Venda de carros levará dez anos para se recuperar, diz economista

"A capacidade ociosa cresceu muito e, mesmo que ocorra uma recuperação do mercado, vai levar pelo menos uma década para o setor recuperar a plena capacidade", diz João Morais, economista da Tendências Consultoria

© Reuters

Economia Retração 15/05/16 POR Estadao Conteudo

Após nove anos de crescimento contínuo, o mercado de carros novos freou em 2013 e, desde então, só acumula retrações. Neste ano, pelas projeções do setor, as fábricas devem comercializar no país perto de 2 milhões de veículos, o que significará retroceder ao mercado de dez anos atrás, quando havia nove fábricas a menos do que hoje.

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"A capacidade ociosa cresceu muito e, mesmo que ocorra uma recuperação do mercado, vai levar pelo menos uma década para o setor recuperar a plena capacidade", diz João Morais, economista da Tendências Consultoria, especialista em setor automotivo. Ele lembra que o ambiente de insegurança afugenta o consumidor de bens de alto valor, como o automóvel. "O que o governo de Michel Temer precisa fazer é gerar um cenário de maior previsibilidade."

Só assim consumidores como Lucas de Paula Francisco Grespan, de 26 anos, conseguirão levar adiante o plano de comprar um carro novo. No caso dele, o Corsa 2001 não atende mais às necessidades da família, principalmente após o nascimento da filha Lauryn, há11 meses. "Preciso de um carro mais seguro e mais confortável, com airbag e ar-condicionado, itens que o atual não tem", afirma.

Ele fazia cotações de preço e de financiamento quando perdeu o emprego de motorista em uma empresa de fios de cabos elétricos em Santo André, no ABC paulista, há seis meses. Enquanto não consegue nova colocação, ajuda o cunhado em uma oficina mecânica, mas a renda caiu pela metade. "Não vou me arriscar agora e só vou atrás de outro carro quando conseguir trabalho com remuneração melhor", afirma Grespan, que mora na casa da mãe com a esposa e a filha.

Bonanza. Não faz muito tempo o cenário era outro. Os anos de bonanza, regados a crédito farto, incentivos fiscais, aumento da renda e queda do desemprego elevaram o mercado brasileiro de um patamar de vendas de 1,57 milhão de carros e caminhões em 2004 (um ano após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumir a presidência da República) para 3,8 milhões em 2012 (também um ano após a posse de Dilma Rousseff, afastada do cargo na semana passada).

A partir de 2013, o mercado começou a regredir. Foram vendidos 3,76 milhões de veículos, volume que baixou para 3,49 milhões no ano seguinte e para 2,56 milhões em 2015. Recuperar o nível recorde de 2012 vai levar ao menos uma década, preveem analistas do setor automobilístico.

De janeiro a abril deste ano as vendas caíram 27,9% ante igual período de 2015, somando 644,2 mil veículos. Assustados com o desemprego e com a confiança em baixa, consumidores desapareceram das concessionárias. A produção de veículos acompanha a queda drástica das vendas e hoje as montadoras operam com menos da metade de sua capacidade instalada, de cerca de 5 milhões de veículos anuais.

No ano passado, 14,4 mil trabalhadores foram demitidos pelas montadoras de veículos e máquinas agrícolas. Neste ano, até abril, já foram mais 1,4 mil.

As concessionárias cortaram 32 mil vagas em 2015 e 16,5 mil neste ano. As autopeças eliminaram 29,8 mil empregos no ano passado e projetam 8,4 mil cortes entre janeiro e dezembro.

Além disso, as montadoras mantêm 42 mil funcionários - 32% de seu efetivo - no Programa de Proteção ao Emprego (PPE, que reduz jornada e salários) e em lay-off (contratos de trabalho suspensos).

Na opinião de Morais, Temer pode começar a reverter esse quadro, por ter força política para restabelecer a governabilidade. Com isso, diz ele, será possível destravar parte do crédito e da demanda, especialmente de consumidores que aguardavam uma definição da crise para seguir adiante com seus planos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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