que não tem relação nenhuma com Joice Hasselmann, considerada traíra pelo bolsonarismo e fonte da crise que se instaurou entre o emedebista e os Bolsonaros na semana passada.
Quem acompanhou a conversa afirma que o deputado saiu convencido da lealdade de Nunes ao pai. O prefeito, inclusive, contou que votou em Bolsonaro no segundo turno de 2022, e Eduardo divulgou um vídeo do prefeito fazendo uma dança pró-Bolsonaro na campanha.
Na época, porém, Nunes não divulgou apoio público a Bolsonaro. Pelo contrário, declarou voto em Tarcísio, mas evitou se posicionar entre Lula (PT) e o ex-presidente.
O que também pesou nesse realinhamento foi a decisão da família Bolsonaro de agir contra Marçal por uma série de fatores.
Aliados afirmam que incomodou a atitude dúbia e enganosa do influenciador, que quer parecer próximo de Bolsonaro, mas não o apoiou em 2022. Marçal foi descrito por políticos bolsonaristas como estelionatário e duas caras.
Além disso, as acusações que pesam sobre Marçal, como a condenação por integrar uma quadrilha de fraude bancária e os elos com suspeitos de fazerem parte do PCC, levaram Bolsonaro a querer distância.
Por fim, pessoas próximas ao ex-presidente apontam ainda que Marçal representa um risco na eleição presidencial de 2026 e que o influenciador estaria usando a eleição municipal apenas com o objetivo de se cacifar para o Palácio do Planalto.