Acusação de estupro contra Evo adiciona tensão à racha com presidente na Bolívia

Com a possibilidade da prisão de Evo se fortalecendo, o ex-presidente reafirma que o caso foi ressucitado para prejudicá-lo, acabar com sua vida e impedi-lo de concorrer contra Arce nas eleições de 2025. Sua defesa diz que o inquérito é ilegal, e Evo se recusa a cooperar com o Ministério Público

© Reuters

Mundo EVO-MORALES 14/10/24 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A investigação contra o ex-presidente da Bolívia Evo Morales, acusado de estuprar e engravidar uma adolescente de 16 anos em 2015, quando ainda estava no poder, elevou a tensão na disputa política entre o líder sindical e seu principal adversário, o presidente Luis Arce.

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Com a possibilidade da prisão de Evo se fortalecendo, o ex-presidente reafirma que o caso foi ressucitado para prejudicá-lo, acabar com sua vida e impedi-lo de concorrer contra Arce nas eleições de 2025. Sua defesa diz que o inquérito é ilegal, e Evo se recusa a cooperar com o Ministério Público.

A acusação veio à tona no início do mês, quando o governo de Arce confirmou a existência da investigação contra Evo. Na sexta-feira (11), a polícia da Bolívia prendeu o pai da adolescente depois que ele se recusou a depor perante o Ministério Público do país.

A medida pode levar à prisão de Evo, uma vez que o ex-presidente também foi convocado e também se recusou a comparecer –seu depoimento estava marcado para a última quinta-feira (10). Segundo o Ministério Público, a investigação contra Evo apura os crimes de "estupro, exploração e tráfico de pessoas".

A defesa do ex-presidente afirma que o caso já foi analisado e arquivado pela Justiça em 2020 e que Evo é inocente. O novo inquérito foi aberto pela promotora Sandra Gutiérrez, que chegou a pedir a prisão dele no último dia 26 –a ordem foi derrubada por um juiz poucos dias depois.

Gutiérrez, que foi removida e depois restituída a seu cargo, reabriu o caso contra Evo por estupro e acrescentou as acusações de exploração e tráfico de pessoas contra o ex-presidente. Evo afirma que não vai cooperar com a investigação, que considera ilegal.

Segundo o mandado de prisão anulado pela Justiça, os pais da suposta vítima a colocaram em contato com Evo "com a única finalidade de ascender politicamente e obter benefícios em troca da filha", o que configuraria tráfico e exploração de pessoas.

O ministro da Justiça do governo Arce, César Siles, disse na quinta-feira que o Ministério Público pode ordenar a prisão de Evo caso ele siga se recusando a depor. No último dia 3, Siles havia dito que há uma certidão de nascimento que reconhece Evo como pai da filha da suposta vítima. O ex-presidente disse que o governo do rival político ressuscitou a acusação para prendê-lo e acabar com a sua vida.

"Se sair uma ordem prisão ou tentarem capturá-lo, será acionado imediatamente o bloqueio nacional de estradas nos nove departamentos do país. Estamos em estado de alerta em defesa de Evo", disse o senador e dirigente cocaleiro Leonardo Loza.

Evo tem organizado protestos contra o governo Arce nas últimas semanas a fim de pressionar pela convocação de novas eleições –o próximo pleito está marcado para agosto de 2025, e o ex-presidente é impedido pela legislação atual de concorrer novamente.

Um dos protestos consistiu em uma marcha até a capital, La Paz, que terminou em confronto com a polícia e dezenas de feridos. Evo chegou a dar um ultimato a Arce no último dia 23, dizendo que o presidente teria que trocar seus ministros em 24 horas caso quisesse "continuar governando". O governo Arce considerou a fala uma tentativa de golpe de Estado.

Arce e Evo travam uma ferrenha disputa por controle do partido governista, o MAS (Movimento ao Socialismo), dominado pelo ex-presidente por muitos anos. Ex-ministro da Economia e escolhido a dedo por Evo para sucedê-lo e disputar as eleições de 2020, Arce se distanciou do seu padrinho político com a tentativa do ex-presidente de concorrer novamente ao cargo em 2025 como candidato do MAS.

O racha entre os dois piorou depois da tentativa de golpe militar na Bolívia em junho deste ano. O general por trás da quartelada, Juan José Zúñiga, havia sido removido do posto por Arce um dia antes de cercar o palácio presidencial com tanques por se manifestar contra um eventual retorno de Evo à Presidência e ameaçar o ex-presidente.

Quando a situação foi distensionada e o general, preso, Zúñiga afirmou ter agido a mando de Arce –o presidente nega. Evo disse na época estar convencido que a ação do general foi uma tentativa de autogolpe por parte de Arce para evitar seu retorno ao poder.

Leia Também: Justiça emite mandado de prisão contra Evo Morales por abuso sexual

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