Investigação de estupro aprofunda fosso entre Mbappé e franceses

O inquérito em andamento na Suécia, onde o jogador passou dois dias de folga na semana passada, junta-se a outras polêmicas que nos últimos meses abalaram a imagem de Mbappé

© Getty Images

Esporte Justiça 15/10/24 POR Folhapress

PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Os franceses deixaram temporariamente de lado a atual crise política. O assunto das conversas de bistrô passou a ser uma investigação de estupuro envolvendo o maior ídolo nacional, Kylian Mbappé.

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O inquérito em andamento na Suécia, onde o jogador passou dois dias de folga na semana passada, junta-se a outras polêmicas que nos últimos meses abalaram a imagem de Mbappé, 25, perante boa parte da torcida francesa: a saída litigiosa do Paris Saint-Germain rumo ao Real Madrid, declarações de cunho político, a dispensa mal explicada de dois jogos da seleção francesa.

"Há um sentimento de desamor por Mbappé, a imagem dele não unifica mais", disse um patrocinador da seleção francesa ao jornal esportivo L'Équipe.

O estupro teria ocorrido na última quinta-feira (10), no hotel onde Mbappé estava hospedado, de folga, no centro de Estocolmo. O caso veio à tona apenas na segunda-feira (14), por meio de dois tabloides suecos.

Segundo o Expressen, a polícia considerou haver uma "suspeita razoável" contra Mbappé. Isso representa, na lei sueca, o grau mais leve de suspeita a justificar um indiciamento. A procuradoria de Estocolmo confirmou que uma mulher registou um boletim de ocorrência por estupro no hotel onde o jogador se hospedou, porém não divulgou nomes.

Mbappé nega tudo. Insinuou uma armação oportunista. "Fake news! Está ficando tão previsível, por acaso bem na véspera da audiência", tuitou. A audiência foi no tribunal da liga francesa, nesta terça (15). O jogador cobra do PSG 55 milhões de euros (cerca de R$ 340 milhões) em salários devidos. A decisão sairá no dia 25.

Diante da escalada do caso sueco, a assessoria do jogador divulgou um comunicado, denunciando uma "destruição de imagem metódica" e ameaçando processar "todas as pessoas e veículos envolvidos no assédio moral e tratamento difamatório" que ele estaria sofrendo.

A simples presença de Mbappé na Suécia já estava causando polêmica. No mesmo período, a seleção francesa estava reunida para dois jogos da Liga das Nações, contra Israel e Bélgica. O técnico Didier Deschamps não convocou o craque, apontando problemas musculares.

Três dias depois da não convocação, porém, Mbappé jogou 70 minutos pelo Real Madrid contra o Villarreal, pelo Campeonato Espanhol. E quatro dias depois foi flagrado por paparazzi, de gorro e máscara pretos, em uma noitada em Estocolmo.

Foi o suficiente para deleitar os inimigos do jogador, que atualmente não são poucos. Segundo uma pesquisa do instituto Odoxa, as opiniões favoráveis sobre Mbappé na França caíram de 66% em abril para 54% no mês passado.

É uma queda surpreendente para um craque que, desde o título mundial de 2018, aos 19 anos, gozava de uma unanimidade só comparável à de ídolos do passado, como Michel Platini e Zinédine Zidane.

Na bolha da ultradireita, Mbappé é especialmente malvisto, principalmente depois de um post em junho de 2023, indignado com um policial que matou um adolescente de 17 anos em uma blitz de trânsito. "Sinto dor pela minha França", publicou o jogador. Às vésperas das eleições legislativas de julho passado, ele conclamou a população a não votar "nos extremos".

Em contas radicais no Instagram, surgiu uma teoria conspiratória: Mbappé teria se recusado a enfrentar Israel em apoio ao Hamas, organização responsável pelos atentados terroristas de outubro de 2023, estopim da guerra em curso no Oriente Médio.

Entre comentários na conta do canal de TV CNews, de viés ultradireitista, lê-se: "Ele envergonha a França", "o anjinho pró-Palestina não quer contato com os judeus" e "que ele fique na Espanha".

A Mbappé, filho de camaronês e neto de argelinos, os ultradireitistas opõem jogadores brancos da seleção, como o goleiro Hugo Lloris, 37, e os atacantes Antoine Griezmann, 33, e Olivier Giroud, 38. Os três se aposentaram da equipe nacional nos últimos meses.

A ausência mais sentida foi a de Griezmann. Os franceses se desacostumaram a ver os "Bleus" jogarem sem ele. "Grizou", como foi carinhosamente apelidado, disputou 84 partidas consecutivas pela seleção entre 2017 e 2023.

O anúncio abrupto, há duas semanas, sem marcar despedida, deixou no ar a suspeita de insatisfação. É sabido que Griezmann queria suceder Lloris como capitão da seleção. Deschamps preferiu entregar a braçadeira a Mbappé.

"Pobre Deschamps, ajoelhou-se diante do Sr. Tudo Eu. Dá para entender por que Griezmann, Giroud e Lloris foram embora", comentou outro internauta no Instagram, refletindo como pensa parte do público francês.

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