EUA cedem a Putin e negam autorização para Ucrânia usar mísseis

Putin havia dito que se os aliados da Ucrânia dessem tal autorização a Kiev, isso significaria uma declaração de guerra entre as maiores potências nucleares do planeta

© GAVRIIL GRIGOROV/POOL/AFP via Getty Images

Mundo Guerra 13/09/24 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os Estados Unidos cederam por ora à pressão de Vladimir Putin e anunciaram nesta sexta (13) que não haverá mudanças na política de emprego de armas de longo alcance do país contra território russo pela Ucrânia.

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Na véspera, Putin havia dito que se os aliados da Ucrânia dessem tal autorização a Kiev, isso significaria uma declaração de guerra entre as maiores potências nucleares do planeta. A afirmação foi reiterada nesta sexta no plenário da ONU pelo representante de Moscou.

"Não há mudança na nossa visão acerca do provimento de capacidades de ataques de longo alcance para a Ucrânia usar dentro da Rússia", disse o porta-voz de segurança nacional do governo de Joe Biden, John Kirby. "Eu não espero nenhum anúncio sobre isso", completou, ambiguamente.

Como líder da aliança militar ocidental, os EUA ditam as regras gerais de engajamento desde que Putin invadiu a Ucrânia, em 2022. A prioridade é armar os ucranianos, mas evitar que isso seja visto como uma escalada direta, que possa levar à Terceira Guerra Mundial.

Até aqui, tem dado certo para retardar e modula a ajuda militar a Kiev, para um exasperado presidente Volodimir Zelenski, que há semanas implora para poder empregar armas de longo alcance contra alvos como bases militares na retaguarda russa. Até aqui, a Otan só permite o uso em áreas fronteiriças.

A fala de Putin, ainda que ecoe declarações semelhantes do passado, quando balançou o botão nuclear para demover os rivais de fornecer armas avançadas a Kiev, ocorre num ponto de inflexão da guerra.

Moscou está avançando para tentar tomar a totalidade da região de Donetsk e promove uma contraofensiva em Kursk, área meridional russa que foi invadida pelos ucranianos há pouco mais de um mês.

Os ataques aéreos se intensificaram, mirando principalmente a combalida rede energética ucraniana. Nesta sexta, os ucranianos disseram ter abatido 24 de 26 drones lançados pela Rússia. Na quinta (12), Kiev havia acusado Moscou de atacar um cargueiro civil com grãos no mar Negro, uma ampliação do escopo da guerra. O Kremlin não quis comentar o episódio.

Neste contexto, o presidente da Ucrânia passou a clamar diariamente pela autorização de uso de mísseis.

O choro de Zelenski, contudo, ainda pode surtir efeito . Segundo o jornal The New York Times, Biden considera não autorizar o emprego de mísseis americanos, mas liberar o uso de modelos de aliados europeus. Seria uma forma de lavar as mãos, ainda que não muito crível.

Os olhos se voltam neste caso para os mísseis de cruzeiro franco-britânicos Storm Shadow/Scalp-EG. Eles já foram usados pela Ucrânia contra a Crimeia, por exemplo. Mas já há oposição tácita a isso: o premiê alemão, Olaf Scholz, afirmou em entrevista coletiva que manterá a posição de não fornecer, muito menos autorizar o uso do modelo do tipo do seu país, o Taurus.

As conversas, estimuladas pela ida dos chefes diplomáticos de EUA e Reino Unido à Ucânia nesta semana, levou à reação de Putin e à abertura de uma nova frente de retaliação. O Kremlin anunciou nesta sexta que expulsou seis diplomatas britânicos de Moscou, sob acusação não detalhada de espionagem.

"Os fatos revelados dão motivos para considerar as atividades dos diplomatas como ameaçadoras da segurança da Federação Russa", disse em nota o FSB (Serviço Federal de Segurança), a principal agência sucessora da KGB soviética.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reafirmou nesta sexta que o presidente falava sério ao ameaçar uma guerra contra a Otan, mas negou que a expulsão de diplomatas vise um rompimento de relações com o Reino Unido.

O expediente é comum em crises, e a resposta padrão nesses casos é a reciprocidade: um número igual de diplomatas russos em Londres será expulso. Isso ocorre de tempos em tempos, e houve um incidente de especial gravidade em 2018.

Naquele ano, o ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha foram envenenados no Reino Unido, que reagiu expulsando diplomatas e chegando perto de romper os laços com Moscou -por sua vez, o Kremlin devolveu na mesma moeda.

Os crimes alegados não foram detalhados. A chancelaria em Londres disse que a acusação não tem base, sendo politicamente motivada.

O entrechoque ocorre no momento em que a Rússia flexiona sua musculatura militar em diversos pontos do mundo, promovendo até a segunda (16) o maior exercício naval desde a Guerra Fria.

Caças da Otan já interceptaram bombardeiros em simulação de ataque, e a presença de navios chineses em manobras no Pacífico visa reforçar a ideia de uma unidade contra o que Moscou e Pequim denunciam como hegemonia forçada por Washington.

Na mão contrária, os chineses se queixaram nesta sexta do trânsito de dois navios de guerra alemães pelo estreito de Taiwan, área que Pequim considera sua. É a primeira vez que isso ocorre em duas décadas.

Ainda na Ásia, o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Serguei Choigu, visitou nesta sexta o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, que assinou um pacto de defesa mútua com Putin este ano. O Ocidente diz que, em troca, Pyongyang fornece munição para artilharia e mísseis à Rússia -acusação semelhante feita a outro rival dos EUA, o Irã.

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