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SYLVIA COLOMBOBUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Na estante do ex-presidente da Colômbia Iván Duque (1918-1922), estão fotos da mulher e de seus dois filhos, imagens de Maquiavel, Dante Alighieri, Thomas Jefferson e Winston Churchill -referências do direitista substituído há pouco mais de dois anos pelo ex-guerrilheiro do M-19 e ex-senador Gustavo Petro.
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Diferenças políticas à parte, ambos se encontram no mesmo beco sem saída na tentativa de encontrar soluções para a instabilidade política e econômica da Venezuela.
Em entrevista à Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (23), Duque, 48, falou sobre a campanha que vem realizando, junto a ex-presidentes da região, em favor da redemocratização do país de Nicolás Maduro.
PERGUNTA - O que vem depois de pedir a divulgação das atas da votação, que parece já ter sido uma etapa superada?IVÁN DUQUE - A ideia de esticar a entrega das atas, que nunca esteve no calendário do regime, foi uma estratégia para ganhar tempo, das que a ditadura sempre usa. Passamos a outra etapa, para os que, como eu, já vivemos tudo. Já não há mais aproximação diplomática possível. Minha maior preocupação é que continuemos em uma discussão que não existe mais: sanções, sanções, sanções.Graças a valentes testemunhos eleitorais, já se conhecem mais de mais de 85% das atas com umas diferenças claras de mais de 30 pontos [ele se refere às exibidas pela oposição].
P. - Então, o que eu não gosto é que venha o TSJ [Tribunal Superior de Justiça] dar mais força à versão chavista. Assim demos um tempo para que o ditador chegue a um limbo em que as atas possam até ser um elemento de verdade, mas agora pouco importam.Qual o caminho, então?ID - O primeiro é que o Tribunal Penal Internacional solicite um pedido de prisão de Maduro por crimes de lesa humanidade. Evidências, tudo isso temos como documentar. A segunda, que a Justiça de Estados Unidos aumente a recompensa contra Maduro e seu círculo mais próximo por delitos de narcotráfico.A terceira é uma pressão geral de sanções não só contra os sequazes de Maduro mas contra todo aquele que tenha alguma relação seja comercial seja criminosa com ele. Assim como se fez com a Rússia, com os oligarcas russos na Inglaterra, que lavam as fortunas deles e são punidos, isso tem de ocorrer com todos os quadros diretivos do governo de Maduro.Outra coisa que é necessária é que se reconheça a partir de janeiro que Edmundo González Urrútia é o novo presidente da Venezuela, muitas coisas podem se destravar a partir daí. Se a pressão for forte, Maduro não terá outra opção que a de sair do poder "por las malas" [de modo forçado] e isso será visto por todo mundo.
P. - E como seria essa ideia da recompensa?ID - Um pouco como no Velho Oeste, por que não? Creio que uma recompensa para quem entregar Maduro estaria fácil em US$ 50 milhões.P. - Mas todos sabemos onde está, em Miraflores [palácio presidencial, em Caracas]?ID - Sim, mas aí facilitaria a entrega por parte de algum ex-aliado. Estamos acreditando muito nos ex-aliados. Por que não [Vladimir] Padrino, ou [Jorge] Rodríguez? Não acaba o chavismo, mas abre uma nova etapa. Mudamos de problema, ao menos. Padrino seria um problema parecido, Rodríguez, talvez mais desafiador, mas trocamos de problema. Se pudermos trabalhar com o ano de 2025 como um ano de transição, já muda tudo na região. Já nos permite chamar muitos atores a um programa de reconstrução da Venezuela.
P. - Como tem visto a atuação do presidente Lula em toda essa crise?ID - Tenho muito respeito por Lula, mas a verdade é que ele nunca quis chamar Maduro pelo que ele é, e isso causou muitos problemas nessa crise. Desde 2018, Maduro roubou eleições e teve rejeição internacional; por que o PT não acompanhou isso? E agora o que fará? Estará na posse, em janeiro?
P. - Desde que voltou ao governo, Lula fez de tudo para dar legitimidade a Maduro, convidando-o a cúpulas a visitas, e foi enganado por ele. Também tenho a sensação de que Lula vai cobrar esses favores, porque não é possível. E é possível que tenha mudado de posição. Ele abriu as portas para Maduro, e Maduro as fecha?ID - Agora, colocar-se como mediador eu acho difícil, porque a Venezuela não quer mediação, é uma posição muito clara de perpetuação de poder. A única coisa que resta a negociar é a saída de Maduro; se não é isso, não há o que negociar.
P. - Acha possível que essa negociação seja só com González e não com María Corina [líder da oposição impedida pela Justiça sob Maduro de disputar a Presidência]?ID - Claro que não. González era quem cabia na fórmula, não é o líder da oposição. Se estão debatendo isso nas chancelarias, esqueçam.A Venezuela não é uma democracia normal e corrente, a líder [da oposição] é María Corina Machado. Se Lula assumir uma posição de que com María Corina não discute, aí morre qualquer tipo de diálogo.
P. - Agora, há um ponto do ridículo que Brasil não deveria cruzar, que é o de Celso Amorim sugerir novas eleições. Não, né?ID - Isso não é sério e não é liderança.Espera-se outra coisa do Brasil. Se o Brasil se levanta e diz que "aqui ganhou a oposição", algo muito diferente está no ar. Se Lula está tentando ganhar tempo com isso, é ruim para todos, porque é um líder benquisto em todas as democracias da região.P. - Vai jogar isso no lixo por causa de Maduro?ID - Não creio.
RAIO-X | Iván Duque, 48Advogado e ex-senador, foi presidente da Colômbia de 2018 a 2022. Foi porta-voz do "não" no plebiscito sobre os Acordos de Paz no país. Com posições liberais na economia, foi eleito pelo Centro Democrático, partido que se define como de centro, mas é considerado de direita.