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IGOR GIELOWSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A divulgação por Vladimir Putin acerca de um novo sistema de míssil balístico de alcance intermediário, usado pela primeira vez nesta quinta (21), é bastante inusual. A arma, afinal, é experimental segundo o próprio presidente russo.
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Nada se sabe sobre o míssil Orechnik (neblina, em russo), mas seu desenvolvimento está no centro de uma grande polêmica com os Estados Unidos.
Em 2019, Donald Trump determinou a saída dos EUA do tratado INF, sigla inglesa para Forças Nucleares Intermediárias, que proibia a instalação nos países da Europa de mísseis com o tal alcance: de 550 km a 5.500 km.
O tratado era parte do tripé que sustentou o fim da Guerra Fria, ao lado do programa Céus Abertos, que Trump também abandonou e permitia voos de reconhecimento de países adversários para checar movimentações nucleares, e o Novo Start, o último tratado de limitação de armas estratégicas que foi suspenso por Putin no ano passado.
O republicano, que vai voltar ao poder em 2025, dizia que os russos estavam desenvolvendo mísseis de alcance intermediário secretamente. Tais modelos eram centrais para o quase risco de guerra nuclear de 1983, quando os soviéticos operavam o SS-20 e os americanos, o Pershing-2, o que levou ao INF.
Agora, Putin faz a mesma acusação contra os americanos, e na realidade ambos devem estar certos. Nenhum dos lados parou o desenvolvimento de armas, ainda que de forma limitada.
Mísseis com ogivas múltiplas são armas pensada para ataques de saturação em guerras nucleares. A imagem delas caindo em sequências por seis vezes sobre Dnipro "lembra o que nós sempre achamos que iríamos ver pela última vez", disse sem ironia o canal do Telegram russo BMDP, de especialistas militares.
Ou seja, bombas nucleares. Não se espera que Putin as empregue, mas é indiscutível que ele tem feito um esforço grande para ser levado a sério.
Há questões políticas. A insistência de Kiev de que a arma pode ser um míssil balístico intercontinental tinha sentido político: é a arma por excelência de guerras de extermínio nucleares.
Não havia, contudo, sentido militar em usar um ICBM, a sigla inglesa para esse tipo de arma, contra a Ucrânia. Esse mísseis são produzidos para levar uma ou várias ogivas nucleares a distâncias acima dos 5.500 km -alguns modelos chegam a 16 mil km.
Rússia e EUA têm, por tratado ora suspenso, 400 lançadores de ICBMs cada um -Moscou usa silos e mísseis disparados de veículos móveis, enquanto americanos só têm modelos tem silos. Completam a chamada tríade nuclear mísseis e bombas lançadas por aviões e submarinos.
O alvo atingido hoje fica a meros 800 km em parábola de sua base presumida de lançamento. Além disso, por empregar de forma primária armas nucleares, os mísseis são menos precisos do que os modelos usados na Guerra da Ucrânia -como o estrago é maior, não precisam tanta acurácia.
São usualmente armas estratégicas, aquelas que visam mudar o rumo da guerra ao vaporizar cidades inteiras, em oposição às táticas, em tese menos potentes e e de uso mais focado no campo de batalha.
Se foi mesmo o novo IRBM, o recado de Putin está dado da mesma maneira. Esta também é uma arma concebida para guerras nucleares. Assim como os ICBMs e IRBMs atuais, eles podem também levar ogivas convencionais, apenas não valendo a pena o custo da operação do ponto de vista militar.
O canal de Telegram Fighterbomber, ligado às forças aeroespaciais russas, disse que o modelo empregado não foi um RS-26, mas sim "algo novo", sem especificar. Depois, celebrou o anúncio de Putin. "Sou o melhor analista do dia", brincou.
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