Digital em foto e B.O. de batida de carro levaram PF a 'kid preto' que tramou morte de Moraes

O número de telefone cadastrado com dados roubados foi usado pelo comando da ação que os "kids pretos" colocaram na rua - no final, ela acabou "abortada". As informações pertenciam ao dono da CNH fotografada por "Joe": um "terceiro de boa-fé" que bateu no carro do major um mês antes da ação clandestina contra Moraes.

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Política Polícia Federal 21/11/24 POR Estadao Conteudo

A Polícia Federal encurralou o major Rafael de Oliveira, "kid preto" ligado à Operação "Copa 2022" - missão golpista concebida para prisão e execução do ministro Alexandre de Moraes, do STF, em dezembro passado - a partir apenas de uma foto no celular do militar. Na imagem, o major "Joe", como é conhecido na caserna, empunhava a carteira de habilitação de um terceiro - cujos dados usou ilicitamente para conseguir uma linha telefônica sem ser identificado.

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O número de telefone cadastrado com dados roubados foi usado pelo comando da ação que os "kids pretos" colocaram na rua - no final, ela acabou "abortada". As informações pertenciam ao dono da CNH fotografada por "Joe": um "terceiro de boa-fé" que bateu no carro do major um mês antes da ação clandestina contra Moraes.

O que despertou os investigadores não foi apenas o documento, mas o indicador esquerdo de ‘Joe’ que aparecia na foto segurando a CNH. A PF conseguiu extrair e identificar a digital do militar no plano Copa 2022 que, em última instância, previa um golpe de Estado e também o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu vice Geraldo Alckmin.

Joe’ era rosto já conhecido entre os investigadores da tentativa de golpe gestada no governo Jair Bolsonaro. Ele foi alvo da Operação Tempus Veritatis, que a PF deflagrou em fevereiro último, ocasião na qual foi apreendido o celular do major.

No aparelho, os investigadores verificaram como o ‘kid preto’ deu coordenadas para um plano que os militares efetivamente puseram em prática contra Moraes, inclusive com uso de veículo oficial do Exército.

Na esteira da Operação Tempus Veritatis, ‘Joe’ passou a usar tornozeleira eletrônica. Já nesta terça-feira, 19, o major foi alvo de mandado de prisão preventiva no âmbito da Operação Contragolpe - a qual também levou à prisão o general Mário Fernandes, ex-secretário-executivo do governo Bolsonaro por envolvimento com a missão de envenenar Lula e explodir Moraes.

Os dados do celular de ‘Joe’ levaram a PF a descortinar todos os detalhes do plano envolvendo um núcleo de seis militares que, no dia 15 de dezembro de 2022, saíram no encalço de Moraes.

No aparelho, havia os registros, em um grupo de aplicativo de mensagens, dos detalhes da Operação ‘Copa 2022' - uma "ousada sequência de ações de militares, nitidamente realizadas a partir de um planejamento minuciosamente elaborado".

Segundo a PF, o esquema para pegar o ministro é um "verdadeiro capítulo no contexto de tentativa de golpe de Estado". Para os investigadores, ele está diretamente relacionado ao plano ‘Punhal Verde Amarelo’, encontrado com o general Mário Fernandes, preso nesta terça, 19.

As mensagens encontradas com o major ‘Joe’ mostram a movimentação dos ‘kids pretos’ pelas ruas de Brasília - após dias de monitoramento - na pista de Moraes.

Diálogos revelam que a ação acabou abortada após um dos envolvidos compartilhar a informação de que o julgamento que era realizado no STF na ocasião, sobre o orçamento secreto, havia sido adiado.

Como mostrou o Estadão, para operacionalizar a ação, os militares usaram telefones frios, em nome de terceiros, assim como codinomes de países que disputaram a Copa do Mundo de 2022 - Japão’, ‘Brasil’ e ‘Alemanha’, por exemplo - em uma tentativa de ocultar suas identidades.

