Apesar de aperto fiscal, governo quer quadruplicar Auxílio Gás

O desembolso deve saltar dos atuais R$ 3,4 bilhões para cerca de R$ 5 bilhões, em 2025, e alcançar R$ 13,6 bilhões em 2026 - ano de eleição presidencial -, segundo informou o Ministério de Minas e Energia (MME)

© Shutterstock

Economia Auxílio Gás 27/08/24 POR Estadao Conteudo

Na semana de apresentação do Orçamento de 2025 e em meio a promessas de revisão de despesas, o governo propôs quadruplicar o gasto com o programa Auxílio Gás, que será rebatizado de Gás para Todos. O desembolso deve saltar dos atuais R$ 3,4 bilhões para cerca de R$ 5 bilhões, em 2025, e alcançar R$ 13,6 bilhões em 2026 - ano de eleição presidencial -, segundo informou o Ministério de Minas e Energia (MME).

PUB

 

A política pública, que financia a compra do gás de cozinha a pessoas de baixa renda, também terá o seu alcance potencializado. Pelas projeções do governo, as 5,6 milhões de famílias atendidas atualmente saltarão para 20,8 milhões. Hoje, praticamente metade dos beneficiários reside no Nordeste, e a maior parte é do sexo feminino. O valor do benefício é de R$ 102, pago bimestralmente.

O anúncio de projeto de lei para turbinar o programa, que ainda será analisado pelo Congresso, foi feito nesta segunda, 26, pelo ministro Alexandre Silveira, titular do MME, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-dama, Rosângela da Silva - que foi citada no discurso. O governo anunciou ainda mudanças nas regras que regem o mercado de gás natural no País, como a que limita o porcentual de gás que é reinjetado nos poços pelas petrolíferas durante a produção de petróleo em alto-mar - o que gerou divisão entre produtores e consumidores.

"Estamos atendendo aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Vamos impulsionar o cozimento limpo e a substituição da lenha, tão defendido pela nossa companheira Janja (Rosângela)", disse Silveira durante a cerimônia, na sede da pasta.

O projeto de lei também determina que a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estabeleça um teto para o preço do botijão por região para os consumidores do programa. Na sua fala, Lula defendeu que o gás seja "instrumento da cesta básica" e disse que a população não consegue pagar R$ 140 pelo botijão, enquanto o produto sai da Petrobras por R$ 36.

Segundo Silveira, o aumento bilionário de gastos será financiado com recursos do Fundo Social do Pré-Sal, que é vinculado à Presidência da República. Ele é abastecido com valores arrecadados nas licitações de contratos de partilha de produção no pré-sal, parte dos royalties que cabem à União e receitas da comercialização de petróleo e gás natural, e é direcionado prioritariamente para despesas com Educação.

O ex-secretário do Tesouro Nacional e head de macroeconomia do ASA, Jeferson Bittencourt, alerta, porém, para as determinações da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Ampliação de programa pode criar gasto obrigatório e ferir lei fiscal

Num momento em que a equipe econômica é cobrada a apresentar propostas de longo prazo para o corte de despesas, o anúncio de novos gastos com programas como o Auxílio Gás acendeu um sinal de alerta entre economistas. Head de macroeconomia do ASA, Jeferson Bittencourt chama a atenção para as determinações previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

O economista cita o artigo 17 da LRF, que determina que a criação ou aumento de despesas obrigatórias de caráter continuado tenha estimativa de custo, demonstre que não afetará as metas fiscais e tenha os efeitos financeiros compensados por elevação permanente de receita ou redução também permanente de despesa.

Leia Também: Sete anos após reforma trabalhista, 70% dos informais querem carteira assinada

Atualmente, o Auxílio Gás é considerado uma despesa discricionária - ou seja, não obrigatória. Bittencourt pondera, porém, que, caso o programa passe a garantir o produto (botijão) ou uma subvenção (ajuda financeira para comprar o gás) a quem atender certos requisitos, com o governo prevendo uma execução por período superior a dois exercícios, a despesa se tornará obrigatória, de caráter continuado.

"Neste caso, não adianta o governo falar que o recurso do Fundo Social vai ser ampliado, porque o Brasil deve produzir mais petróleo nos próximos anos e que essa será a compensação dessa despesa", afirma Bittencourt, ex-secretário do Tesouro Nacional, em referência à afirmação do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, de que as despesas serão financiadas com recursos do Fundo Social do Pré-Sal.

"A LRF é clara ao dizer o que é considerado aumento permanente de receita. Nessa lista, estão: elevação de alíquota, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributos. Ponto", diz o economista. "Ou seja, precisa ser uma fonte nova, para não gerar desequilíbrio fiscal."

Desequilíbrio fiscal

O crescimento das despesas obrigatórias é um dos principais desafios fiscais da atual gestão. Como mostrou reportagem do Estadão, essas despesas crescem em ritmo superior ao do teto do arcabouço fiscal - nova regra para controle das contas públicas - e, com isso, consomem fatia cada vez maior do bolo do Orçamento, "espremendo" as outras despesas.

No limite, avaliam especialistas, haverá o rompimento do teto ou a paralisação da máquina pública. Ciente desse cenário e pressionada pelos agentes do mercado, a equipe econômica vem adotando medidas de revisão de gastos com base, principalmente, no combate a fraudes e no pente-fino em cadastros.

Especialistas em contas públicas alertam, porém, que essas medidas mais paliativas só darão alívio no curto prazo e que o governo terá de adotar ações estruturais, como a desvinculação de benefícios do salário mínimo e a revisão dos pisos da Saúde e Educação, se quiser manter vivo o arcabouço a partir de 2027.

Leia Também: Bolsa bate novo recorde histórico com impulso da Petrobras

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

mundo Cazaquistão Há 21 Horas

Avião com 72 pessoas a bordo cai no Cazaquistão; há sobreviventes

fama Justiça Há 16 Horas

Ex-bailarina do Faustão tem habeas corpus negado e vai passar o fim de ano na prisão

esporte Prisão Há 22 Horas

Por que Robinho não teve direito à 'saidinha' e vai passar Natal preso

fama Festas Há 21 Horas

Cachorro de Anitta some na noite de Natal: 'ainda vai me matar do coração'

fama Televisão Há 20 Horas

SBT desiste de contratar Pablo Marçal e terá Cariúcha em novo Casos de Família

fama Saúde Há 14 Horas

Filho de Faustão fala sobre a saúde do pai após transplantes

fama Música Há 22 Horas

Hit natalino de Mariah Carey entra na 17ª semana em primeiro na Billboard

economia Consumos Há 21 Horas

Saiba como evitar o aumento da conta de luz durante o verão

politica STF Há 21 Horas

Moraes diz que Daniel Silveira mentiu ao usar hospital como álibi e mantém prisão

justica Investigação Há 20 Horas

Duas pessoas morrem e três estão internadas após comerem bolo em Torres (RS)