© Getty Images
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Em meio ao furacão Helene, que deixou mais de 200 mortos na Flórida, Carolina do Norte e Geórgia na semana passada, e as projeções de devastação com a chegada do Milton prevista para quarta-feira (9), uma onda de desinformação atingiu os EUA.
PUB
A menos de um mês da eleição, as mentiras têm como alvo as respostas aos desastres que têm sido feitas pelo governo Joe Biden e da sua vice, Kamala Harris, adversária de Donald Trump. Os dois estão tecnicamente empatados nas pesquisas de intenção de voto.
Marjorie Taylor Greene, uma deputada republicana fiel aliada do empresário, chegou a afirmar que "eles conseguem controlar o tempo" em uma postagem no X, após compartilhar um mapa mostrando o domínio republicano das áreas atingidas pelo Helene.
O próprio Trump foi responsável por uma série de afirmações falsas durante visitas que fez aos estados atingidos pelo furacão na semana passada. O empresário disse, entre outras mentiras, que o valor de ajuda aos atingidos seria de apenas US$ 750 (esse é o valor emergencial; o total pode chegar a milhares de dólares) e que a Fema, a agência que lida com desastres, estaria sem recursos porque gastou-os com imigrantes (ela acabou de receber uma injeção de US$ 20 bilhões e os fundos para imigrantes e desastres são independentes).
"Eles roubaram dinheiro da Fema do mesmo como roubaram de um banco, para poder dá-lo a imigrantes ilegais para que eles queiram votar neles", disse o republicano.
Um relatório de monitoramento das redes sociais divulgado nesta terça (8) identificou uma "enxurrada de ódio e ameaças antissemitas após o furacão Helene" contra a Fema e autoridades governamentais, em particular no X.
A diretora de relações públicas da Fema, Jaclyn Rothenberge, e Esther Manheimer, prefeita de Asheville, um dos locais mais severamente atingidos na Carolina do Norte, são judias.
Segundo o Instituto pelo Diálogo Estratégico (ISD, na sigla em inglês), autor do levantamento, 33 posts no X contendo afirmações desmentidas pela Fema receberam juntos mais de 160 milhões de visualizações até a última segunda (7).
"O governo Biden-Harris está enviando o furacão Milton para os redutos restantes de Trump antes das eleições presidenciais de 2024 para terminar o trabalho", diz, sem qualquer base científica, um dos posts identificados pelo relatório.
Entre as informações falsas espalhadas, estão a de que o auxílio de US$ 750 é um empréstimo e que o governo irá usá-lo para confiscar ativos de cidadãos. "Para as famílias da Carolina do Norte, eu sei que é difícil mas por favor não aceite os US$ 750, é um empréstimo e se você não pagá-lo de volta eles vão tomar a sua propriedade", diz um vídeo no TikTok mapeado pelo ISD.
Outros posts espalham as afirmações falsas de Trump de que a Fema não tem dinheiro para responder aos desastres e culpam, além de imigrantes, a ajuda dos EUA à Ucrânia e a Israel.
Diversos veículos americanos, como o Washington Post e a CNN, desmentiram as alegações de falta de recursos. Um post com quase 1 milhão de visualizações no X, porém, disse que "a mídia está mentindo".
Algumas das maiores contas envolvidas na difusão de mentiras, com mais de 2 milhões de seguidores, são as mesmas que compartilham conspirações anti-imigrantes, alegações falsas de fraude eleitoral e discurso antissemita em torno da chamada "Teoria da Substituição", uma ideologia racista que alerta contra um suposto desaparecimento da população branca.
"Seu papel como amplificadores revela como grupos diversos convergem em momentos de crise para cooptar o ciclo de notícias e promover suas posições a um público mais amplo ou mainstream", afirma o ISD.
"Encontramos uma dinâmica mutuamente reforçadora entre contas que espalham desinformação sobre o furacão Helene e aquelas que promovem alegações falsas sobre migrantes haitianos em Springfield, Ohio, a integridade das recentes eleições nos EUA, cidadãos judeus-americanos e a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia", segue o relatório.
A onda de desinformação motivou ameaças de violência contra o governo federal, como apelos para envio de milícias contra agentes da Fema.
Em resposta à onda de desinformação, a agência criou uma página para desmentir os rumores. Na última segunda (7), Kamala Harris chamou as declarações de Trump de "absurdamente irresponsáveis".
"Ninguém pode negar o impacto da crise climática. Quem faz isso deve ter [sofrido] morte cerebral", disse Joe Biden após o Helene.
"Embora a resposta ao furacão seja apenas mais um estudo de caso das falhas das plataformas, ela também ilustra como rumores serão usados como arma no futuro por influenciadores partidários. As narrativas que prosperam após o furacão não são novas, mas uma continuação de um fluxo constante de falsidades que desafiam a realidade em prol de pontos políticos e vantagem em uma próxima eleição. Perdida na enxurrada de falsidades está qualquer confiança no governo e na mídia", conclui o ISD.