© Rio2016/Andre Mourao
Cinco anos após encontrar no Norte do Brasil uma nova promessa de futuro, o haitiano Abdias Dolce recebeu novamente o calor do povo amazonense ao conduzir a chama Olímpica dos Jogos Rio 2016 pelas ruas de Manaus neste domingo (19). Ele representa pelo menos 43.781 imigrantes que conseguiram permanência para reconstruir a vida no Brasil após o terremoto que devastou o Haiti, em 2010.
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Estudante de Engenharia Química e funcionário de uma casa de câmbio na capital do Amazonas, Abdias se mudou para o Brasil motivado pela insatisfação com os rumos que a vida tomou após a tragédia em seu país natal. “Estava estudando para dar aulas para o Ensino Médio, só que não gostava e não via futuro nisso. Mas me falaram que aqui eu poderia recomeçar uma faculdade. E, no mesmo mês que cheguei, já me sentia melhor do que no Haiti. As pessoas acolheram muito bem a gente”, contou.
Logo que chegou a Manaus, ele foi acolhido pela Paróquia São Geraldo, que pertence a uma congregação que atua na área de imigração em todo o mundo. De acordo com o padre Valdecy Molinari, dez mil haitianos chegaram na cidade desde 2010. O religioso é líder do grupo de ajuda aos imigrantes e calcula que dois mil estejam na capital amazonense, enquanto os outros se espalharam pelo Brasil em busca de emprego. “Chegamos a ter 14 casas de apoio para acolher os que chegavam. Ajudamos com documentação, alimentação, língua portuguesa. Acompanhamos questões de saúde, encaminhamos para trabalhos”, explicou.
Abdias foi um dos estrangeiros acolhidos. Depois de alguns dias como hóspede dos párocos, conseguiu um emprego e começou a construir sua história na cidade. Passou por alguns trabalhos, até se firmar no atual. Hoje, como retribuição, ele ajuda a Paróquia a acolher os estrangeiros recém-chegados nos horários de folga.
A vida de Abdias ganhou mais cor com a chegada de Regenie Michel Dolce, que abandonou o curso de enfermagem no Haiti, para se juntar ao namorado. Os dois se casaram há um ano e têm um filho de oito meses, Akeen George.
Com a chegada de Regenie Michel Dolce, que abandonou o curso de enfermagem no Haiti para se juntar ao namorado, e o nascimento de Akeen George, filho do casal, Abdias iniciou uma nova fase no Brasil. O casal abriu uma loja que oferece serviços para estrangeiros, como ligações internacionais, internet e serviços de informática. “Ter deixado o Haiti foi a melhor coisa que eu poderia ter feito na minha vida. Lá, eu dependia da minha família para tudo. Aqui, consegui trabalhar, estudar e agora consigo ajudar a minha mãe e outras pessoas da família”, disse.
Apesar das saudades de casa, Abdias garante que está focado na vida no Brasil. “Termino minha faculdade este ano e pretendo conseguir um trabalho na minha área. Também gostaria de trazer a minha mãe para passar um período comigo, mas o dinheiro está curto agora”, lamentou.
Completamente adaptado, ele listou as três coisas favoritas dele no Brasil: "Música sertaneja e forró, carnaval e futebol. Torço para o Santos, Atlético Mineiro e Palmeiras".