Separada desde o início da década de 1960, a capital do Chipre é a única do mundo onde ainda é necessário fazer imigração de um lado para o outro da cidade. A distância entre os dois países (o segundo reconhecido apenas pela Turquia) é de poucos metros, mas a burocracia ainda persiste. Este ano, o fotógrafo brasileiro Raphael Lima, acompanhado do historiador Rodrigo Monteiro de Carvalho, visitou Nicosia e outras cidades da Ilha para desenvolver a segunda etapa do projeto Sociedade Dividida, que pretende visitar partes do mundo onde ainda há separação entre os povos. Em 2014, Raphael visitou a Palestina. A viagem foi retratada no livro Sociedade Dividida - 1. Terra Santa.
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Voltando ao caso cipriota, a situação se agravou logo após a independência da ilha, em 1960, e cresceu em meados da década de 1960, piorando de vez com a tentativa de golpe por militares gregos em julho de 1974, que acarretou em uma invasão turca no norte da ilha, criando o Chipre do Norte.
Uma força militar da ONU, que está no país desde 1964, hoje controla a chamada buffer zone, uma linha de terra abandonada traçada de leste a oeste da ilha. Dentro desta área está o aeroporto de Nicosia. Seu novo terminal, inaugurado em 1968, foi fechado em 1974, depois de ser bombardeado pela Turquia. Quase 42 anos depois, ele se encontra do mesmo jeito. Fechado, abandonado, como foi deixado. Ainda há marcas de balas nas paredes, cartazes de propagandas, garrafas pelo chão, além de um avião que ficou pra trás, o último a pousar em sua pista. Raphael Lima teve acesso à Buffer Zone, completamente isolada pela Força da ONU que ainda está no país.
Em 2004 foi realizada uma consulta popular sobre a reunificação da ilha, que votaria a favor ou contra de um plano realizado pelo então Secretário Geral da ONU Kofi Annan. A maioria turca do Chipre do Norte votou a favor. Sem dúvida em razão dos grandes problemas enfrentados pelo país, isolado por embargos econômicos aplicados desde a independência. A maioria grega, da parte sul da ilha, votou contra, influenciados pelo então presidente Tasso Papadopoulos, que previa uma perda de poder da República do Chipre.
Desde de o fim do ano passado as conversas entre as duas nações intensificaram-se, o que gera um mínimo de esperança para quem acredita que a ilha volte a ser um só país.
Entre outras cidades visitadas, está Pyla, uma das poucas que estão dentro da Buffer Zone, onde não é permitido fotografar.
"Da estrada, anda-se uns 5km até o checkpoint. Vê-se bandeiras turcas de uma lado, e um pouco de indiferença do outro. Não há nenhum tipo de exaltação do lado grego. Apenas a sensação de se viver num lugar que parece parado no tempo", disse Raphael.
Futuro do Projeto
O fotógrafo, criador do Sociedade Dividida, pretende agora dar continuidade aos ensaios. Paralelamente ao desenvolvimento da etapa no Chipre, Raphael pretende visitar as ex-repúblicas iugoslavas e a Irlanda do Norte.
"Já fiz viagens para Belfast (na Irlanda do Norte), Belgrado (na Sérvia), Ljubljana (na Eslovênia) e Zagreb (na Croácia). O objetivo agora é voltar nesses locais e em outras cidades destas regiões para começar o ensaio para os próximos livros, que será mais focado em histórias pessoais de personagens que ainda sofrem na pele os efeitos da separação", declarou.