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(FOLHAPRESS) - A autonomia do futuro comandante do Banco Central e uma eventual interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na política de juros estarão no centro do debate na sabatina de Gabriel Galípolo no Senado Federal.
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Na próxima terça-feira (8), o atual diretor de Política Monetária do BC enfrenta o seu segundo teste na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), desta vez para o cargo máximo da autoridade monetária. Se aprovado, vai suceder Roberto Campos Neto a partir de janeiro de 2025.
Além de perguntas sobre a taxa básica de juros (Selic), inflação, crédito e endividamento da população brasileira, Galípolo também deve enfrentar questionamentos sobre a análise técnica do BC sobre o mercado de bets no Brasil.
Nota divulgada pela autoridade monetária mostrou que beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões via Pix em agosto para empresas de apostas esportivas. O estudo deixou lacunas e provocou reações de executivos do setor e membros do governo.
A situação fiscal do país é outro assunto que deve ser colocado na mesa de discussão, assim como a PEC (proposta de emenda à Constituição) que concede autonomia financeira ao BC, em tramitação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado.
Em 2023, a autonomia do BC e as duras críticas de Lula a Campos Neto foram temas levantados pelos senadores na primeira sabatina de Galípolo.
Na ocasião, ele afirmou que os diretores do BC não devem opinar sobre a autonomia da instituição, mas que "a vontade das urnas" determina o destino econômico do país.
"É óbvio que é o poder eleito democraticamente, a vontade das urnas, que determina qual é o destino econômico da nossa sociedade. É através desse debate que a gente vai determinar. A autonomia técnica e operacional é aquilo que foi determinado, e aquilo que os diretores devem perseguir e seguir", disse.
Durante o "beija-mão" -rito em que o candidato se reúne com senadores para angariar votos para sua aprovação- realizado em setembro, Galípolo teve oportunidade de conhecer os temas de interesse dos parlamentares e se aprofundar sobre algumas questões.
Sua preparação para a sabatina envolveu reuniões com diferentes equipes técnicas do BC para discutir temáticas que vão além de sua área de atuação, hoje centrada na execução dos instrumentos das políticas de juros e câmbio.
É o caso, por exemplo, do trabalho envolvendo cooperativas de crédito no país -assunto de relevância para o senador Esperidião Amin (PP-SC), presidente da Frente Parlamentar de Apoio ao Microcrédito e às Microfinanças.
O senador oposicionista Izalci Lucas (PL-DF) prevê que, durante a sabatina, Galípolo será confrontado sobre a relação dele com o presidente Lula. Ainda assim, faz elogios pela postura adotada pelo diretor até aqui no Copom (Comitê de Política Monetária).
"O principal questionamento é a independência dele em relação ao Executivo", diz Izalci. "Mas acho que ele [Galípolo] já demonstrou sua independência nas votações atuais [no Copom] como diretor."
O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) segue a mesma linha de argumentação. Ele ressalta que Galípolo pode passar seus quatro anos de mandato no BC com um ou dois presidentes, a depender do resultado das eleições presidenciais de 2026.
"Suas decisões serão as mesmas, para os mesmos problemas, neste e no próximo governo? Seu mandato será curto e sua biografia será única, posso ter certeza que na sua biografia ficará registrado que o senhor soube defender a autonomia do BC independentemente de quem seja o presidente da República?", questiona o senador, ao antecipar sua participação na CAE.
Aos 42 anos, Galípolo foi um dos conselheiros de Lula na campanha presidencial de 2022 e manteve canal direto com o chefe do Executivo desde que assumiu o posto no BC.
A estreita relação com Lula e a desconfiança do mercado financeiro com o compromisso do BC no combate à inflação em 2025, contudo, não devem se tornar empecilhos para a aprovação de Galípolo como novo presidente da autoridade monetária.
O presidente da CAE, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), prevê "zero dificuldade" para Galípolo e diz que ele "tem a confiança de quase todos os senadores". Ressalta ainda a boa relação que o candidato vem construindo com os parlamentares desde quando era número 2 do ministro Fernando Haddad na Fazenda.
"Galípolo já foi sabatinado uma vez, tem um trânsito muito bom no Senado Federal e provou como diretor que ele é hoje Banco Central. Ele não foi omisso hora nenhuma. Nas decisões importantes do Copom, ele esteve junto com o posicionamento dos demais diretores, inclusive com o presidente Roberto Campos Neto", afirma.
O presidente da CAE vai reassumir o mandato no Senado nesta segunda-feira (7) para conduzir pessoalmente a sabatina. Vanderlan se licenciou do cargo para disputar a prefeitura de Goiânia (GO).
O nome de Galípolo deve ser levado ao plenário do Senado no próprio dia 8, onde precisa receber maioria dos votos para ser aprovado. Na votação para a diretoria de Política Monetária, em julho de 2023, o placar foi de 39 votos a favor, 12 contra e uma abstenção.
Na sexta (4), o governo federal retirou a urgência constitucional do primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária, que impedia votações no plenário do Senado desde o final de setembro.
O nome de Galípolo poderia ser votado mesmo com o chamado trancamento de pauta, segundo assessores técnicos, mas o governo federal quis evitar eventuais questionamentos da oposição sobre o regimento interno.
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