Reparos na vila levam desempregados a madrugar por bico

O valor pago por uma diária, em média, é de R$ 90

© Ricardo Moraes/Reuters

Esporte fazendo o extra 26/07/16 POR Folhapress

Maicon Aurélio da Silva, 35, caminhou pouco mais de 2 km com uma bolsa que dentro tinha alicate, chave de fenda, luvas e desencapador de fios.

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O trajeto entre sua casa e a Vila Olímpica dos Atletas da Rio-2016, na região oeste do Rio, foi feito com a esperança de trabalhar depois de mais de seis meses desempregado.

Ele acompanhou no noticiário nos dois últimos dias que ao menos metade dos prédios que já recebem os atletas que disputarão os Jogos precisam de reparos, e que há, por exemplo, fios expostos. Exatamente sua especialidade como eletricista.

"Eu vi e vim para cá esperar. Estou com o material já, quem sabe não precisam de um eletricista? Tenho duas crianças pequenas [de 3 anos e seis meses], preciso de trabalho, nem que for de um dia apenas", disse Maicon Aurélio.

Na porta da Vila na manhã desta terça, ele e ao menos outras dez pessoas buscavam trabalho depois de verem na imprensa que parte dos apartamentos da Vila dos Atletas precisa de reparos.

"Eu pinto, posso mexer com material de construção, levanto parede. Faço o que precisarem", disse Gilson Capitulino, 40. Ele contou que trabalhou por quatro meses na obra da Vila Olímpica, há um ano, mas depois foi transferido para a Transcarioca, o sistema de transporte BRT que vai deslocar boa parte dos torcedores dentro da cidade durante os Jogos, que começa dia 5.

Na frente da entrada de funcionários da Vila Olímpica, os postulantes a uma vaga estavam sob o sol, sem ter certeza se conseguiriam algo. Alguns, como Paulo Roberto Jr., procuraram antes uma empresa que presta serviço para a organização da Rio-2016.

Mas ele não ficou entre os 100 escolhidos para trabalhar nesta terça -o limite imposto pela empresa. O valor pago por uma diária, em média, é de R$ 90, segundo Capitulino.

"Mas depende da função, eu acredito. Esse valor [de R$ 90] é para serviços de limpeza", disse Maicon Aurélio, na esperança que os mais de 15 anos de experiência como eletricista pesasse por um valor maior caso fosse necessário chamá-lo.

No fim da manhã, porém, a esperança dos candidatos estava no fim. Paulo Roberto, que chegou por volta das 6h30, já queria ir embora, mas não podia porque uma das funcionárias da organização ficou com sua carteira de identidade logo cedo quando ele se apresentou. Ele teria que esperar mais um pouco até receber de volta seu RG.

"Eu já estive aqui ontem e foi a mesma coisa, só esperando. Vi no RJ [TV, da TV Globo] que os prédios não estão bons. Posso fazer qualquer coisa pra ajudar, sou ajudante geral. Se estão precisando poderiam nos chamar para entregar logo esses prédios", disse Douglas Braga, 25.

Ele pegou três ônibus para chegar de Sepetiba, onde mora, até a Vila dos Atletas. São 35 km, em trajeto que começou antes das cinco da manhã.

A mais angustiada, em alguns momentos até revoltada, era Beth. Ela não quis conversar com a reportagem, e era chamada assim pelos companheiros de espera. Com um papel na mão, com um nome de uma pessoa que havia indicado, ela esperava poder fazer a limpeza dos apartamentos. Parada em uma das divisórias metálicas que davam acesso à Vila, dizia que não arredaria pé dali quando ouviu de Capitulino que todos deveriam ir embora.

"Não vou. Pode faltar alguém em outro turno", dizia Beth, sem largar o papel com o nome de seu contato.

REFORÇOS

A organização informou que desde domingo foram contratados mais 650 funcionários, que trabalham em três turnos, para agilizar os reparos necessários nos apartamentos.

O número total de pessoas que trabalham na Vila dos Atletas, ou quantidade de empresas contratadas para fornecer esses funcionários, não é revelada.Todos os contratados, porém, precisam vir por empresas credenciadas. Com informações da Folhapress. 

LEIA TAMBÉM: Rio 2016 nega que suecos tenham abandonado a Vila Olímpica

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