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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos leva o mercado financeiro global a precificar juros mais altos por mais tempo, além de uma valorização do dólar em relação às demais divisas globais.
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Com a promessa de elevar tarifas de importações e dificultar a imigração, a expectativa é que o segundo governo do republicano aumente a inflação americana, o que faria com que os juros dos EUA também permanecessem em um patamar alto. Tais fatores, combinados à expectativa de fortalecimento da economia americana e incerteza quanto ao cenário geopolítico global, tendem a fortalecer a moeda local.
"O efeito imediato é o dólar e os juros mais fortes, mas nas próximas semanas o fiscal brasileiro deve voltar ao foco", afirma Marcelo Mello, CEO da SulAmérica Investimentos.
Após uma escalada recente do dólar, o mercado brasileiro opera em compasso de espera pelo corte de gastos que está para ser anunciado pelo governo Lula.
"Principalmente agora, com a definição das eleições nos EUA, é preciso um pacote de medidas que vá desindexar alguns benefícios sociais e que comece a tratar de uma nova reforma na Previdência", diz Mello.
Com o cenário mais favorável para investimentos nos EUA, dado a moeda forte, juros maiores e isenção a empresas locais, o investimento em emergentes tende a ser preterido. Dessa forma, para capturar recursos estrangeiros, o governo brasileiro deve reduzir a percepção de risco quanto ao país, reduzindo a trajetória de endividamento do Brasil.
Hoje, a dívida pública beira os 80% do PIB (Produto Interno Bruto) e a expectativa é que vá a 88% do PIB ao fim de 2026. Se essa previsão for revisada para baixo, o Brasil poderia ver uma entrada de capital estrangeiro, e consequentemente, de dólares, no país.
"Se o governo soltar medidas mais imediatistas, que resolvem 2024, o mercado não reagirá bem", afirma Mello.
Porém, com juros maiores nos EUA, o Brasil pode ter que subir a Selic (taxa básica de juros da economia) para financiar a dívida pública.
"O trabalho do BC [Banco Central] fica bem mais difícil. O mercado precifica a Selic acima de 13% no ano que vem", afirma Gustavo Pi Okuyama, gestor da Porto Asset.
Juros mais altos no Brasil beneficiam a renda fixa, especialmente a pós-fixada, que acompanha a trajetória da Selic.
Ian Lima, diretor de renda fixa ativa da Inter Asset, recomenda o Tesouro Selic para investimentos com objetivo de curto prazo e o Teosuro IPCA+ (NTN-B) em prazos mais longos.
"Apesar do juro real de 7% nos prazos mais curtos da NTN-B, o BC deixa a entender que irá perseguir um juro real acima de 7%", diz Lima.
Segundo o gestor, os títulos IPCA+ com vencimentos para 2045 e 2050 dobram o valor investido, em termos reais, a cada dez anos. Ou seja, o montante original estará mais de quatro vezes maior no vencimento, já considerando a inflação.
Às 12h, moeda norte-americana subia 0,6% ante o real, cotada a R$ 5,78, após superar os R$ 5,80 pela manhã. Em relação aos pares globais, a valorização é maior, com o índice DXY, que mede a força da moeda americana em relação a uma cesta de outras seis divisas fortes, subindo 1,8%.
"Trump fala em taxas de até três dígitos, taxando em até 200% itens específicos da China. Isso pode fazer com que produtos chineses sobrem no mercado e fiquem mais baratos, reduzindo inflação para o Brasil, ao passo que elevaria a inflação americana", diz Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
Apesar de itens chineses mais baratos, a apreciação do dólar pode pressionar a inflação brasileira. No entanto, economistas não esperam um novo salto da divisa ante o real, apenas manutenção do câmbio em patamares elevados.
Já a curva de juros dos EUA precificava a taxa de retorno do título do Tesouro de dez anos a 4,45% ao ano.