Eleitores que não se identificam com nenhum partido atingem recorde nos EUA

Diante de um eleitorado cristalizado e de uma disputa que se prometia acirrada, o grupo volátil foi tratado como precioso pelas campanhas

© Getty Images

Mundo Estados Unidos 08/11/24 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A cada eleição americana, reacende-se o debate sobre a histórica polarização do país. Pois, desta vez, os eleitores que dizem não se identificar com nenhum dos dois tradicionais partidos atingiram seu recorde e superaram os democratas de forma inédita em 20 anos.

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O cenário neste pleito é praticamente de terços: 35% dos que foram às urnas afirmam ser afinados com o partido de Donald Trump, 34% se caracterizam como independentes -número que cresceu oito pontos percentuais em relação a 2020- e 31% declaram apoio a legenda de Kamala Harris.

É o que mostra uma pesquisa de boca de urna feita pela Edison Research com 22 mil pessoas que votaram na terça-feira (5) ou antecipadamente, em parceria com os veículos ABC News, CBS News, CNN e NBC News. Os resultados são preliminares, e a margem de erro é de dois pontos percentuais.

Diante de um eleitorado cristalizado e de uma disputa que se prometia acirrada, o grupo volátil foi tratado como precioso pelas campanhas. Na reta final, gerou até uma corrida por participações dos dois candidatos em podcasts, que alcançam semanalmente quase metade dos jovens de 18 a 34 anos nos Estados Unidos.

Esse é um dos grupos que menos se sentem representados pelos partidos Republicano e Democrata: 55% dessa faixa etária não se identifica com nenhum deles e 38% se declara independente, segundo outro relatório da empresa de pesquisas.

Embora variem muito, esses votantes chamados independentes em geral se inclinaram aos democratas nas últimas duas décadas, e desta vez não foi diferente. A boca de urna indica que 49% deles votaram por Kamala e 46% optaram por Trump, que, apesar disso, melhorou seu desempenho em relação a 2020.

Nesse período, esse público só deu maioria aos republicanos duas vezes. Em 2012, preferiram Mitt Romney a Barack Obama. Em 2016, deram mais votos a Trump do que a Hillary Clinton, mas daquela vez também migraram de forma recorde a candidatos da terceira via, com 12%.

Mas outra pesquisa, a Gallup, realizada ano a ano, mostra outro lado da moeda. Primeiro, indica que os americanos em geral (não só aqueles que vão votar) já são a maior força faz tempo. Eles ultrapassaram o número de apoiadores dos dois principais partidos pela primeira vez em 1991 e continuaram a superá-los desde então, exceto em alguns anos entre 2004 e 2008.

E quem mais perdeu apoio nesse período foram os democratas, historicamente o maior grupo político. No ano passado, pela primeira vez, ligeiramente mais independentes tendiam ao vermelho republicano do que ao azul democrata, o que segundo os pesquisadores provavelmente está relacionado à impopularidade do presidente Joe Biden.

Outro destino dos eleitores que não se identificam com nenhum dos partidos é, possivelmente, a terceira via. Seus candidatos ficam muito longe de ganhar, mas costumam ser acusados de influenciar o resultado ao tirar votos cruciais de um ou de outro lado em colégios eleitorais específicos.

Neste ano, além de Trump e Kamala, outros 24 postulantes concorreram à Casa Branca. Entre eles estavam Jill Stein (Partido Verde), focada em mudanças climáticas e justiça social; Chase Oliver (Libertário), defensor das liberdades individuais e da redução do Estado; e o independente Robert Kennedy Jr., que cancelou sua campanha mas apareceu nas cédulas de alguns locais -e se tornou um vocal apoiador de Trump.

Todos os postulantes alternativos acabaram somando apenas 1,5% dos votos depositados nas urnas, pouco na comparação histórica. A campanha de Kamala se mostrou particularmente preocupada com Stein e outro candidato de esquerda na reta final.

Em 2016, a candidata do Partido Verde e o libertário Gary Johnson, que obtiveram respectivamente 1% e 3% dos votos, foram acusados de prejudicar a campanha de Hillary Clinton, reunindo dezenas de milhares de votos que acabaram dando vitória a Trump, por exemplo, em Wisconsin.

O azarão que chegou mais perto de se tornar presidente dos Estados Unidos foi o falecido bilionário Ross Perot, que conseguiu 18,9% dos votos populares e foi apontado como responsável pela vitória do democrata Bill Clinton contra o ex-presidente republicano George H. W. Bush.

É difícil medir seu real impacto. Esses candidatos costumam negar o "roubo de votos", argumentando que oferecem aos eleitores uma opção ideológica alternativa aos dois grupos hegemônicos. Outra ponderação é que os americanos que não se sentem representados nem sempre migram a esses candidatos. Muitas vezes nem saem de casa para votar.

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