Boulos: 'Em situação de reintegração de posse, não vou prevaricar'

Boulos ainda falou sobre a Cracolândia, insistiu no aumento do efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e defendeu a criação de unidades de apoio para trabalhadores de aplicativo

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Política Eleições 2024 19/09/24 POR Estadao Conteudo

O candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, deputado federal Guilherme Boulos, disse nesta quarta-feira, 18, durante sabatina realizada pelo Estadão, que, sendo necessário, fará reintegração de posse se houver invasões de terrenos e imóveis públicos em uma eventual gestão no Executivo municipal. Ele foi coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e liderou invasões do grupo no passado.

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"Primeiro, nós vamos dialogar com movimentos sociais. Agora, havendo uma situação como essa, não vou prevaricar. Senão, eu sou preso. Você tem obrigações funcionais." Segundo o candidato, o movimento de moradia ocupa imóveis abandonados quando não há política pública e diálogo com o governo. "Aqui estou falando de movimento organizado. Outra coisa é movimento clandestino na periferia ligado ao crime", disse, ao criticar a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição.

Boulos ainda falou sobre a Cracolândia, insistiu no aumento do efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e defendeu a criação de unidades de apoio para trabalhadores de aplicativo. A sabatina foi mediada pelo colunista Ricardo Corrêa, com participação do repórter especial Marcelo Godoy.

Seu plano de governo tem 119 propostas em 27 áreas. Em nenhum momento está indicado de onde vão vir os recursos para tudo isso.

Quando fizemos a apresentação do programa de governo, apresentei o custo das propostas e de onde vêm as receitas. Reitero aqui: se seguirmos a métrica da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), do crescimento das receitas, da Receita Corrente Líquida nos últimos quatro anos, teremos recursos próprios de R$ 41 bilhões para investimento. Nosso plano tem um custo estimado, entre investimento e custeio, de R$ 51 bilhões, amortizado nos quatro anos. A situação de São Paulo não é de falta de dinheiro, é de falta de prefeito. Como eu dizia, R$ 41 bilhões de recursos próprios; os outros R$ 10 bilhões queremos obter com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com o governo federal. Mas não só com o PAC. Essa receita tem a ver com a recuperação da dívida ativa. São Paulo tem uma dívida ativa de R$ 150 bilhões. O que é recuperável, segundo servidores da Receita, é pouco mais da metade, R$ 83 bilhões.

Não é receita constante...

A receita é constante anualmente se você tem uma política de recuperação. Se melhorar a eficiência, é possível recuperar R$ 1,5 bilhão por ano. O Poupatempo da Saúde, entre custeio e investimento, nos quatro anos, custa R$ 4,4 bilhões. Escola em tempo integral vai custar R$ 7 bilhões. Estou dando esses exemplos para deixar claro que estudamos e cabe no orçamento.

O sr. propõe criar unidades de apoio para trabalhadores de aplicativos. Isso não é função das empresas?

A ideia é fazer parceria e que eles entrem com recursos. A Prefeitura pode disponibilizar um terreno. A responsabilidade tem de ser das empresas, mas é problema público porque temos milhares de jovens que ficam 12 horas em cima de uma moto, sem ter lugar para comer, para ir ao banheiro. Isso aumenta o risco de acidentes de trânsito. Estou falando também de motoristas de aplicativo.

O sr. defende ampliar o efetivo da GCM. Por que não torná-la mais eficiente?

As duas coisas precisam ser integradas, mas precisamos partir do aumento do efetivo. Porque há uma defasagem. O Rio tem metade da população de São Paulo, mas uma guarda maior. É necessário repor os guardas que saem e, ao mesmo tempo, cobrir o déficit. O outro ponto: precisamos melhorar a eficiência. Qual é a nossa proposta? Todas as escolas municipais terão a guarda fazendo a ronda de proximidade, tornando o bairro mais seguro.

O sr. quer criar um gabinete para a Cracolândia, mais ou menos o que gestões passadas tentaram fazer. Por que desta vez dará certo?

A diferença é o projeto do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) Móvel. Fui conhecer o modelo em Bogotá. Estive com o secretário de Segurança e o ministro da Defesa. Eles falaram: 'Ao lado da tenda de tratamento mental, a gente fez uma tenda de odontologia. (A fila) Virou um quarteirão'. Quando fez a tenda com dentista, mais de 80% que foram ali, pelo acolhimento, toparam ir para o tratamento.

Um tema da campanha é a infiltração do crime na política. O PT, uma das siglas que o apoiam, tem um vereador, Senival Moura, atingido por investigações. Ele o acompanha em agendas. Sente-se confortável?

A gente precisa separar o joio do trigo. O Senival nunca foi indiciado, ao contrário de aliados do prefeito. Não vou aceitar a infiltração do crime organizado nos contratos da Prefeitura. Ouçam o promotor Lincoln Gakiya. Ouçam o delegado da Polícia Civil que comandou a operação. Duas empresas receberam mais de R$ 1 bilhão da gestão Nunes. Uma delas está comandada pelo PCC. A outra, o cara foi preso com armamento pesado. No dia seguinte o Nunes foi gravar vídeo e atestar a lisura da empresa.

Mas a Transunião, ligada a Senival, foi investigada, houve casos de assassinato envolvendo a empresa...

Se algo for comprovado contra ele, é uma coisa. Nós não temos isso ainda hoje.

Se for eleito, como pretende lidar com invasões de terrenos e prédios públicos?

O movimento de moradia atua, ocupa imóveis abandonados, quando não há política pública e diálogo com o governo. Aqui eu estou falando de movimento organizado. Outra coisa é loteamento clandestino na periferia ligado ao crime que ocorreu a torto e a direito na gestão do Ricardo Nunes. Isso eu não vou permitir.

Se houver (invasão), fará reintegração de posse?

Vamos dialogar com movimentos. Agora, havendo uma situação como essa, não vou prevaricar. Senão, eu sou preso. Você tem obrigações funcionais.

Liberação do aborto e descriminalização da maconha são bandeiras do campo progressista mundial, mas passam longe dos palanques da esquerda no País. O que um governo de esquerda em SP pode fazer?

É importante apontar que estes temas não estão na atribuição do prefeito. Então, é natural que isto não esteja no centro da campanha. São temas que envolvem legislação nacional, em sua maioria. Sou candidato a prefeito. Não que não possa ser questionado (...) Às vezes, ficam me apertando para falar da Venezuela. Não sou candidato a secretário-geral da ONU. Querem que eu fale de drogas e aborto. Não sou, neste momento, candidato a deputado, a senador, a presidente da República.

O prefeito gere hospitais que lidam com aborto legal.

Certamente. Isso tem que ser cumprido e será cumprido rigorosamente na minha gestão. O caso das drogas é importante e faço questão de mencionar. Qual posição defendo? Aquela que o Supremo Tribunal Federal consagrou, que separa usuário de traficante.

Leia Também: Governo Lula busca dividir responsabilidade sobre fogo, e estados criticam ações federais

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