Extinção do Minc é tentativa de volta ao passado, diz Dilma

Dilma destacou que a criação do MinC foi uma das primeiras medidas depois da conquista das eleições diretas para a Presidência da República e criticou a fusão

© Reuters

Política Retrocesso 19/05/16 POR Estadao Conteudo

Pelo segundo dia consecutivo, a presidente afastada Dilma Rousseff usou as redes sociais para defender o seu mandato e criticar o governo do presidente em exercício Michel Temer. Nesta quinta-feira, 19, o tema escolhido foi Cultura, justamente após as reações contrárias de artistas pela decisão do presidente em exercício, Michel Temer, de fazer uma fusão entre o Ministério da Educação e o da Cultura.

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Ao responder para internautas no Facebook, Dilma afirmou que a extinção do MinC é uma tentativa de voltar ao passado autoritário e ironizou Temer ao dizer que a recusa de mulheres em assumir o cargo de secretaria executiva da Cultura mostra que elas não querem ser "fetiche decorativo". "Acredito que as mulheres não querem ser tratadas como um fetiche decorativo. Ao contrário do que alguns pensam, as mulheres têm apurado senso crítico e, por isso, são muito sensíveis a todas as tentativas de uso indevido da sua condição feminina", disse. "Tenho certeza que a razão das recusas está na qualidade da consciência de gênero que nós adquirimos durante todos esses anos de luta contra o preconceito", completou.

No fim do ano passado, já com as relações bastante estremecidas, Temer enviou uma carta à Dilma com críticas à atuação da presidente e dizendo ser tratado por ela como um "vice decorativo". Para amenizar as críticas da comunidade artística e depois de uma série de recusas de mulheres, o governo anunciou na quarta-feira como secretário Nacional de Cultura, Marcelo Calero, que assume na próxima segunda-feira.

Dilma destacou que a criação do MinC foi uma das primeiras medidas depois da conquista das eleições diretas para a Presidência da República e criticou a fusão. "Isso não foi uma coincidência. O fim da ditadura foi um período que permitiu ao País voltar a sonhar com mais liberdades", escreveu Dilma. "Isso não é apenas simbólico, mas deve refletir a prioridade que se atribui à cultura para o exercício da cidadania em nosso País", afirmou.

A presidente afastada afirmou que "não é coincidência" que essa seja a primeira medida do governo provisório. "É como se eles quisessem voltar ao passado autoritário. Uma secretaria nacional de Cultura não tem a capacidade de atender às demandas e necessidades culturais da população", afirmou.

Ao ser questionada sobre investimentos do governo a mais alinhados com a esquerda, Dilma disse que essa informação circula talvez por manipulação da grande imprensa. "As linhas de fomento e incentivo às artes, cinema, teatro, dança, são feitas sem nenhuma orientação ideológica ou política, baseada em critérios artísticos e culturais", afirmou.

Dilma também foi indagada sobre possíveis mudanças na política voltada para os pontos de cultura e atenção a cultura no interior do Brasil. A presidente afastada disse que os pontos de cultura "certamente sofrerão algum tipo de ataque ou de redução da sua importância na política cultural do governo". "Não acredito que um governo conservador, regressivo e ilegítimo, como esse que está tentando se consolidar, tenha a grandeza para compreender a importância desse conjunto de iniciativas culturais da própria população", criticou.

Por fim, Dilma respondeu sobre o tamanho do MinC no governo e disse que a sua continuidade não comprometeria "de jeito nenhum" o orçamento da União. "O orçamento do Ministério da Cultura é irrisório em termos absolutos e se a gente compara com o Orçamento Geral da União, menos de 1%", afirmou.

Dilma disse ainda que um País das dimensões do Brasil "não pode ter sua economia dependendo da exportação de commodities agrícolas e minerais". "É preciso desenvolver economias de grande valor agregado, como é o caso das economias culturais, criativas ou simbólicas", disse. "Com o apoio do Estado brasileiro, através do governo federal, estamos transformando a economia do cinema e do audiovisual em superavitária. O golpe em marcha ameaça o próximo passo desse processo, que é transformar a economia da música do Brasil no próximo setor a se tornar superavitário. Portanto, essa propalada economia com o corte do Ministério da Cultura é pura demagogia", disse. Com informações do Estadão Conteúdo.

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