© Aaron Bernstein/Reuters
Pequenos Donald Trumps balançam a cabeça no ritmo da música que sai de alto falantes no centro de Cleveland, cidade do meio-oeste americano onde o magnata deve ser confirmado nos próximos dias como o candidato republicano à Casa Branca.
PUB
Vendidos a US$ 20 cada (cerca de R$ 65), os bonecos são o maior sucesso das bancas de suvernires montadas perto da convenção do partido, que começa nesta segunda (18).
A "Trumpmania" está no ar.
"Só hoje já vendi mais de cem bonequinhos e não é nem meio-dia", entusiasma-se Jessy, dona da banca e fã assumida de Trump. "As pessoas querem mudança e ele fala a nossa língua. Trump não tem medo de dizer a verdade, por mais dolorosa que ela seja".
Além dos bonecos, as bancas tem diversas camisetas com ataques ao presidente Barack Obama e Hillary Clinton, a provável rival de Trump na eleição presidencial de novembro. "Obama, você está demitido", diz uma, repetindo o bordão consagrado pelo magnata durante as 14 temporadas em que comandou o reality show "O Aprendiz". Outra arriscava um trocadilho meio capenga para sugerir que Hillary deveria ir para a cadeia, não para a Casa Branca: "Hillary prisãodente".
A preocupação com a segurança, que já era enorme, aumentou depois do atentado da semana passada em Nice (França), que deixou 84 mortos quando um terrorista dirigiu seu caminhão contra uma multidão. Como prevenção contra algo parecido, a polícia instalou cercas de ferro em torno da Arena Quicken Loans, local do evento.
Enquanto o muro proposto por Trump na fronteira com o México ainda é só uma promessa polêmica, em Cleveland outro já está de pé, pelo menos até o fim da convenção, na quinta (21).
CALMA PREDOMINA
Apesar da expectativa de protestos violentos, em meio a confrontos entre manifestantes pró e anti-Trump, o ambiente está longe de sugerir que uma explosão se aproxima. Especialista em protestos políticos, o pesquisador Michael Heaney compareceu a todas as convenções partidárias nos EUA desde 2004 e está surpreso com a calma predominante em Cleveland.
Ele lembra que a esta altura já estavam ocorrendo tumultos em convenções anteriores. Heaney vê dois motivos para isso não estar se repetindo em Cleveland. Primeiro, porque a cidade não está numa área de grande concentração populacional, o que dilui o número de manifestantes potenciais. E segundo, porque o sentimento anti-Trump não se transformou em um movimento, afirma.
"Em outras convenções republicanas muitos dos protestos eram alimentados pelo movimento contra a guerra e ele está ausente desta vez", disse Heaney, cientista político da Universidade de Michigan. Embora não haja sinais de grandes protestos, ele prevê casos pontuais de violência, com confrontos e disparos de gás lacrimogêneo da polícia para conter os manifestantes. Pelo menos 11 mil pessoas estão se registraram para participar de protestos autorizados.
NUDEZ ANTI-TRUMP
Cem mulheres posaram nuas para Spencer Tunick, fotógrafo famoso por registrar multidões peladas (em 2013, foram 1.100 pessoas no Ibirapuera), numa propriedade próxima da convenção.
Elas seguravam discos espelhados para, segundo o site do artista, "refletir o conhecimento e a sabedoria de mulheres progressistas".Ele não cita o nome da democrata Hillary Clinton, mas deixa pouca margem para dúvidas quanto às suas inclinações políticas ao compartilhar no Facebook sátiras a Trump.
Uma delas mostra "homenagens" artísticas ao republicano, como uma boneca inflável com seu semblante e uma montagem na qual as gêmeas de "O Iluminado"ganham seu rosto.
Nas redondezas de Cleveland, um outdoor exibia pintura de Trump e o senador texano Ted Cruz, seu ex-rival nas prévias, prestes a se beijar.Ainda que o magnata tenha falado a favor de direitos LGBT (como o de transsexuais usarem o banheiro que preferir), escolheu um vice defensor da "família tradicional".
Essas, contudo, são exceções: o clima, em geral, é de "Trumpmania", como nos broches rosas com os dizeres "Hot Chicks for Trump" (gatinhas pró-Trump), vendidos a US$ 5.
Suplente na delegação texana, Ryan Richards, 26, chama a democrata de "Hitlerally" e diz que Hillary e Bill Clinton não têm esqueletos no armário, e sim "um cemitério inteiro".
Com chapéu de caubói, blusa nas cores da bandeira americana e cinto de fivela "Texas", está preocupado que seja alvo de "deliquentes" do outro partido.Se a democrata chegar no poder, ela fará o possível para proibir armas no país, diz (Hillary defende maior controle, não proibição). "O Texas não vai engolir isso. Vai ter guerra."
PONTO DE ENCONTRO
À medida em que os cerca de 50 mil visitantes esperados em Cleveland continuam a chegar, a cidade vai entrando no clima da convenção que irá coroar Donald Trump. Fora da fortaleza montada em torno da arena, o ponto de encontro é a rua de pedestres East 4, onde se concentram bares, restaurantes e estúdios improvisados de grandes redes de TV americanas.
É ali que Mark Daniels tem circulado nos últimos dias, enquanto confraterniza com celebridades da TV e vende "kipás" (solidéu judeu) com os nomes dos candidatos à Presidência, algumas em hebraico. Definindo-se como judeu não ortodoxo, mas "espiritual", Daniels disse que estudou as letras do nome de Trump a partir da numerologia da Cabala (misticismo judaico) e concluiu que o ódio que turbina a campanha do magnata se voltará contra ele.
"Ele só vencerá se perceber que esse ódio não o levará à Casa Branca", diz Daniels, se querer revelar em quem votará na eleição presidencial de novembro.
A poucos metros está Bob Kunst, 74, nativo de Miami , "pioneiro ativista LGBT" e "presidente do grupo Shalom Internacional" (pró-Israel). Kunst veste uma máscara de Hillary e segura a placa "Trump vs. Tramp [vagabunda]". Em cinco minutos, 14 pessoas pedem foto com ele. Com informações da Folhapress.