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No dia seguinte à votação que definiu o segundo turno da disputa municipal em São Paulo, os candidatos Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) indicaram suas estratégias para a fase final da campanha. O prefeito, que tenta a reeleição, vai investir na captura de votos das candidaturas derrotadas situadas no que chamou de "centro" e à "direita" do eleitorado, enquanto o deputado federal vai insistir num discurso crítico à atual gestão e no que avalia ser um desejo de mudança dos moradores da cidade, além de tentar recuperar terreno na periferia.
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Nunes superou Boulos no primeiro turno por uma margem estreita de votos. O emedebista somou 29,48% dos votos válidos, ante 29,07% do candidato do PSOL, uma diferença de 25 mil votos basicamente.
A aposta do prefeito é que o eleitorado de Pablo Marçal (PRTB), que esteve muito próximo de chegar ao segundo turno - conquistou 28,14% dos votos válidos -, migre majoritariamente para a sua candidatura. Além disso, a campanha de Nunes acredita que, embora a quarta colocada no primeiro turno, a deputada federal Tabata Amaral (PSB), tenha já declarado apoio em Boulos, boa parte de seus eleitores se alinhem à candidatura do prefeito.
Nunes afirmou nesta segunda, 7, em entrevista à Rádio Bandeirantes, que espera receber os votos dos que optaram por Marçal no primeiro turno. Segundo o prefeito, ele e influenciador têm pontos em comum por serem candidatos que "reúnem o centro e a direita" e pensam igual sobre desestatização e parcerias público-privadas, além de "prezarem pela ordem". Em entrevista depois da divulgação dos resultados do primeiro turno, o influenciador avaliou que os eleitores dele e do candidato do MDB são parecidos e que, se Nunes aceitar suas propostas sobre escolas olímpicas e educação financeira no ensino público, ele apoiará o prefeito oficialmente. Ele disse que enviou uma mensagem parabenizando o adversário.
O prefeito, contudo, afirmou que não avalia um encontro com Marçal neste momento e que vai esperar "a poeira assentar". O candidato do PRTB protagonizou uma campanha agressiva, sem propostas concretas e marcada na reta final pela divulgação de um laudo falso contra Boulos, o que o deixou sob a mira de investigações das polícias Civil e Federal e ameaça de inelegibilidade (mais informações na pág. A12).
'Pau-mandado'
Embora a derrota de Marçal tenha representado um triunfo da política tradicional sobre a narrativa da antipolítica, não há expectativas de que a temperatura da campanha baixe consideravelmente. Nunes se comprometeu ontem a não fazer ataques pessoais, apenas discutir pontos de vista. Boulos, porém, manteve a artilharia contra o rival durante entrevista coletiva. Chamou o prefeito de "pau-mandado do Centrão" e disse que "São Paulo não pode ficar mais quatro anos com um prefeito fraco".
Pelos cálculos do candidato do PSOL, 70% dos eleitores votaram pela mudança. "Não podemos permitir o crime organizado penetrar de uma vez por todas nos contratos municipais", afirmou.
Boulos disse que mobilizou políticos e lideranças de esquerda em uma força-tarefa para ganhar votos nas periferias. A estratégia inclui o apoio de vereadores recém-eleitos e líderes locais, visando conquistar votos em suas áreas de influência. Também estão sendo planejados eventos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Uma maior participação de Lula na campanha é vista como estratégica para ele ampliar seus votos nas periferias. Regiões como São Miguel Paulista e Sapopemba, na zona leste, além de Grajaú e Cidade Ademar, na zona sul, foram conquistadas por seus adversários, apesar de historicamente serem redutos da esquerda.
Boulos também agradeceu o apoio público de Tabata. "Ela teve um papel muito importante de qualificar os debates. Fiquei muito contente de receber seu apoio", afirmou. Sobre a neutralidade de José Luiz Datena (PSDB), o candidato do PSOL disse que respeita e que procurará outras lideranças.
Analistas políticos avaliam que o segundo turno na capital paulista é uma missão mais desafiadora para Boulos. Além das projeções dos institutos Datafolha e Quaest já terem indicado vantagem de Nunes contra ele, o prefeito entra nesta nova fase da campanha com um trunfo importante: uma rejeição relativamente baixa. Conforme pesquisa Datafolha divulgada no último sábado, apenas 25% dos paulistanos diziam que não votariam nele de jeito nenhum, enquanto 38% rejeitam Boulos. A rejeição é um termômetro relevante para medir o potencial de crescimento de cada candidato.
"Das sete eleições de segundo turno em São Paulo, em seis delas o candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno também venceu no segundo turno. Tarefa difícil", destacou o cientista político Antonio Lavareda ao Estadão.