O grupo estudou o caso Marielle Franco para evitar ‘erros’ que levaram a Polícia a identificar os assassinos da vereadora e de seu motorista Anderson Gomes. Os arquivos de estudo do grupo - um deles nomeado como apostila - estavam com Rafael.

Joe’ não contava, porém, que a perícia da PF conseguiria identificar sua digital, o que ocorreu a partir da foto do documento que usou justamente para conseguir um ‘telefone frio’. A carteira de habilitação pertence a Lafaiete Teixeira Caitano.

Também no aparelho celular de ‘Joe’, havia a foto de um Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo de um carro - Chevrolet Cruze - registrado em nome de Lafaiete.

Ambas as fotos foram registradas no dia 25 de novembro de 2022, quando, segundo a Polícia Federal, o grupo de ‘kids pretos’ já estava realizando ações de monitoramento de Moraes.

Uma semana antes das fotos serem tiradas, no dia 12, Rafael participou de reunião na casa do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, na qual foi aprovada o plano de ação dos ‘kids pretos’ contra Moraes.

Logo após o encontro, foi Rafael quem encaminhou para Cid o documento, com senha, ‘Copa 2022, com "as necessidades iniciais de logística e orçamento de gastos para as ações clandestinas com o emprego de militares com formação em forças especiais". Ele queria um orçamento de R$ 100 mil para a ação.

A PF então quis identificar quem era Lafaiete e descobriu que ele registrou um boletim de ocorrência, no dia 6 de dezembro de 2022, junto à Polícia Civil de Goiás, narrando um acidente de trânsito ocorrido em 24 de novembro - um dia antes das fotos feitas pelo major Joe.

Lafaiete narrou à Polícia que, no km 4 da BR 060, em uma região conhecida como sete curvas, houve uma batida envolvendo seu carro e um VW T Cross, que era conduzido por Rafael Martins de Oliveira.

O acidente ocorreu por volta de 22h15. Chovia e a pista estava parcialmente bloqueada por um outro acidente com uma carreta.

Lafaiete narrou que o veículo de ‘Joe’, que era alugado, estava quase parado e que não conseguiu frear a tempo de evitar a batida. "No momento depois do acidente conversamos e acionamos a seguradora para retirar os veículos da via", contou.

A PF constatou que as fotos tiradas pelo major tinham direta relação com o acidente de carro. Foi então que os investigadores lembraram de um codinome usado no grupo ‘Copa 2022' - teixeiralafaiete230 - e resolveram puxar os dados do número de celular vinculado a esse perfil.

O resultado: o chip tinha sido cadastrado no dia 8 de dezembro, exatamente em nome de Lafaiete Teixeira Caetano, que havia batido no carro do major.

A "imediata correlação" encurralou o major: a PF concluiu que ele usou os dados de Lafaiete, um "terceiro de boa-fé", para habilitar número telefônico que, posteriormente, foi utilizado na ação clandestina do dia 15 de dezembro de 2022. No entanto, na operação para pegar o ministro Moraes, o número não teria sido usado por Joe’, mas por um investigado de codinome Alemanha, apontado como chefe da ação, ainda não identificado.

No dia da ação, o usuário teixeiralafaiete230' compartilhou a informação de que o STF havia adiado a votação sobre o orçamento secreto. É o mesmo usuário que dá a ordem para ‘abortar’ a missão, após um dos militares perguntar se ‘vai cancelar o jogo’.

Apesar da associação direta com os dados roubados de Lafaiete, a PF ainda levantou outros indícios de que "Joe" participou ativamente da operação "Copa 2022" usando um outro número e o codinome "Japão". A PF vinculou este novo número - vinculado a um suposto "Diogo Bastardo" - ao aparelho do militar apreendido na Operação Tempus Veritatis.

Leia Também: Enquadro criminal de golpistas ganha força, mas ainda sob corrente divergente

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