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(FOLHAPRESS) - Elon Musk anunciou seu endosso a Donald Trump em julho. Em agosto, o republicano disse que, se eleito, colocará o bilionário para comandar uma comissão de eficiência do governo. No último domingo (15), o dono do X escreveu que "ninguém está nem sequer tentando assassinar Biden/Kamala".
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Em ano eleitoral, Musk vem escalando suas postagens na rede social contra democratas e, nos últimos meses, tem alardeado teorias da conspiração sobre imigrantes e a votação. A atuação política ocorre em paralelo aos negócios bilionários que o empresário mantém com o governo americano, especialmente na sensível área de defesa.
A publicação sobre Joe Biden e Kamala Harris foi feita depois da divulgação de que Trump foi alvo de uma aparente tentativa de assassinato. O comentário teve quase 40 milhões de visualizações antes de ser apagado diante da repercussão negativa.
Após inicialmente se recusar a deletá-lo, Musk concordou com um usuário que disse que ele estava sendo "mal interpretado".
"Eu não quero fazer o que eles fizeram, nem mesmo brincando", disse o bilionário, em referência às acusações de Trump de que a retórica de Biden e Kamala é culpada pelos episódios de violência política. Logo após a exclusão, o bilionário fez novas postagens defendendo que o comentário era uma piada.
Seguem no ar publicações em que ele afirma, sem provas, que democratas estão registrando como eleitores imigrantes que entraram no país nos últimos anos. Tampouco foram apagados memes sobre haitianos comendo animais de estimação roubados em Springfield, no estado de Ohio -fake news desmentida pelas autoridades locais e que motivou ameaças de bomba à cidade.
Os comentários do dono do X, plataforma que afrouxou a moderação de conteúdo desde que passou para as mãos de Musk, têm colocado autoridades nos EUA em alerta e preocupado especialistas.
O Serviço Secreto, responsável pela segurança de Biden e Kamala, afirmou que está ciente do tuíte apagado no domingo e, sem citar esse caso especificamente, disse que investiga "todas as ameaças feitas aos nossos protegidos" de maneira geral.
Em 2020, por exemplo, a agência investigou o comediante John Mulaney após ele comparar Trump ao ditador romano Júlio César -esfaqueado por senadores- em seu monólogo de abertura no programa humorístico Saturday Night Live.
"O X e Musk estão elevando a temperatura da política perigosamente e irresponsavelmente em um momento crítico", disse à Associated Press Heidi Beirich, cofundadora do Projeto Global contra o Ódio e o Extremismo.
Kara Swisher, jornalista veterana do Vale do Silício com uma relação conflituosa com o empresário, afirma que Musk recebe um tratamento diferenciado nos EUA em razão dos contratos que suas empresas têm com o governo federal –frequentemente envolvendo informações confidenciais de defesa.
No final do ano passado, por exemplo, o Pentágono fez um acordo de US$ 1,2 bilhão para que a SpaceX leve ao espaço satélites estratégicos. A empresa recebeu outros US$ 70 milhões para fornecer um sistema de segurança de comunicação para os setores de inteligência e defesa.
A SpaceX tem ainda uma série de contratos com a Nasa que, em novembro do ano passado, somavam US$ 4 bilhões, segundo levantamento do New York Times. Em junho, a agência espacial contratou por US$ 843 milhões a empresa de Musk para tirar de órbita a Estação Espacial Internacional nos próximos anos.
A Starlink, por sua vez, tem sido crucial para o esforço de defesa da Ucrânia, apoiada por Washington, contra a Rússia.
"Se o CEO da Lockheed [outra empresa aeroespacial e de defesa] fizesse isso, seria um inferno para ele, basicamente. Acho que ele [Musk] está sendo tratado de forma diferente do cidadão comum e definitivamente de qualquer outro", disse Swisher à CNN.