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A campanha eleitoral ainda nem começou e os carros em Curitiba já estão cheios de adesivos - mas não de apoio a candidatos.
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Na cidade-sede da Operação Lava Jato, é a investigação policial que se destaca nos para-choques, acrescentando um concorrente à disputa: o ceticismo do eleitor.Enquanto a operação desmonta um enorme esquema de corrupção, políticos já estimam que o índice de abstenção na cidade, somado a votos brancos e nulos, atinja um patamar recorde de 30% -a média histórica é de 15%.
O atual prefeito, Gustavo Fruet (PDT), diz enfrentar "uma batalha perdida" na comunicação, contra um nível de criticismo do cidadão e criminalização da política "sem precedentes".
"Nada presta, ninguém serve, todo mundo é bandido; é isso que se ouve", comenta o deputado estadual Tadeu Veneri (PT), também pré-candidato à prefeitura.Na primeira pesquisa eleitoral, divulgada na semana passada pelo Ibope, os brancos e nulos chegaram a 20%. Na eleição de 2012, o índice era de 9% na mesma época.
"Aqui, o eleitor não aprova ninguém", comenta o deputado estadual Requião Filho (PMDB), outro pré-candidato, sobre os baixos índices de popularidade de presidente, governador e prefeito.
A cidade, que reuniu 200 mil pessoas nos protestos pelo impeachment em março, ainda sedia um movimento nacional pela "inelegibilidade automática", que ganhou musculatura pós-Operação Lava Jato.
O objetivo é impedir uma nova candidatura de qualquer pessoa por pelo menos dez anos, após sua eleição.
Dessa forma, a renovação das lideranças políticas seria estimulada.
O lema do Pina (Partido da Inelegibilidade Automática) é "Política não deveria ser profissão" -frase que divide espaço com os adesivos em apoio à Polícia Federal."Eu queria que Curitiba fosse mais que a masmorra do Brasil, com todo respeito ao juiz Sergio Moro", diz o pré-candidato e ex-prefeito Rafael Greca (PMN).Para ele, que disputa a liderança nas pesquisas junto com Fruet e Requião Filho (todos têm cerca de 20% das intenções de voto), a eleição será uma oportunidade para o curitibano "reconstruir sua relação com a política", com o debate de pautas locais.
FALTA DE ALTERNATIVAS
Também estão entre os pré-candidatos à prefeitura a deputada Maria Victória (PP), o deputado Ney Leprevost (PSD) e Xênia Mello (PSOL). Nenhum deles ultrapassa 5% nas pesquisas até aqui.
Na opinião do cientista político Emerson Cervi, professor da UFPR, a falta de alternativas fortes em oposição aos candidatos tradicionais, num momento de desgaste da política, ajuda a aumentar os votos brancos e nulos.
"Nenhum dos candidatos empolgou até agora", avalia Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas. Para combater o ceticismo na cidade, os candidatos apostam na campanha corpo a corpo (que ajudaria a minar a desconfiança do eleitor), no debate de temas locais e no discurso da transparência e honestidade.Quem estiver fora das investigações da Lava Jato sai em vantagem -nenhum dos pré-candidatos foi diretamente envolvido na operação até agora. Com informações da Folhapress.