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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou em alta de 0,30% nesta quinta-feira (31), a R$ 5,781, em reação aos novos dados de inflação dos Estados Unidos e com preocupações de investidores sobre as contas públicas brasileiras.
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Esse é o maior valor para a moeda americana desde 9 de março de 2021, quando encerrou em R$ 5,792. Só em outubro, a divisa acumulou alta de 6,10%.
Já a Bolsa caiu 0,70%, aos 129.713 pontos, pressionada pela forte queda dos papéis do Bradesco após o balanço corporativo do terceiro trimestre.
O PCE (índice de preços de consumo pessoal, na sigla em inglês) subiu 0,2% em setembro, depois de avançar 0,1% no mês anterior. O resultado veio em linha com o esperado por economistas consultados pela Reuters.
No acumulado de 12 meses, houve desaceleração para 2,1% -o menor aumento anual desde fevereiro de 2021. Em agosto, estava em 2,3%.
O PCE é o indicador de inflação mais monitorado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para balizar as decisões de política monetária. A autoridade americana trabalha com um mandato duplo, isto é, olha de perto os números inflacionários e de emprego para decidir sobre juros.
O objetivo é atingir o chamado "pouso suave": quando os índices de preços convergem para a meta de 2% sem grandes danos à empregabilidade do país.
Também divulgados nesta quinta, os pedidos semanais de auxílio-desemprego caíram para 216 mil na semana encerrada em 26 de outubro, ante 228 mil da semana anterior. A expectativa era por 230 mil pedidos.
Os dados endossam a percepção de força da economia dos Estados Unidos. A leitura é que a inflação está controlada e próxima da meta de 2%, ao passo que o mercado de trabalho segue dando sinais de resiliência e robustez.
Com isso, os investidores esperam que o Fed desacelere o ritmo de cortes na taxa de juros na próxima reunião de política monetária, marcada para semana que vem, entre os dias 5 e 6 de novembro.
Na ferramenta CME Fed Watch, um corte de 0,25 ponto percentual marca 96% de probabilidade, enquanto os 4% restantes estão em apostas de uma manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5%.
O Fed iniciou o aguardado ciclo de afrouxamento monetário na reunião de setembro, quando optou por uma redução de 0,50 ponto percentual.
O movimento é o contrário do realizado pelo BC (Banco Central) brasileiro, que também se reúne nos mesmos dias que o Fed na semana que vem e, no encontro passado, optou por aumentar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano.
O Copom (Comitê de Política Monetária) tem travado uma batalha contra a inflação. A meta é levá-la a 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.
No Boletim Focus desta semana, economistas ouvidos pelo BC subiram a projeção para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, indicador oficial da inflação do país) ao final do ano, de 4,50% para 4,55% -acima do teto da meta.
A desancoragem de expectativas para a inflação tem, em partes, origem na cena fiscal brasileira. O mercado segue preocupado com a estabilidade das contas públicas: para os agentes financeiros, é preciso ajustes na ponta das despesas, e não só reforços na arrecadação.
Na terça-feira, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que as propostas de corte de gastos prometidas pelo governo estão sob análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que cabe ao petista definir quando o conjunto será fechado.
A pretensão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) em 15 de outubro. Na ocasião, afirmou que as medidas seriam enviadas após as eleições municipais, findadas no último domingo.
Para Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, o fato de o pacote fiscal ainda precisar da aprovação de Lula pode "dificultar o processo e afastar a concretização das medidas". O dólar, em resposta, subiu para R$ 5,762.
Na quarta-feira, Haddad disse que há convergência com a Casa Civil em torno da elaboração do pacote, mas ressaltou que o plano passa por análise jurídica e ainda não tem prazo para ser apresentado.
Em entrevista a jornalistas, ele afirmou que deve ser necessário aprovar uma emenda constitucional para efetivar medidas em análise, ressaltando que elas terão "o impacto necessário para o arcabouço ser cumprido".
Ele também disse entender a inquietação do mercado, argumentando que uma semana a mais de discussão no governo não vai prejudicar as propostas, mas "melhorar a qualidade do trabalho".
Também na quarta-feira, houve uma reunião da JEO (Junta de Execução Orçamentária), colegiado de ministros responsável pelas decisões de política fiscal e orçamentárias do governo.
A equipe econômica do governo, agora, avalia criar um limite global para as despesas obrigatórias, que seguiria o mesmo índice de correção do arcabouço fiscal (expansão de até 2,5% acima da inflação ao ano).
Caso os gastos obrigatórios avancem acima desse patamar, gatilhos de contenção seriam acionados para ajudar a manter a trajetória de despesas sob controle.
Segundo técnicos a par das discussões, o limite para as obrigatórias com gatilhos de contenção seria uma forma de guiar as expectativas dos agentes econômicos, que hoje antecipam as incertezas com o futuro do arcabouço fiscal.
Temores de que a regra seja insustentável a partir de 2027 têm contribuído para a avaliação mais pessimista da política fiscal já no momento presente, o que se reflete nas taxas de juros e no câmbio.
"O real já tem um problema doméstico que é a falta de apresentação de um plano crível de corte de gastos. Isso prejudica tanto a curva de juros quanto o câmbio", disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Além disso, o dólar também tem sido afetado pela proximidade das eleições presidenciais americanas. O mercado projeta vitória do candidato republicano, Donald Trump, sobre a atual vice-presidente democrata Kamala Harris. As chances de um retorno do republicano Casa Branca marcam 66% na plataforma Polymarket.
As promessas econômicas de Trump incluem aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos -medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed a manter juros elevados por mais tempo, o que fortalece o dólar.