© Renato Pizzutto / Band
ANA LUIZA ALBUQUERQUE E BRUNO XAVIERSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O influenciador Pablo Marçal (PRTB) publicou um laudo falso nesta sexta-feira (4) para mais uma vez tentar associar o também candidato Guilherme Boulos (PSOL) ao uso de drogas. Uma série de evidências levantadas nas horas seguintes à publicação mostram que o prontuário apresentado foi forjado.
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Boulos, como antecipou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, pediu à Justiça a prisão do influenciador por falsificação de documento.
Segundo o documento falso atribuído à clínica Mais Consulta, Boulos teria sido atendido em janeiro de 2021 na unidade do Jabaquara (zona sul de SP) em surto psicótico. Ainda segundo o laudo falsificado, o acompanhante do agora candidato do PSOL teria levado um exame toxicológico segundo o qual apontaria a presença de cocaína no sangue do atual deputado.
Na manhã deste sábado (5), o juiz Rodrigo Marzola Colombini, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, chamou o laudo de falso e concedeu liminar determinando a pronta exclusão de vídeos publicados nas plataformas Instagram, TikTok e Youtube fazendo referência ao um documento.
"Há plausibilidade nas alegações [dos autores da representação], envolvendo não apenas a falsidade do documento, a proximidade do dono da clínica em que gerado o documento com o requerido Pablo Marçal, documento médico assinado por profissional já falecido e a data em que divulgados tais fatos, justamente na antevéspera do feito", afirmou o juiz.
Marçal vinha prometendo ao longo de toda a campanha expor um processo judicial e uma internação de Boulos por uso de cocaína. Como revelou a Folha, o influenciador se baseava no processo de um homônimo para acusar o deputado.
Veja a seguir a série de evidências para a falsificação do documento:
1) O RG de Boulos que aparece no laudo falso é incorreto, com um número a mais;
2) O médico que assina o suposto prontuário (José Roberto de Souza) já morreu e não tem especialidade cadastrada no site do Conselho Federal de Medicina;
3) O sócio da clínica Mais Consultas, Luiz Teixeira da Silva Junior, tem vídeo publicado com Marçal. Ele já foi condenado por falsificar diploma de curso de medicina e ata de colação de grau.Luiz Teixeira da Silva Junior foi condenado em primeira instância a dois anos e quatro meses de prisão por falsificação de documento público e uso de documento falso.
4) No mesmo dia indicado no prontuário, 19 de janeiro de 2021, Boulos fez uma transmissão ao vivo no fim da manhã comentando sobre a importação das vacinas e, no dia seguinte, participou de uma ação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) na favela do Vietnã, na zona sul da cidadeO vereador Emerson Vitalino (PC do B), de Osasco, confirmou em vídeo publicado nas redes sociais que estava com Boulos no dia do suposto prontuário. Na ocasião, Emerson postou uma foto ao lado de Boulos no Instagram.
5) Ao pesquisar no Google Imagens por termos como "laudo toxicológico", "toxicológico cocaína" e "laudo cocaína", um dos primeiros resultados é uma imagem que mostra um exame positivo para cocaína com os valores da concentração no sangue destacados.Entre as primeiras imagens da pesquisa, essa é a única com laudo positivo. Os valores que estão na imagem são exatamente iguais aos que aparecem no documento que Marçal tenta imputar a Boulos.
6) Há inconsistência no nome e na logo da clínica que teria emitido o prontuário. Enquanto no documento de Marçal a logo é uma cruz simples, formada por duas linhas de cores diferentes, é possível resgatar imagens do Google Street View que mostram que a verdadeira clínica do Jabaquara utilizava uma logo com uma cruz formada por cinco quadrados interligados desde ao menos dezembro de 2016.No prontuário de Marçal, o nome da clínica aparece como Mais Consulta, no singular, já a clínica verdadeira se chamava Mais Consultas, no plural, como registrado no CNPJ do rodapé do próprio documento publicado pelo influenciador. O nome e logo divulgados pelo candidato do PRTB são idênticos aos utilizados por uma clínica em Manaus.
7) Uma ex-funcionária do médico que aparece como responsável pelo laudo falso afirmou ao jornal O Globo que não reconhece a assinatura que consta no documento postado por Marçal.